Stephen Malkmus Ainda É Relevante na Música Atual?

Fundador do Pavement segue à frente de The Jicks e nos leva à reflexão

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Já chegamos ao ponto em que a carreira solo/com the Jicks, de Stephen Malkmus se tornou maior que a do grupo que ajudou a fundar, Pavement, uma das bandas mais importantes do Rock Alternativo dos anos 1990, o que nos leva a questionar: será que o guitarrista e vocalista ainda continua relevante na música atual? Considerado um dos maiores letristas do gênero por nomes como Thurston Moore (ex-Sonic Youth), Malkmus lançou recentemente o seu mais novo trabalho em conjunto com sua banda de apoio, The Jicks, um disco repleto de belas faixas que nos fazem relembrar os bons tempos do Indie Rock.

Wig Out at Jagbags é repleto de ótimas melodias e vida, saindo do atual estado homogêneo do gênero para criar um álbum com muita identidade. No auge de seus 47 anos, o guitarrista parece não conseguir parar de tocar, o que muitas vezes pode ser um problema. “Saber parar”, argumento amplamente utilizado nas mais diversas esferas, parece não coincidir com Malkmus, que caminha no rumo certo ao simplesmente “saber continuar”. Se nos questionamos se o músico ainda é relevante atualmente, logo todo o seu trabalho anterior não se mostra importante para a nossa análise e nos resumimos somente à máxima: “Você é tão bom quanto o seu último trabalho”. Por isso iremos nos concentrar em sua mais recente criação em detrimento de todo o resto.

Lançado no início do ano, o disco parece ter se perdido em meio à enxurrada de lançamentos e o caos que um novo ciclo anual ocasiona, entretanto uma simples audição de Wig Out se mostra eficaz e agrada logo de cara a qualquer leitor do Monkeybuzz. A cadência de faixas mais românticas com o costumeiro gosto por distorções são envolvidas em camadas e texturas de melodias e letras extremamente bem feitas, algo que só um expert do Indie Rock poderia criar. Ele é o pai e inspirador para muitos jovens atuais, ou pelo menos deveria ser, dado que a posterior geração dos anos 2000, aos poucos, se concentrará em nomes como The Strokes e Arctic Monkeys, reflexos de outras influências e modos de composição.

Curiosamente, à frente de Pavement, Malkmus muitas vezes criava a letra de suas canções de forma posterior a toda orquestração sonora. Ele “encaixava” melodias sinceras que retratavam uma geração que procurava se expressar através da música. Por isso que seu mais recente disco, primeiramente, chama atenção pelo o som. Após alguns momentos de vício em faixas como J Smooth ou Houston’s Hades, em que somos contagiados por riffs, composições em saxofones ou simplesmente um ritmo cativante, vamos atrás das letras, o que mostra-se um bem-vindo bônus sonoro. Pegue, por exemplo, a primeira música citada, nela temos um dos momentos mais sublimes de toda a obra, em que sua construção romântica nos leva à comunhão de belos pensamentos. O surgimento do instrumento de sopro dá a intensidade necessária para uma música que se mostra melancólica, no entanto. “I Can’t afford to want you/Still I can’t avoid your blame” são versos que ficam grudados na cabeça a partir de uma sabedoria que só a idade e experiência podem trazer.

Assim como outros grupos que ainda preferem compor a partir do analógico, como Foo Fighters, The Jicks dá o suporte orgânico necessário para que o aspecto dos 1990 permaneça transparente aqui. Só não podemos considerar as inspirações do trabalho na nova década da moda, pois a música aqui é um reflexo de quem a viveu e não o inverso. Rumble at the Rainbo poderia estar nos discos de início de carreira do Weezer enquanto o épico Rock Clássico de Chartjunk está de acordo com bandas que estão bebendo de tais inspirações, como The Men.

Se por acaso você se deparar com um disco em que pular músicas é a exceção e não regra, temos um bom sinal. E isso ocorre do começo ao fim de Wig Out. É como reencontrar um velho amigo que não víamos a muito tempo e que trouxe novas historias para nos contar, expressões da identidade de Stephen como o mesmo afirma no final do refrão de Independence Street: “I don’t have stomach for your brandy/I can hardly sip your tea/I don’t have the teeth left for your candy/I’m just busy being me”. Justamente por se manter ocupado sendo ele mesmo, o guitarrista ainda se mostra relevante nos dias atuais e mesmo cada vez mais distante de sua banda fundadora, demonstra que a fase solo é uma grande continuação de tudo o que fora criado e consolidado no início de sua carreira.

Muitas vezes, a existência de uma referência serve de inspiração para os demais, mas, longe de ser uma figura estática que vive do passado, Stephen Malkmus ainda cria obras maravilhosas como Wig Out at Jagbags com faixas memoráveis. Escute por exemplo, Lariat e tente não se prender ao botão de repeat ao longo do dia. Distante da figura redundante de um totem, o guitarrista é ativo em sua produção e realiza concertos explosivos, cheios de vida e histórias de alguém que teve participação importante na música dos anos 1990. Agora, mais do que nunca, quando a década está na pauta em diversas criações musicais atuais, a figura de um representante daquele tempo, que ainda realiza um trabalho exemplar, mostra que sua durabilidade ou relevância no meio artístico está longe de terminar.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.