Cadê: “Rock’n’Geral”, quinto disco do Barão Vermelho (1987)

Disco de um dos conjuntos nacionais mais conhecidos da década é hoje uma raridade, sendo encontrado apenas por terceiros

Loading

Se há uma banda que precisa de reavaliação junto ao público, esta chama-se Barão Vermelho. Não é a totalidade de sua carreira que precisa de novas audições e análises, mas seu período entre 1985 e 1988, quando se viu às voltas com um grande problema: a saída de Cazuza. Quem hoje vê o Barão no palco de tributos à obra de seu ex-vocalista não imagina o quão difícil foi sobreviver naquela época.

Cazuza deixou a banda em 1985, pouco após o Rock In Rio. Não seria exagero dizer que o Barão era Cazuza, seu carisma, suas letras, sua performance no palco. Os outro integrantes, Frejat (guitarras), Dé (baixo), Maurício (teclados) e Guto (bateria), apesar de formarem uma unidade rítmica interessante, não se preocupavam muito com questões como carisma, imagem ou marketing pessoal, ítens que respondiam por, digamos 50% do approach que Cazuza possuía na época. Sendo assim, procurando escapar do ambiente limitador de uma banda, o exagerado pediu seu boné e deixou o restante da banda em maus lençóis. Ao sair do Barão, Cazuza levou consigo algumas canções que fariam parte do novo disco, cujas gravações já estavam agendadas. Uma dessas músicas era Exagerado, que foi seu primeiro hit solo em nível nacional.

Ele tinha toda a estrutura da Som Livre a seu favor, trabalhando para divulgar seu novo disco, enquanto que o Barão, também contratado da gravadora, amargaria tempos difíceis. Quando lançaram o disco, Declare Guerra em 1986, após decidir que o Frejat assumiria os vocais, os rapazes do Barão viram 30 mil cópias serem prensadas, vendidas e pouquíssimo divulgadas. Precisaram suar a camisa para levar uma turnê nacional adiante, sendo que Cazuza já engatara sua própria excursão pelo país antes da banda, causando confusão de identidades musicais em muitos lugares. Afinal, como foi dito, Cazuza era, sob muitos aspectos, o próprio Barão Vermelho.

O quarteto do Barão acabaria por ser “convidado” a deixar a Som Livre, algo que não lhes causou problemas, uma vez que estavam indignados com a situação, migrando para a Warner de André Midani e Liminha logo em seguida. Ali, com a certeza de que estavam numa gravadora que prezava o Rock nacional (a Warner contava com Ira!, Ultraje, Kid Abelha e Titãs, entre outras bandas em seu cast), os rapazes buscaram um pouco de tranquilidade. Viram que a ausência de Cazuza poderia ser um ponto a favor em nome de uma sonoridade mais pesada e diversa, algo que colocaram em prática sem cerimônia já no título do novo álbum, Rock’n’Geral. Frejat compôs as onze músicas do disco, contando com parceiros interessantes como Sérgio Serra (guitarrista do Ultraje A Rigor) em Blues Do Abandono e Me Acalmo, Me Desespero, Arnaldo Antunes no Blues estilizado Quem Me Olha Só, bem como Guto (em “Contravenção”) e Dé (em Tá Difícil de Aturar e Amor de Irmão). Frejat também se arriscou nas letras e assinou sozinho três boas canções, “Dignidade”, Copacabana e Completamente Nova, além de escolher uma cover para It’s All Over Now, de Bobby Womack, gravada pelos Rolling Stones em 1964. Com a produção de Liminha e Ezequiel Neves (o Zeca Jagger, padrinho da banda desde o início e agora dividido entre as carreiras de Cazuza e Barão), a sonoridade do novo trabalho alcançava uma dimensão que ia além de tudo que fizeram antes.

Rock’n’Geral saiu em meados de 1987 e vendeu apenas 15 mil cópias. Era a ressaca do Plano Cruzado, época em que muitas bandas viram seu número habitual de discos vendidos caírem vertiginosamente. Além disso, ainda havia problemas para o Barão conseguir chegar aos mesmos lugares em que chegava quando contava com Cazuza em suas fileiras. Parecia que, para a carreira dele acontecer, era preciso matar sua imagem à frente do Barão. Mesmo com adversidades mil, a canção Quem Me Olha Só entrou na trilha sonora nacional da nova O Outro, fazendo com que o disco tivesse uma vida útil mais longa. Dignidade também fez relativo sucesso nas rádios cariocas daquele ano estranho. O Barão persistiu, lançou outro bom disco no ano seguinte, Carnaval, cuja faixa Pense e Dance foi o tema da vilã Maria de Fátima (vivida por Glória Pires) em Vale Tudo, novela que atingiu píncaros de audiência em 1989.

Essa fase de adversidade total na carreira do Barão Vermelho só se encerraria com Na Calada da Noite, disco que eles lançaram em 1990, cuja canção O Poeta Está Vivo, homenageava Cazuza, então portador de AIDS em estágio avançado. Após esse período, a banda voltou a fazer discos sem muito interesse. Enquanto precisou reencontrar seu espaço, o Barão Vermelho mostrou força.

Rock’n’Geral foi lançado em CD no fim dos anos 90 e está fora de catálogo. Pode ser encontrado à venda em sites da internet por cerca de R$80,00.

Loading

MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.