Melhores Álbuns de 2017

Redação do Monkeybuzz escolhe seus discos favoritos deste ano

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50. Letrux – Letrux Em Noite de Climão

“Reduzir Climão a um mero álbum de dor de cotovelo é ser reducionista e a ideia não é essa por aqui. O que existe pelo disco é uma sucessão de radiografias precisas do que Letícia pode ter pensado/sentido em relação ao fim de seu relacionamento, mas há uma percepção de vida, uma ideia de como levar as coisas, o cotidiano e este é o charme total do álbum. Dona de um humor peculiar e essencial em suas criações, ela dá asas ao que vem pela frente, quase compondo um diário de experiências e convidando o ouvinte a embarcar com ela por estas observações da noite, do corpo, da vida, do sexo, do amor e de como essas instâncias podem mudar/variar em pouco tempo, deixando a gente baratinado e sem saber como agir. Ao mesmo tempo que trata com absoluta e adorável falta de pudor suas letras, Letícia e seus asseclas constroem uma argamassa musical muito competente e tudo se sustenta.” – Carlos Eduardo Lima

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49. Slowdive – Slowdive

“A decisão de preencher o disco com apenas oito faixas fez com que a coesão viesse naturalmente. Não há momento desnecessário por aqui, com melodias absolutamente belas por todos os cantos. Destacamos o vôo sobre horizonte gelado que é Everyone Knows, que alcança níveis intensos de beleza com a alternância entre timbres de guitarra, violões e teclados, todos unidos para criar a impressão de uma tradução musical da beleza ártica. No mesmo grupo de faixas imperdíveis estão Don’t Know Why, com andamento e guitarras que arranham as lembranças de quem sintonizava a MTV nas madrugadas noventistas em busca de novidades e dava de cara com gente realmente nova, produzindo música realmente boa. O final também merece menção, personificado pelos oito minutos de Falling Ashes, uma canção com piano, crescendo, climas, clímax, contemplação e tudo a que tem direito.” – Carlos Eduardo Lima

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48. MHYSA – FANTASII

Fantasii é uma obra que pode ser interpretada e apreciada em diversos níveis, alguns dos quais certos ouvintes jamais serão capazes de se identificar. Há três facetas que merecem destaque. A primeira é a desconstrução musical e a difícil tarefa de nomear sua sonoridade. Com toques experimentais björkianos e uma poética extremamente sensível e introspectiva, as doze faixas compostas e produzidas por Mhysa não necessitam ser enquadradas em gêneros. De certa forma, é como se aquela característica queer de sua apresentação guiasse sua produção musical, uma vez que a Teoria Queer aborda exatamente estas questões de como o gênero é extremamente fluido e produto de um constructo social intenso. Assim, Fantasii pode ser melhor interpretado se considerado como os próprios gêneros humanos: diversos e complexos. Esta abordagem e conexão entre a Teoria Queer e o experimentalismo são um dos pontos mais fantásticos do disco.” – Lucas Cassoli

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47. Princess Nokia – 1992 Deluxe

“Quem Princess Nokia é, aliás, configura uma parte mais interessante da receita de 1992 Deluxe. Nova-iorquina, porto-riquenha, afrodescendente, nerd, cool, gótica são elementos que se interseccionam na produção do trabalho. Kitana é uma faixa agressiva e lembra a cadência de Die Antwoord, Tomboyataca pela via da artimanha sensual de M.I.A., Mine, por sua vez, passa tema Don’t Touch My Hair de Solange. Já ABCs of New York evoca a tradição do Rap da cidade nos anos 90 (vinda de Nas, por exemplo) mas agora evocando a necessidade de convívio, o reconhecimento de que a cidade é feita de nativos e imigrantes em fluxo.” – Roger Valença

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46. St. Vincent – Masseduction

“Existe, no entanto, uma diferença essencial, que faz com que este trabalho se expanda para os ouvidos de um público mais alargado, se comparado a seus antecessor. A abrasividade de antes, percebida nos timbres azedos ou nas melodias ardidas da guitarra, amaciou o tom. Ouvir St. Vincent era – para ficar no campo da sinestesia – como encarar de frente uma luz neon. MASSEDUCTION, em comparação, aposta em timbres mais macios, baladas românticas e um approach mais, digamos assim, digerível.” – Roger Valença

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45. Garotas Suecas – Futuro do Pretérito

“O novo disco de Garotas Suecas não só é o melhor trabalho lançado pela banda paulistana como, provavelmente, um dos mais inspirados discos de Rock feito no Brasil dos últimos, sei lá, dez anos. Futuro do Pretérito tem tudo o que o mais exigente ouvinte pode querer: ótimas canções, ótimas letras, surpreendente habilidade técnica dos músicos, produção impecável, sintonia com o momento atual do país e coragem para assumir posicionamento sobre questões importantíssimas, sobre as quais a classe artística brasileira tem andando omissa além da conta. No universo do agora quarteto há uma riqueza estética muito além do parâmetro da “loshermanização” inspiracional que habita o coração e a mente de bandas por demais. Aqui, a coisa fica seríssima na maioria das doze faixas.” – Carlos Eduardo Lima

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44. Cigarettes After Sex – Cigarettes After Sex

Cigarettes After Sex, o álbum, coleciona confissões, relatos e questionamentos de romances contemporâneos, que revelam padrões de comportamento (“This always happens to me this way/Recurring visions of such sweet days”, em Sunsetz), agressividade transformada em poesia (“When they crash, the helicopters in my heart are red/Cut in half, you saw me lying there bleeding to death”, em Flash) e declarações de afeto (“You know that I’m obsessed with your body/But it’s the way you smile that does it for me”, em Sweet), além de projeções de inseguranças (“He’s in for a heartbreak if it’s all been blind faith/From my point of view”, John Wayne) e convites para intimidades (“Truly, know that you really don’t need/To be in love to make love to me”, Truly).” – André Felipe Medeiros

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43. Beck – Colors

“Beck tem a manha de ser daquele tipo de artista que sempre soa contemporâneo. É tendência e gera tendência muito antes desse termo surgir como algo válido. Guardando muitas proporções, ele tem uma aura “bowieana” de “modernidade”, com um espectro bem menos amplo, talvez não intencional, mas válida e presente em álbuns como este Colors. Nas mãos de alguém com menos malandragem, estas mesmas canções soariam sem o brilho casual que Beck lhes confere aqui. Para muitos ele ainda é aquele artista “esquisito”, mas sabe criar melodias e buscar referências como poucos em atividade. Aqui a sua área de inspiração está no Pop oitentista, algo bem banal e corriqueiro nos dias de hoje. Nas suas mãos, nada soa óbvio, as influências são transformadas e camufladas sob tinturas e artesanato de estúdio, uma vez que ele assina a produção ao lado do já onipresente Greg Kurstin, talvez o produtor que mais trabalhou neste ano. Juntos, eles discretamente dão novas roupagens para tudo o que se ouve aqui.” – Carlos Eduardo Lima

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42. Robert Plant – Carry Fire

“Apesar de não creditada na capa do álbum, a Sensational Super Shifters está presente e é responsável direta pela sonoridade suja, empoeirada e moderníssima que Carry Fire ostenta. São onze faixas que funcionam como um workshop de como soar relevante e articulado neste mundo efêmero. Não há malabarismos estéticos, tudo está calcado no talento dos músicos em perceber que os instrumentos e a eletrônica estão a serviço da melodia, dos arranjos e não o contrário. Plant percebeu que não é mais necessário ter a mesma voz de outrora – nem possível – optando assim por um registro roufenho, envelhecido, mas dotado de enorme força. Muitas canções apresentam estruturas que fazem o ouvinte esperar pelo ressurgimento do grito de outros tempos, mas ele não vem, ficando subentendido, insinuado, registrado no inconsciente.” – Carlos Eduardo Lima

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41. Linn Da Quebrada – Pajuba

“Dizer que Pajubá é uma manifesto não é exagero algum. Concomitante ao significado do título do disco, Linn procura trazer em sua música uma conjunção de histórias, combates, fatos, discursos, mostrando a pluralidade de sua luta como transexual. Acima de um simples compilado de “lacrei” e“pisei”, a compositora mostra sua postura por meio de sua atitude e de suas rimas. Alguns podem interpretar as letras como engraçadas pelo excesso de palavrões e situações pornográficas, entretanto limitar o disco a isso é reduzir um significado muito maior. Linn procura mostrar as coisas como são, sem pudores e evidenciando sua firme posição como dona de seu próprio corpo e discurso.” – Lucas Cassoli

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40. Algiers – The Underside of Power

The Underside of Power segue a trilha desbravada com a estreia autointitulada do grupo, explorando o que significa ser Punk na contemporaneidade. Algiers fala com urgência, aliando ensinamentos do passado ao momento presente. Ou seja, a banda resgata sua herança anárquica, mas trabalha sob o paradigma da saturação de informação contemporânea.” – Roger Valença

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39. Curtis Harding – Face Your Fear

“Produzido por Danger Mouse e Sam Cohen, além do próprio Harding, o disco traz uma sucessão de onze faixas na qual é muito difícil encontrar um erro. Tudo se conecta com o binômio criatividade/virtuosismo, com um baita time de músicos no estúdio, escrevendo e tocando sobre arranjos que não ligam para exageros vazios, privilegiando o que realmente importa, ou seja, melodia, letra e estrutura. Além disso, claro, há a voz privilegiada do sujeito, que voa entre falsetes e graves, como se não fosse preciso qualquer esforço para isso. E mais: um senso musical raro, que consiste em ter noção de que, mesmo sendo o vocalista e “dono” do disco, não se vai a lugar nenhum sem privilegiar a própria banda. Sendo assim, a impressão é de que estamos ouvindo o álbum de uma banda cascuda de Soul/Funk, algo que deveria ser fisicamente impossível em 2017, mas que se materializa aqui. Porque Soul precisa de uma ambiguidade bem vinda entre moderno e antigo, tradição e costume. E isso acontece aqui.” – Carlos Eduardo Lima

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38. King Gizzard & The Lizard Wizard – Flying Microtonal Banana

“Desta vez, King Gizzard… se aprofundou pelo universo inexplorado da microtonalidade, no qual a afinação de um instrumento não usa como menor unidade o semitom. Assim, entre um Mi e um Fá, existem outras notas que criam novas possibilidade no campo harmônico e melódico. Parece papo de músico doido, mas o que você esperava de um disco chamado Flying Microtonal Banana. O uso desta nova dimensão de acordes, por assim dizer, traz um desafio não só para o ouvinte, mas para a própria banda.” – Lucas Cassoli

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37. Mallu Magalhães – Vem

“E esse é outro dos notáveis crescimentos que Mallu apresenta. A maneira que ela impõe sua interpretação mostra um novo domínio de voz e como ela se comporta em função da poesia. Ela está mais segura para brincar com a métrica das palavras (em Culpa do Amor) ou com as notas alongadas (em Será que Um Dia) de uma forma em que a doçura pela qual é conhecida ainda esteja sempre presente.” – **André Felipe de Medeiros

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36. Negro Leo – Action Lekking

“Esse disco exala uma brasilidade que resgata nas raízes negras uma sonoridade que há algum tempo parece “embranquecer” em seu contato ostensivo com a MPB. Com letras desconstruídas e “uns versos maluquinhos”, o músico discute temas como religião (com o “hino da igreja anarcogospel” Eu não sou deste mundo), política (O pato vai ao BRICS) e segregação racial (Mulato).” – Nik Silva

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35. Daniel Caesar – Freudian

“Afinal, Freudian tem pouco, ou nada, de freudiano: aqui o amor corre solto, completamente livre de neuroses. A declaração à própria mãe na faixa-título, aliás, é de uma afetuosidade completamente saudável. No final das contas, problematizações são o que menos importam por aqui. O álbum é uma homenagem ao R&B, com fortes acentos vindos dos anos 90, e é no campo dos timbres e das melodias, – com destaque, é claro, para a voz de Ceasar que brilha em ambos -, que este se estabelece. Freudian seja, talvez, a obra mais bem resolvida a já levar esse título.” – Roger Valença

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34. Kalouv – Elã

Elã é um disco expansivo pois, a cada nova escutada – e acredite, você com certeza o escutará mais de uma vez – ele ganha significados diferentes e mais complexos. É como se os outros discos tivessem rendido percepções tão novas e magníficas que, agora, a banda precisou criar um som que se pudesse fazer jus a esta grandiosidade.” – Lucas Cassoli

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33. Spoon – Hot Toughts

“Com estas noções, é fácil notar o quanto soa natural e delicioso um disco Pop latu sensu de Spoon a esta altura do campeonato. É exatamente esta a maior característica que Hot Toughts ostenta, a de ser incorruptível, autêntico e popíssimo ao mesmo tempo. Cheio de ganchos melódicos, arranjos diretos e retos, detalhes instrumentais por todos os cantos, ou seja, um disco de discretos mestres da canção de três minutos e pouco, esta fórmula mágica que é uma das maiores conquistas da humanidade desde que saiu das cavernas. Lembra bandas obscuras dos anos 1980, como The Cars ou o já citado Costello, mas com um twist próprio, um desejo estranho de fazer música dançante meio torta, quase irresistível. A produção de David Fridmann, novamente à frente de um disco do grupo, dá um foco impressionante aos objetivos de Spoon, limando qualquer detalhe que seja desnecessário.” – Carlos Eduardo Lima

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32. Ronald Bruner Jr. – Triumph

“De acordo com as formas mais recentes do Jazz, a musicalidade que surge neste álbum está longe de viver à base de intermináveis solos e demonstrações de habilidade. Claro, elas estão presentes como traço definidor do estilo, mas não há preponderância delas em nenhum momento, impedindo o tédio após certo tempo de audição. Além disso, o pedigree do álbum está longe de ser puro, para nossa felicidade. Há traços de DNA de vários estilos, do R&B mais moderninho ao Jazz Rock revitalizado, passando pelo filtro do Rap, que confirma sua força como maior força de expressão das juventudes globais. Como se não bastasse tudo isso, há, sim, a certeza de que os músicos envolvidos aqui são verdadeiros monstrengos em termos técnicos, tornando várias passagens possíveis e agradáveis. Resumindo, é um disco de valores instrumentais que não vai encher o saco da galera mais nova e vai agradar aos eventuais puristas de plantão.” – Carlos Eduardo Lima

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31. Toro Y Moi – Boo Boo

“O que chama atenção na obra, mais do que nos últimos lançamentos de Toro y Moi, é como o som, da primeira à última faixa, se expande por todos os cantos da música, de uma forma que faz com que, na liberdade poética da nossa imaginação, ele pareça preencher todo espaço entre as duas orelhas. É sim um álbum para ser ouvido com ótimos fones, ou caixas de som de primeira, ou muito será perdido.” – André Felipe de Medeiros

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30. Thundercat – Drunk

Drunk é uma mistura embriagada de estilos musicais que já eram correlatos, mas que se tornam aqui completamente indistinguíveis em uma massa musical cheia de groove. É uma ode ao Soul oitentista, temperada pelo Jazz Fusion, pelo R&B, pelo Rap e pela Chillwave contemporânea. Não necessariamente nesta ordem.” – Roger Valença

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29. King Krule — The Ooz

“The Ooz é um álbum bastante visceral, com narrativas que narram não meras situações, mas as sensações diante delas. Algumas são bastante diretas (“I’m this worthless you see/ Nothing’s working with me”, em Slush Puppy), enquanto outras constróem relações um tanto mais subjetivas, seja no paralelo “Parásito/Paraíso” de Bermondsey Bosom (Left) ou nos ares mais eruditos de Czech One (“As simple as his faith had gone/The burning of the spire/And yet he still searched for warmth/But it was cold by the fire”).” – André Felipe de Medeiros

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28. Brockhampton – Saturation II

“Há momentos que beiram o sensacional por aqui: Tokyo é cantada em falsete com um clima nipônico que se traduz nos vocais de apoio e no acompanhamento musical, gerando um efeito que oscila entre a paródia e a malandragem. Chick também é sensacional, com batidas levinhas que vão ganhando peso ao longo da canção, enquanto Sunny e Summer formam uma dobradinha de festa lá pro fim do álbum, sendo que a última pretende tangenciar sucessos radiofônicos oitentistas, ficando num adorável meio do caminho entre Commodores e New Kids On The Block, com direito a solo de guitarra com duração muito acima do usual. Gênio.” – Carlos Eduardo Lima

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27. Don L — Roteiro pra Aïnouz, Vol. 3

“Tomando o nome do diretor brasileiro e conterrâneo, Karin Aïnouz de Praia do Futuro , Don L cria um script para um filme que tem como tema central a falta de pertencimento na sociedade – sentimento que pode ser explicado pela distância e pela superficialidade da capital paulista. A temática segue por músicas que exploram o prazer de viver, ou, a “cafetinagem da realidade”, mas também traz críticas profundas ao posicionamento do Nordeste enquanto região produtiva e musical no Brasil.” – Gabriel Rolim

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26. LCD Soundsystem – american dream

american dream segue a fórmula Eletrônica do grupo, inclinada ao Art Rock. Aqui, no entanto, sobressai uma influência Post Punk (ou Disco Punk, ou Dance Punk, dependendo do ângulo sob o qual se olha). Existem traços distintos – e muitas referências assumidas – vindos de Talking Heads, Gang Of Four e David Bowie. Tudo isso para falar de luto, arrependimento, rusgas profissionais e outras amarguras protocolares. american dream é aquele gole musical bem dado de um old fashioned nas mágoas entaladas na garganta.” – Roger Valença

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25. Mount Kimbie – Love What Survives

“Ao final das audições, Love What Survives parece ser um trabalho que sabe agradar não por se esforçar em ser popular, mas por conseguir entregar músicas excelentes sem perder sua vibe de entretenimento. Um dos discos mais interessantes da temporada, talvez do ano.” – André Felipe de Medeiros

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24. Luiza Lian – Oyá Tempo

“O novo trabalho é, ao mesmo tempo, uma mistura de referências diametralmente opostas e uma simbiose de todas as emoções de Luiza. Ao mesmo tempo que é possível identificar uma influência de Funk aqui ou um pouco de Hip Hop ali, o conjunto da obra é altamente experimental e dispensa rótulos. Desta forma, a compositora vai aos poucos compreendendo o próprio universo sob perspectivas totalmente desconhecidas por nós e por ela mesma, e isto lhe traz uma profunda autoconsciência. É como se Oyá Tempo fosse uma oração, que ela profere com convicção e, como são seus pensamentos o objeto de sua louvação, a obra é extremamente narcisista. Ou seja, Luiza reverencia sua própria história.” – Lucas Cassoli

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23. Lorde – Melodrama

Melodrama chega quando a artista acaba de ultrapassar a marca dos vinte anos, ou seja, é uma fábula dramática – como seu nome já denuncia – vista sob a perspectiva de alguém que acabou de perder o primeiro grande amor e começou a frequentar as primeiras festas. Lorde, afastando do fascínio que tinha por coisas elegantes e aristocráticas de sua estreia, mergulha no hedonismo sem medo de ser infeliz – com o perdão do trocadilho.” – Roger Valença

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22. The War on Drugs – A Deeper Understanding

“Isso tudo tem a ver também com uma espécie de nostalgia pós-geração baby boomer, de uma população que gradativamente começa a se sentir abandonada. Por isso, elementos dos anos 80 dão as caras por aqui, no qual uma guitarra onírica e alongada, camadas de piano e sintetizador carregados de reverb e, por fim, uma bateria em 4/4 – a famosa motorik, herdada do Krautrock – são elementos que, em conjunto, evocam a viagem de um carro que plana pelo asfalto incansável do país.” – **Roger Valença

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21. Castello Branco – Sintoma

“Ao longo de suas onze faixas, Sintoma encontra formas mais intrigantes do cantor passar sua mensagem, seja pelo instrumental ou mesmo com a maneira com que os versos se desenrolam. Tem a ver com um grande uso de elipses em ambos os casos, algo que combina largamente com a música Eletrônica que ampara de maneira delicada e certeira os outros timbres e frequências de meditação usados, com espaços sonoros preenchidos pelo tempo no decorrer do álbum e entre uma faixa e outra. O mesmo acontece nas letras, com frases ora interrompidas, ora quase soltas nas músicas, instigando a interpretação do ouvinte.” – André Felipe de Medeiros

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20. Richard Dawson – Peasant

“Para compor Peasant, Dawson imaginou a vida em tempos ancestrais e elaborou uma narrativa que se passa em uma Europa medieval, pré-Império Romano, mas sem especificar exatamente de que recorte da Idade Média estamos falando, deixando a incerteza fundir nossa perceção de um mundo mágico e sombrio no qual pulsam nossas paixões mais antigas. Como disse André em seu artigo, ouvir Dawson é reconhecer uma força muito grande. O ritmo muscular sob o qual se desenvolve sua música nos faz pensar em cânticos de trabalhadores braçais, ou em hinos bárbaros de soldados que se preparam para a guerra. É isso, existe uma energia primordial que pulsa por aqui.” – Roger Valença

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19. Arca – Arca

“O trabalho segue a mesma lógica de seus antecessores, sendo um descendente direto dos nomes para o qual produziu, ao apostar em uma linguagem majoritariamente eletrônica, caótica e abstrata. No entanto, existe em Arca um diferencial que exponencia a expressividade do artista: o uso de sua voz, consumando faixas mais coesas e uma linguagem mais convidativa de ser absorvida pelo público.” – Roger Valença

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18. niLL — Regina

“Assim, mais uma vez, Regina é um disco que nos traz mais evidências do talento de niLL, cujas fontes ainda permanecem um mistério. Um dos palpites que podemos ter é que o rapper tem tanta consciência de sua obra e de seus valores que cada disco funciona como uma sessão intensa de análise, no qual são revelados conteúdos íntimos de inconsciente que nos assustam ao ser declarados em alto tom e versos densos. Talvez este seja uma das pontas do por quê niLL é tão fantástico em nos apresentar suas vivências: ele é seu próprio psicanalista, e nós somos apenas um público boquiaberto diante de sua maturidade investigativa.” – Lucas Cassoli

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17. Jay-Z — 4:44

“Muito se falou sobre as letras de Jay-z tratarem de seus deslizes conjugais e de sua relação com Beyoncé, mas talvez este seja um recorte limitado dos temas abordados no disco. O núcleo de tudo está na importância que Jay-Z dá ao trabalho – muito coerente com a visão de homem moderno, constituída na virada para o século 20. Shawn Carter parece se ver hoje, muito mais como homem de negócios, como empresário, do que como rapper ou músico. A obsessão com o dinheiro, presente em todo o disco, mas mais evidente na faixa The Story of O.J. – com um dos refrões mais agudos do Rap recente -, mostra que Jay-Z enxerga a liberdade financeira como caminho para as injustiças. Faz questão sempre de destacar seus acertos e arrependimentos financeiros e também de destacar as consequências que sua dedicação ao trabalho trouxe para sua vida pessoal.” – Lucas Repullo

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16. SZA – Ctrl

“O amor, sua falta ou presença, é o tema central que toma Ctrl disco de estreia de SZA. Inseguranças, experiências românticas traumatizantes, lições aprendidas e a difícil tarefa de se manter no controle de situações que fogem à racionalidade são passadas ao longo de catorze faixas que deturpam a nomenclatura de rapper que lhe fora concedida: chamá-la de cantora parece muito mais adequado quando a densidade e dinâmica de suas composições é vislumbrada.” – Gabriel Rolim

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15. Courtney Barnett & Kurt Vile – Lotta Sea Lice

“O som é exatamente aquele que poderíamos esperar do encontro, um Rock Americana de guitarra dedilhada temperado no Indie, recheado de filosofias de boteco sobre a vida cotidiana. Vile continua com suas divagações espirituais e Barnett esbalda-se no seu tema favorito, o tédio, ou melhor, no ócio criativo como estopim para suas composições. O trejeito desta última de encadear trocadilhos, numa poesia trivial do fluxo da mente, marca presença.” – Roger Valença

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14. alt-j – RELAXER

“Em RELAXER, alt-j articula sua própria linguagem e propõe um encontro com a subjetividade masculina através da própria, sem soar piegas, ingênuo ou academicista, mas de forma extremamente sensível e melódica, jogando com os símbolos escondidos pelo subconsciente como se fizesse malabarismo com os desejos humanos. Nota máxima.” – Roger Valença

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13. Moses Sumney – Aromanticism

Aromanticism expressa insegurança, fragilidade e o desconforto da exposição e da vulnerabilidade, criando uma metafórica nudez do artista que pode ser ouvida em cada faixa, esteja ele diante de um conflito em uma relação (Quarrel), do desejo de intimidade (Make Out in My Car) ou da vontade de ter algum controle sobre a situação (Don’t Bother Calling).” – André Felipe de Medeiros

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12. Sampha – Process

“O título Process pode se referir ao modo com que Sisay processa sua dor em formato musical, uma saudação ao percurso em detrimento do resultado. Com uma voz segura, que se destaca pela sua discrição, Sampha canta levemente e de modo delicadamente crispado. Process é, nesse sentido, também a beleza que se sobressai às etapas difíceis da vida. Após a morte de seu pai em decorrência de um câncer em 1998, a etapa final de produção do trabalho é, afinal, marcada pela morte de sua mãe, vítima da mesma doença.” – Roger Valença

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11. Boogarins – La Vem A Morte

Lá Vem A Morte é o trabalho mais denso do quarteto até então. Por meio de uma série de recortes, sobreposições, ambientações e experimentações eletrônicas, o grupo criou um universo inconstante que explora temáticas bastante maduras e filosóficas, como a falta de sensibilidade da atualidade, verdades absolutas e, claro, a Morte. Dessa forma, a maturidade acompanha tanto as letras quanto a instrumentalização, que ora nos orienta por emoções e sensações, ora nos desorienta pela complexidade na qual a banda ousou a adentrar.” – Lucas Cassoli

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10. Rincon Sapiência — Galanga Livre

Rincon

“Talvez o grande exemplo lírico nesse sentido seja A Coisa Tá Preta, música que expõe o racismo velado no dia a dia do brasileiro. A expressão, que tem sentido negativo em jargões populares, é desconstruída para ressignificar em seu real sentido: “Se eu te falar que a coisa tá preta, a coisa tá boa pode acreditar/seu preconceito vai arrumar treta, sai dessa garoa que é pra não moiar” é o gancho que leva o verso a não sair da cabeça ao final da música e deixar o recado bem explícito: preto é coisa boa.” – Gabriel Rolim

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09. Syd – Fin

Syd

“Em forma e conteúdo, Fin mostra-se tanto noturno, quanto romântico – como denunciaram os singles Body e All About Me -, como mandam as tradições do R&B e do Pop. Em meio a isso tudo, as curtinhas No Complaints e Drown in It ajudam a manter a obra dinâmica e cheia de personalidade.” – André Felipe de Medeiros

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08. Grizzly Bear – Painted Ruins

Grizzly Bear

“Este é um dos excertos mais impactantes da obra do escritor irlandês Samuel Beckett, presente no livro Fim de Partida. É uma espécie de ponto central em torno do qual sua obra se expande de forma espiral. Fala do tédio, do comodismo, do cansaço, da ruína e, enfim, de como uma pessoa pode apagar-se gradativamente de sua própria vida. A peça de Beckett, embora não seja citada diretamente em momento nenhum de Painted Ruins, parece ser um bom exemplo do universo que este compartilha. O novo álbum da banda estadunidense Grizzly Bear, o quinto de sua carreira, revolve sobre o mesmo conceito, a ideia de que o conforto e a ruína coexistem.” – Roger Valença

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07. Dirty Projectors – Dirty Projectors

Dirty Projectors

Keep Your Name parece ser, de fato, a melhor escolha para a abertura do trabalho. Nela aparece, tematicamente, o conflito que marca essa nova etapa da banda. O “nome” é, em alguma instância, o que define e orienta a personalidade de alguém. Este é um rito essencial dentro de um matrimônio, no qual o nome de uma pessoa incorpora-se ao do cônjuge, partilhando, simbolicamente, uma essência que passa a coexistir em dois indivíduos. Podemos também pensar que, apesar da ruptura do casal, Dirty Projectors, a banda, continua com o mesmo nome sob o comando de Longstreth, enquanto Coffman funda, diversamente, uma nova empreitada solo. Para além disso, este é o primeiro álbum auto-intitulado do grupo, uma necessidade de reencontrar sua essência para redefinir sua personalidade.” – Roger Valença

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06. Fleet Foxes – Crack Up

Fleet Foxes

“Há também uma correlação interessante entre a música Folk e o Romantismo, não só pelo conceito de “folclórico” ter nascido nessa época, mas porque o gênero como o conhecemos hoje costuma dialogar com os mesmos elementos naturais em suas figuras de linguagem para, assim como a arte daquele movimento do passado, também exprimir conteúdo introspectivo, contemplativo e, ao mesmo tempo, universal. Não é à toa o estilo inspirar-se tanto no homem interiorano, aquele cercado de verde, para as suas composições, mesmo elas sendo feitas em grandes centros urbanos como São Paulo, Londres ou Seattle – caso da banda Fleet Foxes.” – **André Felipe de Medeiros

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05. Baco Exu do Blues – Esú

Baco Exu do Blues

“O conteúdo musical espalha-se pelo folclore afro-brasileiro e, desde sua introdução, coincide-se com versos raivosos e sinceros que não esquecem origens: na música nordestina de Nação Zumbi até a samples de orações aos orixás. O personagem de Baco é verossímil: um homem com origens divinas que, de tão humano, deixa a sua divindade se perder – de tanto erros e impulsos se torna o que é: alguém que não pode ser visto como herói ou vilão, mas apenas como humano. Em Esú, por exemplo, a dualidade homem x deus (apenas um deus a margem de um Deus) deixa os outros com medo – o impulso traz seu verdadeiro eu a tona e isso pode assustar os outros.” – Gabriel Rolim

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04. Tyler, The Creator – Flower Boy

Tyler, The Creator

“O tema central de Flower Boy, tal como as constantes metáforas primaveris sugerem, é de fato a sexualidade. O nome do álbum faz alusão à nova persona de Tyler – agora um “garoto floral” ao invés do polêmico Bastard ou do anárquico Goblin que havíamos conhecido em seus trabalhos anteriores -, e a capa nos mostra um jardim florido polinizado por abelhas. No entanto é, na verdade, na produção que a nova música do artista desabrocha de vez, exibindo uma faceta refrescante, solar e relaxada, menos focada no Rap e mais aberta à intervenções do Soul e do R&B (assim como têm feito Anderson .Paak e Childish Gambino em suas respectivas carreiras).” – Roger Valença

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03. Vince Staples — Big Fish Theory

Vince Staples

“O álbum avança por batidas eletrônicas desconstruídas, nas quais ritmo e melodia estão em constante atrito. Big Fish Theory caminha sobre os detritos daquilo que o Rap já foi, uma rachadura no tempo formada por aquilo que, segundo Staples, o estilo perdeu e ainda não é. Essa é uma herança do Rap que une o Post-Dubstep de James Blake à postura anárquica e sombria de Tyler, The Creator (o auto-intitulado “walking paradox”) e seus comparsas do coletivo OddFuture.” – Roger Valença

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02. Tim Bernardes – Recomeçar

Tim Bernardes

“E o que Tim Bernardes mais oferece em Recomeçar é um convite a uma postura de total entrega do ouvinte, que se percebe abraçado por melodias calorosas, ainda que melancólicas, instigado pelas letras de tão fácil assimilação, mesmo quando complexas, e impressionado do começo ao fim tanto pela qualidade, quanto pela beleza que o álbum apresenta. Há espaço ainda para Tanto Faz, um não-hino que sintetiza a desesperança de nossa época como nenhuma outra canção de 2017 conseguiu, além do retorno de Não, uma velha conhecida dos fãs, em uma versão definitiva que entrega o que pode ser o melhor momento do disco, uma obra que argumenta a favor da relevância do músico entre seus contemporâneos indo ao encontro de uma grande satisfação do público que já o segue.” – André Felipe de Medeiros

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01. Kendrick Lamar – DAMN.

Kendrick Lamar

“Assistir ao contexto de nascimento de DAMN., o quarto álbum completo do artista de Compton, é comprovar como tal autoridade se implantou. Antes mesmo do seu lançamento, pipocavam pela Internet votos de que este seria o melhor álbum do ano. Após o seu lançamento, a mesma vontade de transcendência continuou: o álbum nasceu na sexta feira Santa católica e fãs imaginaram que o artista ainda havia preparado uma surpresa para o domingo de Páscoa, lançando ainda outro trabalho, evocando a ressurreição de Cristo, mesmo que Lamar jamais tenha dito nada a respeito disso.” – Roger Valença

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Autor:

Videomaker, ator e Jedi