Young Fathers e sua Vanguarda Sonora

Da mistura entre o ocidente e oriente, desponta uma das grandes bandas a serem vistas em 2014

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“Camadas e camadas de baixo, como óleo sobre a água e areia. Coquetéis molotov de baixo inflamável em garrafas de ritmo. E as palavras? Todas as palavras. Você nos entende”. Essa é a definição que Alloysious Massaquoi, um dos vocalistas do grupo multietnico Young Fathers costuma utilizar quando questionado com a famosa pergunta: “ Como você poderia definir o seu som?”. Tão abstrata quanto a questão, a resposta é na verdade uma analogia para o que escutamos nestes escoceses: um turbilhão de influências misturadas de forma frenética e dançante.

Definir sua música como Hip Hop ou Rap me parece muito pouco dado a origem destes músicos. Um pouco de Libéria, Nigéria e subúrbio, de Glasgow, na Escócia são elementos étnicos distintos que culminam em um som que consegue ser autoral, coletivo e Pop na medida certa. A vanguarda foi percebida em pouco mais de dois EPs, Tape One e Tape Two, lançados entre 2011 e 2013. O primeiro, relançado no início do ano passado para alcançar um público mais amplo, mostrava a tendência de escuridão aliada à Eletrônica que viria a aparecer em nomes como Jeremiah Jae, no entanto, com o tribalismo percussivo que se tornou a característica central do projeto.

A troca de vozes entre Alloysious Massaquoi, Kayus Bankole e ‘G’ Hastings, vocalistas com histórias familiares amplas – mas com o mesmo cerne, a imigração -, é fundamental e central no projeto. Sem ancestrais diretos nos tempos atuais, poderíamos considerá-lo um hibrido entre Asian Dub Foundation e De La Soul, grupos que sempre procuraram fazer um som plural e aberto para influências externas. O baixo expressado na frase de Massaquoi aparece Rrramada, faixa de seu trabalho inicial. A bateria dançante e regionalista da ÁAfrica abre as portas para versos que parecem poesia, enquanto esperamos que algo surja no horizonte. O baixo ao fundo começa a crescer e, com ele, a atenção que damos à música. Romance é o puro Reggae com raízes da base do Dub mas mesmo assim soa distino, desconhecido.

Compreender que a música mundial ainda se expressa nas mais variadas formas é principal lição ao escutar Young Fathers. Nos surpreendemos por instrumentos, bases e ideías que não estão normalmente ao nosso alcance e que agora, sob uma aúrea Pop, se materializam neste coletivo. No entanto, nos referimos até agora para o primeiro trabalho do grupo. Tape Two, nos parece, logo de cara, muito mais maduro. O tempo e exposição entre as obras parece ter impulsionado ainda mais o trio para a característica que mais chamou a atenção dos críticos: as belas melodias que saem desta mistura. I Heard, por exemplo, é maravilhosa, swingada, na medida certa para dançar com alguém. O som reflete bem o blend que sai dessa batida com toques árabes, africanos e ocidentais.

As baladas foram se revelando grandes aquisições para o trio. O domínio da capacidade de cantar de cada um, misturada a ótimas batidas que transitam entre a ferocidade e a melancolia, podem ser vistas em outro single do grupo, Way Down In The Hole. O Rap traz os integrantes ainda mais perto do público com letras que abordam desde conflitos sociais até o ato sexual. Logo, quando o primeiro disco do grupo foi anunciado, uma grande expectativa surgiu: o que poderíamos esperar destes talentosos músicos?

DEAD, com três singles lançados até o momento, já desponta como um dos melhores discos de Hip Hop/Pop – ou de música em geral, dada a dificuldade de classificá-los em um gênero. Todas as faixas tem títulos em caixa alta para chamar ainda mais atenção, como se o som já não fosse suficiente. LOW brinca com os melhores elementos do trio e traz uma roupagem moderna à música regional, WAR tem um Rap nervoso, assustador e com forte urbanismo por trás, enquanto GET UP é uma balada com toques de Rock. Todas as faixas mexem de alguma forma com o ouvinte, devido ao regionalismo atrelado ao som, que parece nos fazer lembrar a nossa origem pessoal.

Em 2011, notávamos algo distinto no som plural do Young Fathers. Posteriormente, pudemos ver a vanguarda que o trabalho inicial do grupo trouxe ao Hip Hop com seus ares mais pesados e obscuros. O segundo EP demonstrou que o forte, além de camadas e mais camadas de baixo e ritmo, era as melodias. Com DEAD sendo lançado em breve, poderemos sem dúvidas constatar a importância entre a conexão Nigéria, Libéria e Escócia na música atual. 2014 parece, mais uma vez, ser um ano ótimo para o Hip Hop – e eu, particularmente, não tenho do que reclamar.

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ARTISTA: Young Fathers

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.