Aquecimento: Devendra Banhart

Relembre a trajetória do músico e prepare-se para as apresentações desta semana em São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro

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Quando Devendra Banhart é anunciado em terras brasileiras, seja por conta de seus novos lançamentos, de suas parcerias ou seus shows, o espocar constante de alguns pontos em comum no histórico do artista parece explicar o tamanho de nossa afinidade com o músico: ele é Americano mas foi criado na Venezuela, se descobriu artista após o contato com o Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, o que levou, consequentemente, à sua admiração Tropicalista (a influência de Caetano Veloso, Gil e Mutantes sobre sua obra é declarada, e o rapaz chegou a marcar presença, por exemplo, no tributo ao Caetano, organizado pela Uns Produções). Além disso, é grande amigo – moraram juntos, inclusive – de um dos maiores expoentes atuais de nossa música, Rodrigo Amarante, que já participou de três de seus álbuns, além de, de quando em quando, figurar ao seu lado nos shows das turnês.

Tanta empatia latina poderá finalmente ser compartilhada ao vivo, quando o músico volta ao Brasil para as apresentações do Popload Gig em São Paulo e Porto Alegre (e agora também confirmado no Rio de Janeiro graças à plataforma do Queremos!). Embora sua primeira aparição por estas paragens tenha sido em 2006 no finado TIM Festival, dadas as circunstâncias tão diversas, podemos considerar sua nova turnê como uma ótima reestreia em palcos brasileiros. Se você quer relembrar os principais momentos de sua carreira e revisar o que te espera na apresentação, ou se comprou o ingresso mas ainda não conhece a história toda, a gente te ajuda no aquecimento!

Freak Folk

Devendra Obi Banhart, que morou com a mãe em Caracas até os 14 anos de idade, foi nomeado assim graças ao deus Indra e ao mestre Jedi (sim, ele mesmo) Obi-Wan Kenobi. A excentricidade da orientação Hindu-Geek de sua personalidade, além da convivência com a comunidade artística de Los Angeles na adolescência devem ter contribuído para que o músico viesse a se tornar um dos figurantes do New Weird America (nome dado a um cenário americano, uma tentativa de delinear o subgênero musical psicodélico de influências Folk, que conta com os nomes de CocoRosie, Ariel Pink e Joanna Newsom) e despontasse como uma das grandes personalidades expoentes do Freak Folk no início dos anos 2000.

Seus primeiros álbuns limitam-se à voz e violão (com alguns poucos elementos externos somados aos arranjos), e imprimem em sua simplicidade a clara proposta do compositor, que expõe sua personalidade e firma seu nome com o estilo. Os álbuns do 2004, Rejoicing In The Hands e Nino Rojo são os maiores exemplos dessa fase.

O álbum do ano seguinte, Cripple Crow, mais elaborado, marca claramente o fim de sua primeira fase e a transição para o próximo estágio. Influenciado também pela mudança de selo (Banhart passa a fazer parte do XL Recordings) a produção desta vez é mais robusta e a capa denuncia a busca do espírito Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band dos Beatles, somados a um The Hangman’s Beautiful Daughter da Incredible String Band.

Mudança

Apesar de Devendra Banhart nunca mudar drasticamente o seu estilo de compor, continuando firme em suas influências musicais e sua inspiração, mantendo sempre, por exemplo, o estilo de escrita em suas letras, a mudança a partir de Smokey Rolls Down Thunder Canyon é clara, fase em que o músico percebe a necessidade de se afastar dos rótulos impostos pelo Freak Folk e expandir a sua expressão artística. É nesta fase que conhece Rodrigo Amarante, que passa a contribuir em todos os seus álbuns desde então. O álbum seguinte What Will We Be, de 2009, segue a mesma linha, e é quando podemos perceber que Banhart começa também a se aproveitar melhor de seus atributos bem apessoados para, digamos, vender melhor a sua imagem de artista. .

Mala

Mala nasce após um período de retiro de três anos, em que Banhart passa a se dedicar às artes plásticas, e é o mais lo-fi e melancólico de seus trabalhos, uma continuidade da busca evolutiva do artista de abandonar suas referências e lugares-comuns anteriores, mirando, por exemplo, em influências menos prováveis como Nick Drake (sempre absorvendo as referências muito bem ao seu próprio modo). O álbum é o mais recente de sua discografia e saiu em março deste ano, por isso, é justo esperar por um show mais introspectivo em diversos momentos da noite.

Vale lembrar que Amarante também está no Brasil divulgando seu mais recente trabalho, Cavalo, e é possível que dê as caras nas apresentações. O ensaios ao lado de seu trio parecem estar rendendo, de acordo com os registros no Tumblr do rapaz. Acho que não vai ser difícil de cumprir a promessa de um lindo show para um público cativado e de coração aberto. Uma boa apresentação à todos!

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MARCADORES: Aquecimento

Autor:

é músico e escreve sobre arte