Os Tesouros de Neil Young

Redescubra um pouco mais dos registros ao vivo do cantor que marcam pela excelência e primor, fato que perdura por sua carreira inteira

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Neil Percival Young tem honoráveis 45 anos de carreira solo. Se levarmos em conta sua passagem pelo Buffalo Springfield, no qual esteve entre 1966 e 1968, o número sobe para 47. É daquele tipo de artista/ícone/persona, que transcendeu o âmbito da música, que nunca escondeu (ou soube disfarçar) o que sentia a ponto de não interferir em sua arte. Além disso, passou por tantas mutações ao longo deste tempo, que chegou a ser processado por não se parecer consigo mesmo. Se pensarmos com mais isenção, 45 (ou 47) anos é tempo demais para permanecer imutável, imune às situações que a vida propõe a cada dia.

Com tanto tempo de carreira, Neil Young tem 52 discos, se contarmos os trabalhos com o trio Crosby, Stills And Nash, com o Buffalo Springfield e mais álbuns ao vivo e coletâneas, principalmente Decade, LP triplo lançado em 1977. Se há um número tão expressivo de registros, obviamente há enormes quantidades de material não lançado, arquivado e pegando poeira em algum baú metafórico. Há tempos que Neil Young vem dizendo que lançaria todos os seus registros musicais em gigantescos boxes de CD’s e DVD’s, não deixando absolutamente nada de fora. Hoje, 10 de dezembro de 2013, sete anos após o primeiro lançamento da série Archives, mais um ítem com status de documento histórico chega aos fãs: Live At Cellar Door, de 1970. Para comemorar esse lançamento, preparamos uma pequena radiografia dos discos lançados até agora, para você se inteirar e iniciar sua incursão nos baús de Neil Young.

Live at the Fillmore East (1970)

Lançado em novembro de 2006, trazia a íntegra de um show dado em março de 1970, por Young e o Crazy Horse, sua mais querida e eficiente banda de apoio. Eles estavam divulgando o segundo disco da carreira solo, Everybody Knows This Is Nowhere, lançado no fim do ano anterior. Com a presença do grande guitarrista Danny Whitten – que morreria dois anos depois – o poderio de fogo do Crazy Horse aparece ao longo dos 42 minutos de duração, com destaque em Come On Baby Let’s Go Downtown, Down By The River e em Everybody Knows This Is Nowhere, que troveja logo na abertura do disco.

Live at Massey Hall (1971)

Trazendo uma apresentação solo de Young no Massey Hall, em Toronto, o segundo volume da série mostrava-se bem diferente do primeiro lançamento. Revelando bem como era a atmosfera que reinava por perto do surgimento do terceiro disco dele, After The Gold Rush, acústico, plácido, belo e misterioso, o show traz a mesma ambiência, com o grande ganho de documentar cada suspiro dos presentes. Neil já abre os trabalhos com uma versão linda de On The Way Home, dos tempos de Buffalo Springfield, para depois emendar na cortante e belíssima Tell Me Why, faixa de abertura de After The Gold Rush. Sempre imerso num oceano de registros acústicos, é palpável a energia presente neste show.

Sugar Mountain: Live at Canterbury House (1968)

Uma compilação de melhores momentos de duas apresentações feitas em 9 e 10 de novembro de 1968, apenas com Neil Young e seu violão no Canterbury House em Ann Harbor, Michigan. É o segundo show totalmente acústico lançado na série Archives, mas totalmente diferente de Live At Massey Hall. Aqui há uma proximidade enorme com o Buffalo Springfield, seja no repertório, na espontaneidade Folk ou no impressionante bom humor de Young, que entremeia o desfile de canções belas com histórias e causos mil. Em dois dias, sairia o primeiro e homônimo disco solo de Neil, que antecipa a maravilhosa The Old Laughing Lady, além de revisitar canções singelas, como Sugar Mountain e jogar nova luz em Nowadays Clancy Can Even Sing, Mr. Soul, The Loner e Broken Arrow.

Neil Young Archives, Vol. I (1963-1972)

O primeiro grande lançamento da série, um box com oito discos, trazendo a íntegra de seus quatro primeiros discos (Neil Young, Everybody Knows This Is Nowhere, After the Gold Rush e Harvest) mais os registros ao vivo no Fillmore East e no Massey Hall, além de grande número de demos e sobras de estúdio. Há gravações raríssimas com Squires, primeiro grupo do qual Young fez parte, ainda no Canadá. O grande problema com esta caixa está no fato de ainda não ter havido uma sequência para tamanho nível de detalhe, uma vez que há a nítida intenção de aumento dos registros raros através de lançamentos que não vieram até agora.

Dreamin’ Man Live (1992)

Esta é uma compilação da turnê de lançamento do belo Harvest Moon, disco que marcou uma reaproximação estética entre Young e o Country mais sutil. Com as mesmas canções que estão no disco que seria lançado no mesmo ano, Dreamin’ Man mostra essa aproximação com o estilo de maneira bem evidente, em canções que estão naturalmente na fronteira entre ele e o Rock ou o Folk como Harvest Moon, por exemplo ou From Hank To Hendrix. Mesmo que seja melhor que o Unplugged MTV, lançado por Neil em 1993, este disco talvez seja o menos interessante de todos os lançados até agora.

A Treasure (1985)

Uma rara foto do período Country de Neil Young, vivido logo após ele deixar de lado a eletrônica de Trans (1982) e o Rockabilly de Everybody’s Rockin’ (1983). Com uma banda montada para a ocasião, International Harvesters, Neil Young caiu na estrada com um repertório maravilhoso e gravaria um disco em 1985, Old Ways, mas este registro ao vivo é muito mais interessante. Com canções de seu disco “Heavy Metal” de 1981, Re Ac Tor (“Southern Pacific” e “Motor City”) devidamente transformadas em trilha sonora de festas no celeiro, além de velhos cavalos de batalha do Buffalo Springfield (Flying On The Ground Is Wrong), Treasure faz jus ao nome que recebeu. Além disso, uma canção totalmente inédita, Amber Jean, coroa a beleza do disco.

Live at the Cellar Door (1970)

O mais novo ítem da série Archives documenta o momento imediatamente anterior a Live At Massey Hall, ou seja, um intervalo entre a explosão sonora do Crazy Horse e a placidez que viria a seguir. Com repertório pinçado de seis apresentações feitas no Cellar Door, pequena boate de Washington D.C, o clima é tranquilo, mas menos contemplativo que o período que viria a seguir. Há faixas raras presentes, como a versão ao vivo – e no piano – de Cinnamon Girl, além de versões emocionantes de Tell Me Why e Only Love Can Break Your Heart, além da primeira apresentação de um grande sucesso de Old Man, de seu disco Harvest, de 1972. A precisão do recorte histórico mostra a grande diferença de climas e atmosferas que permeia a obra de Neil Young, que, no início de 1970, estava às voltas com as tempestades guitarreiras do Crazy Horse e, meses depois, se embrenhava na sutileza total do Folk mais acústico.

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ARTISTA: Neil Young
MARCADORES: Redescubra

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.