Linha do Tempo: The Flaming Lips

Não é fácil entender a discografia da banda, com tantas mudanças e acidentes de percurso, mas vale a pena acompanhá-la

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Qualquer banda com 30 anos de carreira nas costas tem muita história pra contar. Quando o assunto é The Flaming Lips, um grupo conhecido principalmente por suas excentricidades, uma das melhores maneiras de entender o que a banda foi e é seja tentando observá-la sob uma perspectiva mais linear.

Daí, fica a proposta de relembrar alguns fatos marcantes dessas três décadas de vida do conjunto liderado por Wayne Coyne, quer você seja fã ou alguém que acha que chegou a hora de conhecer a banda, ou simplesmente queira entender de onde saiu aquele show que vimos no Lollapalooza deste ano. Vamos nessa:

1983

Surgia a banda em Oklahoma City (EUA), uma cidade que enriqueceu com a indústria petrolífera em uma área predominantemente rural próxima ao centro do país, mas longe dos principais pólos culturais.

1984

Foi o ano de lançamento do primeiro e homônimo EP da banda, que trazia nos vocais Mark Coyne, irmão de Wayne. Pouco antes disso, Richard English estreava oficialmente nas baterias do grupo.

1986

Saía Hear It Is o primeiro álbum da Flaming Lips, já com Wayne Coyne como vocalista principal, após a saída de seu irmão. Em formação de trio (Mike Ivins no baixo e English ainda na batera), a banda lançaria ainda Oh, My Gawd!!! no ano seguinte e Telepathic Surgery em 1989.

1990

Sai English, entra Nathan Roberts na bateria, acompanhado de Jonathan Donahue na guitarra. Após lançar seu primeiro trabalho com o produtor David Fridmann, In a Priest Driven Ambulance (considerado o melhor dos primórdios do grupo), e quase incendiar uma casa de shows com pirotecnia no palco, veio o contrato com a Warner Bros. Records.

1992

O primeiro trabalho de Coyne e companhia na grande gravadora, Hit to Death in the Future Head precisou esperar quase um ano para chegar às prateleiras, já que usava um sample da trilha de Brazil – O Filme e demorou para os direitos cerem cedidos. Foi o último disco com aqueles dois últimos músicos que entraram na banda. Roberts saiu por diferenças artísticas e Donahue, pra se dedicar a outros projetos. Entram em cena Ronald Jones e Steven Drozd.

Pare por um momento e repare, mesmo que você ainda não tenha ouvido nenhum deles, nos títulos dos lançamentos do grupo. A excentricidade faz parte da essência do que é Flaming Lips.

1993

O hit She Don’t Use Jelly era lançado como parte do álbum Transmissions from a Satellite Heart (com Keith Cleversley na produção) e foi a faixa responsável por estourar a popularidade do conjunto, desde aparições na mídia até abrir em turnês para bandas como Red Hot Chili Peppers.

1996

A banda fez uma longa e estressante turnê para promover seu álbum Clouds Taste Metallic (1995), o que levou Ronald Jones a pedir sua demissão, alegando que havia desenvolvido transtornos, como a agorafobia – embora dizem que seu problema era na verdade o uso de drogas por parte de Drozd.

1997

Novamente como um trio, Flaming Lips resolveu apostar em uma direção ainda mais diferente de tudo o que já havia feito. Foi o que resultou no disco Zaireeka, trabalho experimental vem formado por quatro pequenos discos, novamente com David Fridmann na produção (em uma parceria que dura até hoje). Experimental era a palavra da vez, como no projeto “The Parking Lot Experiements”, em que Coyne distribuía fitas cassete em um estacionamento e instruía os motoristas a tocarem ao mesmo tempo.

1999

Quem muito experimenta acaba acertando e o gol da rodada veio com o álbum The Soft Bulletin, que rumava para harmonias e sons orquestrados com batidas sintéticas, o que resultou em comparações ao mega clássico Pet Sounds (da banda Beach Boys) e presença certa em listas de melhores álbuns daquela década. E lembra dos experimentos na forma de propagar música? Foi nesse ano que vieram os Headphone Concerts, que, como o nome sugere, dava ao público a experiência da apresentação ao vivo enquanto as pessoas miravam o palco munidas de fones de ouvido, com o som na melhor equalização para aquelas músicas.

2002

Foi quando chegou o também aclamado Yoshimi Battles the Pink Robots, que começa contando a história da personagem do título, mas logo se perde em outros devaneios sobre amor e mortalidade sob o uso de mais elementos eletrônicos do que no álbum anterior. Foi neste ano que aconteceu também uma turnê junto a Cake e Modest Mouse, a Unlimited Sunshine Tour e que o grupo assumiu de vez a eletrônica em trabalhos com a dupla The Chemical Brothers.

2003

Approaching Pavonis Mons by Balloon (Utopia Planitia), música que encerra o disco do ano anterior, rende à banda o Grammy de Melhor Performance Instrumental de Rock. Foi também neste ano que saíram dois EPs, Ego Tripping at the Gates of Hell e Fight Test.

2005

O festival Claro Q É Rock traz o show da banda ao Brasil pela primeira vez, aquele com gente vestido de bicho de pelúcia no palco e a famigerada bolha com Wayne Coyne atirada à plateia. No mesmo ano, Flaming Lips ganhava o documentário Fearless Freaks, com aparições de ex-membros e outras personalidades, como Jack White, comentando a trajetória do grupo.

2006

Com um pé fincado em temas políticos, sai At War with the Mystics, álbum mais construído na guitarra que seus antecessores. Ele levou a banda novamente aos prêmios Grammy, sendo laureada por mais uma faixa instrumental, The Wizard Turns On… The Giant Silver Flashlight and Puts on His Werewolf Moccasins, além do prêmio pela engenharia de som. Ao final do ano, o grupo ganhou ainda a honra de ver um beco em Oklahoma City ganhar seu nome.

2008

O ano ficou marcado pelo lançamento do filme Christmas on Mars, filmado entre 2001 e 2005 e dirigido e estrelado pela banda e amigos. A sinopse? O primeiro Natal em uma colônia no planeta vermelho.

2009

Em mais uma homenagem em sua terra natal, a faixa Do You Realize?? (presente em Yoshimi) foi eleita a música Rock oficial de Oklahoma – não da cidade, mas do estado todo. Saiu no mesmo ano o álbum Embryonic, com colaborações de MGMT, Karen O e do matemático Thorsten Wörmann. Foi o primeiro trabalho da Flaming Lips a entrar no Top 10 da Billboard. Foi neste ano ainda que a banda promoveu um disco de covers do icônico The Dark Side of the Moon.

2011

Com uma criatividade que nunca se perde, este foi o ano dos pequenos lançamentos para o grupo. Teve EPs em parcerias com Yoko Ono, Neon Indian, Lightning Bolt e Prefuse 73, outro EP que vinha em um pen drive dentro de um crânio cheio de doces e um que vinha dentro de um crânio humano de verdade e uma música de 24 horas, por exemplo. Isso sem contar os projetos de lançar uma música por mês.

2012

Ainda na mesma pegada de colaborações, saiu o disco The Flaming Lips and Heady Fwends, com parcerias distintas como Erykah Badu, Ke$ha, Jim James, Bon Iver, Nick Cave, Edward Sharpe & The Magnetic Zeros e Tame Impala, entre outros.

2013

Para os brasileiros, o ano ficou marcado com o show da banda no Lollapalooza Brasil, aquele em que foi apresentado o conteúdo de The Terror – disco que sairia duas semanas depois – e que deixou todo mundo confuso com a performance sombria e anti-clímax para uma noite seguida por Passion Pit e The Killers. Mas teve ainda um EP em parceria com Tame Impala, o recente Peace Sword e um disco de covers da banda The Stone Roses.

2014 em diante

O caminho que The Flaming Lips percorreu até agora é errante, mas nunca errôneo. Sabe aquela história de que tudo acaba contribuindo para alguma coisa? Quando vemos a história da banda assim, com suas causas e consequências (mudanças na formação, experimentações, sucessos e derrapadas), fica claro que a própria proposta da banda é a constante produção fora da curva. O que o futuro lhe reserva é algo que certamente veremos logo logo, já que Coyne e companhia parecem não parar nunca – para o bem da produção fonográfica do nosso tempo.

Com uma discografia tão diversa, é bem capaz que você goste muito de alguma fase ou disco e pouco ou quase nada de alguma outra. E, no fim das contas, esse envolvimento crítico que acabamos tendo com a obra do grupo é tão diferente de nossa postura com outras bandas quanto a produção da Flaming Lips é também rara.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.