O Indescritível Hermeto Pascoal

Alagoano é um dos expoentes na expansão da própria música popular

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Sabemos que o Dekmantel é um festival que privilegia os artistas que têm fluência não só na Música Eletrônica, mas que tenham contribuído, através dela, para a expansão das fronteiras da própria arte certo? Também sabemos que a curadoria do evento tem em mente dar espaço para grandes nomes que, por algum motivo estranho e inexplicado, apesar de serem mestres na expansão das fronteiras da música, não são conhecidos em todo o lugar do universo. Este é o caso de Hermeto Pascoal, o bruxo alagoano de 81 anos, que tem sua obra baseada num propósito muito simples: reproduzir os sons da natureza. Parece fácil, né?

Hermeto militou na gênese do Jazz no Brasil dos anos 50, tocando flauta, violão, acordeão e tudo mais. Evoluiu para o Sambalanço sessentista (ou Samba Jazz), participando de pequenos grupos instrumentais, conhecendo gente boa, como Airto Moreira, por exemplo, e sempre optando por caminhos estéticos que contribuíssem para novas visões. Como Jazz, por si só, é um gênero que se traduz na busca essencial por espontaneidade e inovação, Hermeto foi sendo inserido no terreno dos grandes desbravadores do estilo. Em fins dos anos 1960, lá estava ele ao lado de ninguém menos que Miles Davis, participando da fase mais enlouquecida da carreira do mago dos trumpetes, quando ele expandiu sua matriz jazzística rumo à Psicodelia e ao Rock, inventando um novo gênero, conhecido como Fusion.

Hermeto voltou ao Brasil e iniciou uma carreira solo vitoriosa. A partir da própria modificação da noção de Jazz, passando de um ritmo norte-americano para algo universal, o alagoano viu-se alçado à categoria dos gigantes do estilo. Seu disco de 1976, Slave Mass, deu o carimbo do sucesso e o credenciou para participar de festivais importantes ao redor do planeta. Com isso, Hermeto tornou-se um nome internacional, quase universal, um verdadeiro visionário, usando sua fluência em vários instrumentos, entre eles, acordeão, flauta, piano, saxofone, trompete, bombardino, escaleta, violão, além de inventar peças de percussão com materiais que vão muito além do convencional, especialmente metais, plásticos, pedras, entre vários outros.

Sua carreira não para. O último CD é de 2010, o romântico Bodas de Latão, que celebra sua união com a cantora Aline Morena, com quem se apresenta regularmente. Mesmo já com uma idade avançada, Hermeto segue em excursões, criando sempre e diversificando suas facetas como artista, atualmente se apresentando em diversos “formatos”: Hermeto Pascoal e Grupo, Hermeto Pascoal e Aline Morena, Hermeto Pascoal Solo, Hermeto Pascoal e Big Band e Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica.

Sua presença na edição paulistana do Dekmantel é uma coroação do quanto os conceitos musicais podem ser flexíveis e mutáveis. Mesmo que sua música não seja composta e executada exclusivamente por meios digitais e sintéticos, não seria exagero dizer que Hermeto encontrou – sem querer, querendo – uma forma nova e personalíssima de fazer música. E isso é algo que todo mundo precisa ver e conhecer.

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MARCADORES: Aquecimento

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.