The Black Keys encerrou bem a noite de sábado, pelo menos para quem ouviu

Prejudicado por problemas no som, o duo levantou o público praticamente apenas com faixas de “Brothers” e “El Camino”, seus dois últimos álbuns

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Fotos: Fotos: Fernando Galassi / Monkeybuzz

Finalmente, o duo que já não é mais duo The Black Keys desembarcou em nossas terras. Ele já estava acumulando poeira com Wilco, Arcade Fire e Mumford and Sons na lista dos grandes shows presentes em todos os boatos de festivais nos últimos anos e que nunca se concretizavam.

A hora chegou e, para muitos, não podia ser em melhor momento, pouco mais de um ano após lançar El Camino, o “disco do furgão” com Lonely Boy, Dead and Gone, Gold On The Ceiling, Nova Baby, Run Right Back, Money Maker e a linda Little Black Submarines, todas protagonizando a apresentação que fechou o segundo dia de Lollapalooza Brasil. Rolou também Howlin’ For You, Everlasting Light, Tighten Up, Next Girl, She’s Long Gone Ten Cent Pistol e Sinister Kid, do ótimo Brothers, álbum de 2010 e provavelmente o primeiro contato da maioria com a banda.

O que muitos não sabem (e nem tem obrigação de saber, já que nem eles parecem querer que o público saiba) é que Patrick e Dan lançaram cinco álbuns antes desses, alguns deles obras primas da onda de revival do Blues Rock e do Garage Rock em que The White Stripes também fazia parte e levava a maior parte da fama. Já contei em meu aquecimento o quanto acho El Camino inferior ao restante do trabalho deles e achei que não teria que voltar a tocar no assunto após o show, mas é inevitável, principalmente após ouvir gente assustada ao meu lado quando viu a banda sair e deixar os dois sozinhos no palco, sem saber que costumava ser sempre assim.

É normal que com o passar dos anos e mais álbuns lançados, as bandas deixem de lado as faixas dos primeiros discos para dar espaço às novidades, mas o The Black Keys levou isso muito a sério. Não é normal que álbuns entre meus preferidos da última década (e não estou sozinho nessa) como Thickfreakness e Rubber Factory mereçam apenas duas faixas em um setlist de 20 músicas. Eu até poderia deixar essa informação de lado, mas é impressionante o quanto perde-se de alma, do ritmo do Blues que nos faz balançar a cabeça de olhos fechados e da força que tem cada uma das faixas desses dois álbuns e também de The Big Come Up, estreia do grupo.

O show então ficou mais Pop, mais pegajoso e mais fácil, talvez para justificar a escalação deles como headliners desse e de outros grandes festivais pelo mundo. As faixas de El Camino são divertidas, mas muito desinteressantes quando comparadas aos trabalhos anteriores.

Pode ser um problema meu, mas não acho difícil confundir Dead and Gone, Nova Baby e Sister entre si. Cheguei a me animar por pensar ouvir a última por duas vezes, mas foi só ilusão. Me incomoda como, nas faixas do último disco, os refrões já vem preparados com mais vozes para acompanhar, mesmo na versão de estúdio, como se estivessem nos avisando que aquele é o momento de cantarmos com todas as forças, algo inimaginável de se ver no antigo The Black Keys. A tática parece ter funcionado e o riff inicial de Lonely Boy transformou o Jockey em uma panela de pipoca e, no refrão, tudo que se ouvia eram 50 mil vozes sincronizadas.

Pois é, literalmente só se ouvia o público, pois foi de uma tristeza sem precedentes a qualidade do som no Palco Cidade Jardim no show do The Black Keys. A experiência que para mim já não estava das melhores só ficou ainda pior, enquanto ouvia as conversas ao meu lado e o som do Steve Aoki na tenda eletrônica. A bateria bem marcada, característica da dupla, também foi prejudicada pelo som ruim e por estar muito mais baixa que o restante dos instrumentos na minha percepção.

Justiça seja feita, apesar de tudo, não posso reclamar em nenhum momento de Dan e Patrick. Nossa relação já teve momentos mais felizes, mas o que esses caras conseguiram não foi à toa. O primeiro tem uma voz icônica, que casa incrivelmente bem com o som da banda, além de tocar guitarra como poucos. Algo que diminuiu também com os anos foi o número de solos de Dan, mas nos poucos que cabiam entre as faixas mais rápidas de El Camino, fez valer cada ano de espera para vê-los ao vivo. Me julguem o quanto quiserem, mas gosto muito do jeitão de Patrick, acho que ele é quem dá todo o estilo e personalidade do duo com seu estilo de Bad-Boy nerd e desajeitado e suas porradas na bateria.

A qualidade deles em qualquer coisa que façam garante um mínimo de perfeição raro no show do duo, mas o domínio quase que completo de faixas dos dois últimos discos farão meu DVD ao vivo no Crystal Ballroom, lançado logo após Attack & Release sobreviver por muitos anos em minha estante. Ao mesmo tempo que o ridiculamente baixo e mal regulado som do Palco Cidade Jardim, não satisfez a minha vontade de The Black Keys e vou precisar vê-los de novo em breve.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.