Uma câmera. Uma grande atração. Um espaço desconhecido. Pouquíssimos convidados. Esta é a formula do Boiler Room, projeto que nasceu há quatro anos e já carrega consigo marcas famosas (como financiamento do Google e parceria com Red Bull) e principalmente, muita credibilidade no meio eletrônico. O projeto, assim como os maiores eventos (e por que não dizer bandas e duos?), nasceu como brincadeira quando alguns amigos se juntaram para gravar uma mixtape em stream em uma pequena casa em Hackney, Londres, para a revista Platform. O que os djs Tristian Richards e Blaise Belleville não imaginavam é que a proposta iria ser amplamente comentada, aprovada e desejada em pouco tempo.
O Boiler Room veio com a ideia de trazer o aconchego daquele apartamento apertado de um amigo, com poucas e boas companhias, aquela bebida acessível na geladeira e aquele conhecido nas pick ups. O que faz a diferença é que esse conhecido pode ser de Chromeo a Thom Yorke, de James Blake a Modeselektor, de Flying Lotus a Carl Cox.
Com a força da internet e de plataformas que dão completo apoio à ideia (como o Youtube, onde os vídeos são upados, e até o Facebook para comportar a divulgação), o projeto serve como base de credibilidade – e até trofeu – dos maiores produtores mundiais e a marca já sai de Londres para ir à busca de novos e (também) desconhecidos talentos pelo mundo como Nova York, Chicago, Berlin, Ibiza, Tóquio, Madrid e como aconteceu no final de 2013, no Brasil. Mas não são só os artistas que almejam chegar ali. Estar entre os poucos nomes na lista para o “encontro secreto” é uma luta que depois se expande para quem consegue um espaço na filmagem. E foi exatamente isto que trouxe a identidade ao Boiler Room: a câmera.
Nosso imaginário em relação aos renomados artistas ainda perambula naquele pedestal do palco em que ele interage frente a seu público. Aqui no Boiler Room, o produtor fica de costas pros outros e por mais bizarro (e genial) que pareça, de frente para uma câmera. Ou seja, o real público ali está do outro lado do monitor, e são milhares de pessoas que podem sentir um pouco mais do teor de intimidade – e aconchego – que o projeto oferece. É tudo muito pautado no conforto, os sets dos artistas são completamente livres, sem compromisso com suas produções autorais. O evento se tornou uma ode à música de qualidade, à descoberta de novos timbres e à experimentação do que nunca se ouviu antes.
Mas engana quem não soma a esse sucesso algumas pitadas de voyeurismo. Estar entre os 1,1 milhão de espectadores denota o que está por trás de ser fã da música eletrônica e permite que nós entremos, mesmo que pelas beiradas, na cabeça e nas influências de cada ídolo. E nos bastidores, o Boiler Room saiu de uma brincadeira para ser uma vitrine do que se pretende ser Pop ou Underground, criando uma oportunidade de marketing para artistas em potencial. Isso tudo sem a pressão de grandes investimentos (como em festivais) ou a psicológica, de tocar para milhares de pessoas. Então por um lado, encontraram uma forma rentável de abrir uma empresa com uma solução para a indústria quadrada da música. Afinal, foi baseando-se nisso que a divisão de música do Youtube firmou uma parceria com os organizadores do projeto que hoje chega a ganhar mais de 20 mil inscritos por mês.
Boiler Room vem como uma cultura de consumo de música em seu estado cru, para apreciação, percepção e admiração. Os convites de grandes artistas são aceitos justamente por não haver nenhum protocolo, ideia fortemente implementada na Europa e onde mora o próximo desafio do projeto: se deslocar até os Estados Unidos. A meta/obstáculo é entender o público que está acostumado com o apoio comercial do rádio/indústria para poder determinar a próxima vitrine do mundo. E se depender de Bellville e sua equipe, isso deve acontecer em breve.