Música com Arestas: Uma Discussão sobre o Experimental

Uma pausa para refletirmos sobre o que é visto como experimental e identificar as diferentes opiniões e produções sob esse rótulo

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Dizem que de louco todo mundo tem um pouco. Isso pode ser também passado para os músicos – e para os ouvintes desses. Aliás, isso é bom, a arte mudar seus paradigmas e modelos totalmente redondos é sempre algo corriqueiro na história. O normal de hoje já foi o radicalmente diferente de ontem. Porém, muitos modelos acabam sendo bem diferentes mesmo para o que se enxerga como diferente. São as tais “músicas exóticas”, “músicas com arestas”, com ritmos quebrados, inserções e rupturas que buscam novas experiências.

Diferente do que vimos no texto Novos Caminhos, neste artigo a ideia não é guiar, mas sim refletir sobre o uso do termo “Experimental” e de como são enxergados os artistas que fogem do comum e se realmente há essa fuga, se não é só uma falsa impressão.

Antes de mais nada é bom esclarecer que esse tal “exótico” não se refere à utilização de elementos tribais ou de nichos de cultura, como uma percussão de algum país africano ou um instrumento de cordas oriental. Aqui o “exótico” é aquele que foge da zona de conforto do “Pop”, por assim dizer. Daí o termo “com arestas”, pois deixa de lado o modelinho arrendondado e perfeito para se aventurar. Tais sons podem não cair muito bem para alguns ouvidos – talvez a maioria. Porém, como dito, se cada um tem um pouco de louco, quem sabe a sua “loucura” não seja a mesma do músico “louco” que compôs aquilo?

Para ilustrar é interessante dar alguns exemplos do que pode ser visto como uma certa fuga dos modelos tradicionais de composições, principalmente na questão de melodias e construções.

Um dos exemplo recai sobre o sombrio e estranho som vindo de bandas como Ritualz e SALEM que apostam em vocais distorcidos, samples vocais e uma base eletrônica fria e sinistra. A dica para se ambientar pode ficar com a banda brasileira Subburbia, que apresenta um som um pouco próximo do redondo que estamos acostumados, sem muitas excentricidades.

Além disso, como indicação para os ouvidos famintos por sons exóticos, temos artista de vanguarda, que conciliam arte plástica com música eletrônica, como Alva Noto e Ryoji Ikeda. Tais produtos são nomes fortes da Glitch Music, um estilo cheio de rupturas e desconstruções forçadamente criadas e com o intuito de romper com os paradigmas de composição musical.

Como dito, muito se generaliza “Experimental” pra dar nome ao bois do que vem a fugir do comum. Entretanto, muitas vezes esse “experimental” não foge tanto assim do que já estamos acostumados ao ouvir em modelos já conhecidos de música, como é o caso de Django Django e Grizzly Bear. É claro que para um som totalmente comercial tais bandas são pontos fora da curva. Mas ao se tratar de experimentalismo, ficam bem distante do ponto central da discussão.

Desse modo, é bem difícil dizer o que é e o que não é um música “com arestas” e experimental, onde corre sempre o risco de se rotular um batuque em garrafas de vidro ou uso de serrote – ou seja, com instrumentos fora do comum – como som experimental muitas vezes erroneamente – mesmo que às vezes seja o jeito certo. O problema é a banalização da rotulagem do “experimental” seja por falta de ideia do que denominar (vide o mesmo fenômeno que ocorre com o Rock Alternativo). E essa discussão, e as contradições parece que nunca terão fim.

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Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).