Jeff Mills – O Mago Do Som Eletrônico De Detroit

Um dos criadores do Techno tem sua passagem marcada para São Paulo

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Jeff Mills é um sujeito imune à ação do tempo. Desde seus primeiros experimentos à frente de equipamentos de som em meados dos anos 1980, passando ao flerte permanente com ficção científica literária, chegando ao ativismo político, o sujeito é um dínamo. Não é exagero dizer que Jeff foi um dos responsáveis pelo surgimento de uma sonoridade particular dentro deste mundo de possibilidades que é a Música Eletrônica: o Techno de Detroit.

Primeiramente como The Wizzard, mais tarde integrando o coletivo Underground Resistence e, finalmente, adotando seu nome, Mills participou do mesmo cenário de surgimento da House Music em Chicago e Detroit, militando nos subterrâneos de boates, clubes e buracos miseráveis, nos quais a música para dançar convencional, no caso, a Disco Music, não atendia aos desejos dos presentes. A partir da mesma mistura que moveu os fundadores do Hip Hop, a saber, sonoridades do Kraftwerk misturadas com Funk e derivados, Mills e seus comparsas foram em busca de algo novo, essencialmente eletrônico, revolucionário e individual. A partir de uma configuração usual de DJ (decks, mixer e drum machine), ele promoveu uma mudança de direção ao enfatizar batidas, velocidade e, ao mesmo tempo, abrir possibilidades para DJ’s e produtores como ele, a partir da fundação de um selo, o hoje mitológico Axis.

Importante lembrar que a Detroit da virada dos anos 1980/90 era uma cidade cheia de fábricas fechando, filas de desempregados e criminalidade crescente. O passado glorioso da Motortown, ou seja, o centro da indústria automobilística americana, ficava para trás a passos largos e uma nova e estéril realidade se instalava. Sabemos bem, onde há desemprego e falta de oportunidades, a cultura contrabalança essas carências, justamente por refletí-las. Sendo assim, a exemplo da Detroit setentista, que viu nascer o Punk e o Garage, o som que a juventude engajada e desesperada encontrou para chamar de seu foi a música Eletrônica, que exigia pouco financeiramente em todos os sentidos. Deu no que deu.

A música de Jeff Mills correu o mundo, causando enorme efeito na Europa, especialmente na Alemanha e na Inglaterra, influenciando decisivamente o Techno noventista. Enquanto isso, o homem seguia sua prolífica carreira, lançando discos, EPs e singles, algumas vezes conceituais, outras apenas dançantes. No ano 2000, Jeff viu suas grandes paixões unirem-se de forma inédita: foi convidado para fazer uma trilha sonora para o filme Metropolis, clássico de ficção científica do alemão Friz Lang, filmado em 1927. A partir daí, sua presença em trilhas cinematográficas, exposições de arte contemporânea e sonorizações diversas passou a ser frequente, fato que o levou a ser condecorado pelo Ministério da Cultura francês.

Com uma carreira que traz 35 álbuns, 75 EPs e partcipações em sete trilhas sonoras, Jeff Mills é um ícone da Música Eletrônica caminhando entre nós. Sem exagero.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.