Quinze Discos Ruins de Gente Boa

Bons músicos também erram e já nos deram obras que preferíamos não ter. Eis alguns exemplos

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Todos os artistas citados nesta lista já provaram seu valor através dos tempos. Não dá pra atacá-los, a não ser quando cometem deslizes como os descritos abaixo. Se bem que, mesmo em alguns casos, os discos ruins são necessários pra quebrar certas normas de enquadramento impostas por gravadoras, circunstâncias históricas ou mesmo para desafiar a lógica das vendas. Alguns álbuns desta lista são tentativas de expansão criativa que fracassaram miseravelmente. Outras são provas de acomodação ou mesmo mero cumprimento de contratos. De qualquer forma, é possível sentir falta de alguns “fracassos” dessa relação.

David Bowie – Never Let Me Down (1987)

O Cameleão, o mestre, o sujeito capaz de se reinventar. Bowie sempre foi tudo isso e muito mais, só não estava exatamente inspirado no meio da década de 1980. Mesmo que abra com uma canção legal, Day In Day Out e tenha outra bela música, Absolute Beginners, este álbum naufraga nos arranjos, na safra ruim de composições e no clima cafona daqueles tempos.

Neil Young – Landing On Water (1986)

O véio teve uma década de 1980 tão estranha que chegou a ser processado pela Geffen Records por gravar discos que não pareciam seus. De fato, Young fez álbuns eletrônicos, de proto-Heavy Metal, de Folk, de Country e este, de… New Wave. Não funcionou na época e permanece indefensável.

The Clash – Cut The Crap (1985)

A banda acabou em 1983, após o lançamento de Combat Rock, em 1982. Mesmo assim, em 1985, houve esta pequena aberração, chamada Cut The Crap, apresentando uma versão perneta da banda, sem o grande Mick Jones, que foi substituído por três desconhecidos: Nick Sheppard, Pete Howard, and Vince White. O resultado é lamentável.

Bob Dylan – Under The Red Sky (1990)

Dylan tem vários discos odiados pela imprensa musical, sobretudo nos anos 80. É injusto e fruto de má interpretação colocar qualquer um desses álbuns sem ter em mente que Under The Red Sky é, sem sombra de dúvidas, seu pior trabalho. Tudo dá errado por aqui, desde a produção equivocada de Don Was, passando por músicas horríveis como Wiggle Wiggle e participações de gente como Slash. Evite.

Morrissey – Kill Uncle (1991)

As pessoas tendem a glorificar Morrissey num altar de genialidade e integridade, mas esquecem que ele tem grandes e pequenos pecados em sua carreira. Aqui está o pior deles, Kill Uncle, cheio de canções frouxas como Our Frank. No ano seguinte, no entanto, Morrissey lançaria seu melhor disco até hoje, Your Arsenal.

REM – Around The Sun (2004)

REM é uma banda acima de qualquer suspeita. A única mancha em seu extenso e brilhante currículo é este trabalho de 2004, quando o trio já não tinha muito a dizer. Canções como Leaving New York ainda se salvam, mas coisas como The Outsiders, com direito a rap de Q-Tip, são bola foríssima.

The Rolling Stones – Dirty Work (1986)

Estagnação. Esta é a palavra certa para definir Dirty Work. A melhor canção deste disco é uma regravação de um sucesso dos anos 60, Harlem Shuffle, tamanha a falta de inspiração nas composições de Mick Jagger e Keith Richards. Além disso, brigas e picuínhas internas, egos inflados e um monte de assuntos extra-campo fazem de Dirty Work o pior disco dos Stones.

Paralamas do Sucesso – Big Bang (1989)

Melhor banda brasileira dos anos 80 – e além -, Paralamas chegava ao fim da década sem inspiração. Após direcionar suas baterias para a conexão África-Caribe-Inglaterra-Brasil em Selvagem? (1986), D (1987) e Bora Bora (1988), a inspiração parecia escassa. Mesmo com canções legais, como Pólvora e Perplexo, Big Bang tem uns arranjos que aproximam a sonoridade enxuta do trio da Axé Music que se fazia na época. De quebra, uma das canções mais irritantes da carreira da banda, Lanterna dos Afogados. Não dá.

Queen – Hot Space (1982)

O máximo em listas de discos ruins, Hot Space é, de fato, uma obra que não deixa outra escolha ao crítico a não ser a esculhambação sem qualquer pudor. Desde a imperdoável Body Language à canastríssima balada Las Palabras de Amor. Há, no entanto, um hit capaz de fazer bonito em todas as relações de melhores canções da década de 1980, Under Pressure, uma parceria imaculada com David Bowie.

Rita Lee – Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar (2001)

A carreira solo de Rita Lee foi interessante até o fim dos anos 80, mais precisamente até Flerte Fatal, de 1987. Não dá pra salvar praticamente nada do que ela fez depois disso, mas o fundo do poço total veio com este disco, que pretende ser um álbum de covers dos Beatles em ritmo de Bossa Nova e algumas temerárias letras em português. A abertura com a versão de Hard Day’s Night imersa num groove de branco, com direito a cuícas, dá o aviso de “evite”.

Titãs – As Dez Mais (1999)

Aqui está Titãs cumprindo tabela para a Warner. Desde 1994 que a banda vinha com zero de criatividade, após o lançamento de seu acústico, passando pela continuação em estúdio (Volume 2), para chegar ao ápice do deserto de possibilidades, ou seja, um disco de covers sem qualquer noção. De Gostava Tanto de Você (Tim Maia) a Pelados Em Santos (Mamonas Assassinas), só Querem Acabar Comigo, pérola obscura do Rei, se salva.

Os Mutantes – Fool Metal Jack (2013)

Qualquer banda que se chamar Mutantes sem a presença de Arnaldo Baptista ou Rita Lee é passível de desconfiança. Se não for a formação progressiva dos anos 70, então, nem se fala. A versão pálida e caricata que Sérgio Dias Baptista ergueu após o reencontro com Arnaldo em Live At Barbican (2004) é imperdoável. Gringos consumidores de qualquer produto minimamente ligado à Tropicália, no entanto, gostam e replicam opinião de que vale à pena. Não, não vale.

The Beatles – For Sale (1964)

Se é pra pegar um disco do Fab 4 que não signifique nada em termos de inovação, relevância ou genialidade, que seja For Sale. O mérito vai para a bela capa, a primeira em que os Beatles aparecem sem sorrir, e para canções inegavelmente boas como Eight Days A Week ou I’ll Follow The Sun.

Blur – Think Tank (2004)

O disco que mostrou ao mundo que Blur já não tinha mais lenha pra queimar, que Graham Coxon queria mais liberdade, que Damon Albarn estava mais interessado em Gorillaz. É um disco preguiçoso, mesmo que tente modernizar e eletronizar o som clássico do quarteto. Bola fora.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.