Dez anos sem Elliott Smith

Há uma década, morria um dos maiores talentos e atormentados artistas da música contemporânea

Loading

Elliott Smith foi talvez um dos artistas mais geniais dos anos 90, porém sua trajetória em meio a tal década passou por altos e baixos, com estes pontos mais baixos ligados aos seus problemas com drogas, tentativas de se matar e a profunda depressão que sempre o perseguiu e que neste mesmo dia, há dez anos, finalmente o levou a cometer suicídio, esfaqueando a si mesmo no peito. Interrompendo uma carreira realmente brilhante.

Em sua trajetória solo, somando quase dez anos e acumulando cinco discos (mais dois álbuns ainda seriam lançados postumamente), o músico teve uma ascensão meteórica em 1997, quando compôs faixas para a trilha de Gênio Indomável (filme lançado naquele mesmo ano), chegando a concorrer ao Oscar. Mesmo que não ganhado o prêmio, isso foi o suficiente para catapultar a carreira do músico que já via seu nome ganhando força no meio underground desde o começo dos anos 90, época que ainda lançava discos com sua banda, Heatmiser.

Elliott Smith

Seu debut chegou às prateleiras em 1994 e mostrou um artista profundamente atormentado pelos seus próprios demônios, porém capaz de exorciza-los de maneira poética, em suas músicas. Algo, ao mesmo tempo, tão doloroso e tão belo, uma dualidade que só Smith conseguia botar em suas letras. Nesta primeira fase, o músico era acompanhado somente de sua guitarra e sua voz sussurrada, tudo isso capturado com uma vibe Lo-Fi e com ecos da obra de Nick Drake, marcas registradas da obra do artista.

Único, atormentado, trágico, brilhante, influente, frágil. Roman Candle era tudo isso ao mesmo tempo. Fruto de um artista perturbado, cheio de dor e confusão, a obra, assim como as demais que seriam lançadas depois, mostraria alguém profundamente sincero e disposto a compartilhar o que sentia com quem estivesse disposto a ouvi-lo.

Continuando com o que foi proposto em sua estreia, o segundo e homônimo álbum de Elliott levaria sua persona depressiva e torturada ainda mais adiante nesse caminho e trazendo também em suas letras a sua relação com as drogas. Versos como “I can’t beat myself, and I don’t want to talk, I’m taking the cure, so I can be quiet wherever I want, so leave me alone”, de Needle In The Hay, exemplificam um pouco disso e como ele tratava essa situação, se enclausurando ainda mais na bolha que criara para si.

Refinando a produção de seus álbuns e cada vez mais se afundando dentro de si mesmo, Smith continuou sua a criar sua música e finalmente conseguiu o sucesso beirando o mainstream com Either/Or (lançado em 1997). Neste mesmo ano No Name #3, Say Yes, Angeles e Miss Misery foram parar na trilha sonora de Gênio Indomável, filme de Gus Van Sant, aumentando ainda mais seu buzz.

XO, lançado no ano seguinte, seria seu maior êxito e geraria mais alguns hits, como Everybody Cares, Everybody Understands e A Question Mark. Esse disco também marcaria a mudança de direção musical de Smith, que agora se apegaria ao Power Pop e ou Barouque Pop para dar vazão as suas letras (essas, que não mudaram tanto no conteúdo existencialista que sempre deu a tônica do trabalho do músico). Figure 8 seria lançado em 2000, mas sem tanta expressividade quanto suas obras anteriores.

Os anos que se sucederiam até o dia de sua morte, foram marcados pelo abuso de drogas, suas tentativas de reabilitação, show ruins por conta do vício e tentativa de gravar mais álbum, que se tornaria From a Basement on the Hill, lançado em 2004.

Dez anos depois o artista ainda é lembrado pelo seu legado musical, com uma obra solida, porém frágil ao mesmo tempo. Uma obra corrompida pelo próprio músico, pelos seus fantasmas interiores e pelos seus vícios. Um legado digno de poucos.

Hoje, dez anos após sua trágica morte, sua música parece ter um sentido diferente, como se já em 1994, soubéssemos que um dia Smith iria terminar sua vida deste jeito. Hoje, o músico recebera homenagens de artistas como Cat Power, Zachary Cole Smith (DIIV), Sky Ferreira, Yoni Wolf (Why?), The Low Anthem, Luke Temple (Here We Go Magic), Marissa Nadler, Aaron Pfenning, Ben Bridwell (Band Of Horses) Sadie Dupuis (Speedy Ortiz), Marissa Nadler entre outros que irão mais uma vez relembrar o incrivel legado de Elliott.

Loading

ARTISTA: Elliott Smith
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts