Primavera Sound 2014 – 28 de Maio

Primeiro dia do festival foi marcado por muita chuva, Psicodelia e música Eletrônica

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O primeiro dia do Primavera Sound em sua localização “fixa”, o Parc Del Fòrum, espaço gigantesco com centros de convenções destinados às nações, foi conturbado e marcado pelo constante acaso que estamos sujeitos em eventos ao ar livre. Ao longo do dia, nas localizações externas do festival, pequenos pocket shows dos brasileiros Móveis Coloniais de Acaju, Single Parents e Black Drawing Chalks mostravam o nosso cartão de visitas à cidade.

Enquanto isso o tempo nublado, meio frio e com uma garoa fina que não pertence normalmente a Barcelona, segundo os catalães, distinguia-se dos cartazes coloridos que promovem o festival por toda cidade. Era claramente um leve indicio do que viria a se seguir pelo resto do dia, gratuito e diminuto do Primavera – somente o palco ATP estava sendo utilizado e a infraestrutura estava aberta somente até a praça de alimentação, mas a noção de que onze palcos estarão espalhados pelos dias pagos do festival assustava e impressionava quem já foi em um Lollapalooza imenso em 2014.

As grandes expectativas do dia se resumiam as apresentações de Temples, Stromae e Holy Ghost!, donos de discos muito bem avaliados por nós e com um astro europeu no meio de tudo. Antes de tudo, o concerto do divertido grupo argentino El Mató un Policia Motorizado, agitava o público que se encolhia em guardas chuvas e capas, se espremendo e torcendo para que o tempo abrisse.

Temples

Dono de um dos álbuns mais comentados neste ano, o grupo britânico possui uma obra precisa na Psicodelia proposta, um híbrido de alguns dos nomes mais interessantes da cena, como Foxygen, Tame Impala e MGMT. No entanto, ao meu ver, apesar das boas músicas, algo faltava. O grupo estava habituado com o tempo nublado (“me sinto em casa”, diria o vocalista James Edward no meio do concerto) e fez do seu trabalho de estreia, Sun Structures, um belo chamariz para que as pessoas viessem ao seu show e se surpreendessem com a intensidade e o peso que o seu som tem ao vivo. Faixas se transformam e o resultado final é muito mais expressivo e interessante, transformando a sua Psicodelia em um Stoner Rock misturado aos bons tempos dos riffs de Wolfmother. A banda estava com Boogarins , que abriu alguns de seus shows nos EUA em 2014, no público e como se o tempo estivesse no controle da banda. A chuva sinalizou parar com um leve Sol no horizonte em Keep in the Dark para depois, justamente na faixa final, o esperado hit Shelter Song descarregar toda a chuva que estava guardada com rajadas fortes com vento e gotas grossas que a maioria do nosso país não viu muito em 2014.

Stromae

As águas de maio quase fecharam o Primavera, atrasando o próximo show com constantes retiradas de instrumentos e verificação da equipe de apoio para saber se o concerto poderia ser realizado. No entanto, o público chegava ao palco apesar do tempo nada favorável para ver um músico que englobava todos os europeus e estrangeiros ali – muito francês era falado por belgas e franceses no local, misturando-se ao resto do caldeirão latino composto por espanhóis, italianos e catalães. A verdade é que Stromae é um fenômeno na Europa por justamente saber misturar todas as influências musicais que partem da música latina, africana e o Hip Hop, por exemplo, criando hits que são facilmente assimiláveis. Mais do que isso, seu trabalho de produção eletrônica é compensado com uma banda de apoio que toca os seus instrumentos de forma analógica.

Showman, ele parava e dialogava com o público, trocava de roupa e encenava de forma bastante artística todas as suas faixas. Alto e esguio, algo que certamente poderia transformá-lo em uma pessoa desengonçada, o tornava dançarino com seus passos de dança à la Michael Jackson. Chamou o público para por as mãos no alto em Peace or Violence, transformou o local em uma rave em Alors on Danse e Tout les Mêmes, fênomeno que continou ao longo de todo o seu set com o publico bem animado e livre para dançar, e cativou todos na encenação ao vivo de Formidable. Neste momento, Stromae tira o seu casaco e gravata, ajeitando o colarinho em um tipico traje de pós-festa bêbado. Da mesma forma, ele se transforma no personagem de sua canção, cantando o amor irônico e perdido para depois se jogar ao chão e ser carregado pela banda. Em êxtase o agora lotado e ainda molhado público, teve a chance de ver o hit Papaoutai antes de sair feliz de uma apresentação que certamente ganhou quem inclusive não conhecia o músico.

Holy Ghost!

Encerrando a primeira noite do festival, os americanos Holy Ghost! fizeram um show que acompanhou o clima da apresentação de Stromae com muito elementos eletrônicos sendo tocados ao vivo, um belo acompanhamento. Com muitos sintetizadores e efeitos sonoros, o agora grupo continou o clima de rave ao concentrar-se bastante nas músicas de seu primeiro disco,Holy Ghost! como Hold On, Do It Again, Say My Name e Hold My Breath, uma homenagem a um público que sabia de cor as letras de sua primeira obra e que persistiu em um festival que estava sendo realizado gratuitamente naquele dia, mas que não favorecia ninguém com o tempo. Dynamics foi deixado um pouco de lado na apresentação e, infelizmente, a melhor faixa deste disco, Cheap Shots não foi tocada. O single do trabalho, Bridge & Tunnel, no entanto, foi uma boa prévia para os shows de música Eletrônica com sets live que veremos aqui.

No primeiro dia de Primavera Sound, tivemos uma pequena noção da dimensão do evento mas ainda assim podemos notar os diferentes públicos que ele trará com sua diversidade de atos e estilos. Daqui pra frente, teremos atrações como Real Estate, Pond, Arcade Fire, Metronomy, Jamie XX e Móveis Colonias de Acaju entre onze palcos distribuídos pelo local. Vamos nessa!

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.