Redescobrindo A Delicadeza De Karen O Em “It’s Blitz”

Terceiro disco do Yeah Yeah Yeahs parece imune ao tempo e se renova em meio a novos contextos

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Yeah Yeah Yeahs – It’s Blitz

2013 (sim, treze) foi o ano da minha redescoberta de Yeah Yeah Yeahs, mais especificamente, do álbum It’s Blitz, talvez o que eu mais tenha ouvido do começo ao fim e o meu preferido deles.

Karen 0 e sua banda sempre foram para mim um grande exemplo de banda levemente acima da média, nada que faziam me parecia racionalmente digno de exaltação. Mesmo assim, seus hits me pareceram sempre ter resistido ao tempo muito mais do que outros da mesma época.

Eu tenho também uma relação muito engraçada com alguns discos e músicas. Muitas vezes, ouço algo inúmeras vezes, mas somente consigo enxergar uma beleza diferente naquilo, quando encontro as músicas em contextos novos, diferentes do que eu havia imaginado.

No caso de It’s Blitz, a novidade contextual aconteceu com duas faixas diferentes, em dois vídeos diferentes. A primeira foi Skeletons, que nunca havia chamado tanto a minha atenção, mas ao ouvi-la no trailer de Her, novo filme de Spike Jonze com trilha curada pelo Arcade Fire, percebi um potencial para emocionar como poucas, a faixa tem um crescente que empolga e é impossível não sentir algo.

Ao mesmo tempo, comecei a reparar mais na voz de Karen O, algo que havia me decepcionado quando a vi ao vivo no SXSW do ano passado, mas que me pareceu delicada e afinada na medida certa para não parecer artificial como a maioria do Pop comercial que ouvimos no rádio atualmente.

Pouco tempo depois, me deparei com um belo comercial da Calvin Klein, dirigido por David Fincher (Clube da Luta, A Rede Social, Os Homens Que Não Amavam As Mulheres) e estrelado por Rooney Mara (A Rede Social, Os Homens Que Não Amavam As Mulheres). A faixa que embala a propaganda é a bela Runaways, que já me agradava, mas passei a perceber uma delicadeza e uma sinceridade no vocal de Karen O que nunca havia me tocado desta forma, já que ficava escondido em meio à influência do Noise em seu trabalho.

A partir daí, não teve volta. O disco, que já era meu preferido da banda, não saiu dos meus ouvidos por muitas semanas e até hoje continua uma daquelas opções boas para toda hora, quando não sabemos o que ouvir. Sejam as novas descobertas ou as antigas preferidas como Zero, com toda a sua urgência, Heads Will Roll, a mais dançante, ou os riffs de guitarra de Dull Life e todo os seus ganchos que resgatam o melhor do Rock.

Percebi uma sofisticação nas músicas, mesmo que embaladas por guitarras barulhentes – característica da banda que foi se perdendo com o tempo – a produção impecável e a maneira com que encaixaram a voz de Karen em meio à melodia, sempre se sobressaindo. Tudo isso me parece muito imune ao tempo e será um disco que me pegarei ouvindo e recomendando sem parar.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.