Florence + The Machine: Forte Candidato a Melhor Show do Lollapalooza Brasil 2016

Show da banda inglesa encerrará evento no domingo como uma de suas maiores atrações

Loading

Confesso que passei batido pelos dois primeiros álbuns lançados por Florence Welch + Machine. Não foi por mal, apenas não estava no radar deste crítico, que chegou a ouvir, claro, Dog Days Are Over aqui e ali, se interessou, soube de quem se tratava e arquivou, tendo em vista a enorme procissão de artistas e bandas para ouvir e prestar atenção. Veio o Rock In Rio de 2013, com a (boa) presença da banda no palco, mostrando Florence com um vestido azul claro esvoaçante no meio da multidão. Eu pensei: “caramba, essa menina é mesmo conhecida, vou ouvir com carinho seus álbuns logo”, mas acabei capturado pela dimensão extraterrestre da apresentação de Bruce Springsteen no mesmo ano. Florence novamente foi para a fila de espera mental. Assim ficou o trabalho da moça até o ano passado, quando o dileto Monkeybuzz sugeriu que fizesse um artigo sobre a obra dela, preparando o espírito para o novo álbum, How Big, How Blue, How Beautiful, lançado em junho de de 2015.

Achei este terceiro álbum muito bom e, por conta do trabalho, deitei meus ouvidos em Cerimonials, de 2011 e na estreia, Lungs. O que vi/ouvi foi uma boa banda de Rock focada nos anos 1980, especificamente naquela onda de cantoras e grupos – liderados por vocalistas femininas – que misturavam certa atitude Pós-Punk com uma sonoridade alternativa calcada em guitarras e teclados. Gente como Siouxsie And The Banshees ou Kate Bush, que, além disso, também garantiam a presença no palco e a qualidade nos respectivos registros vocais, ambos bem distintos entre si. Uma outra formação da época, Cocteau Twins, velha favorita do crítico em questão, que é um tesouro oitentista, também tem algum DNA emprestado na receita musical de Florence + The Machine. Como estamos falando de voz e personalidade, Florence Welch tem a sua própria, bem diferente das citadas e com o benefício de ser bem potente, arranhando algum timbre negroide. Ponto pra ela, que consegue amplificar ainda mais sua música ao vivo, quando solta seu vozeirão sobre estádios e suas plateias ansiosas. Além disso, com o teor de suas letras e a maçaroca sonora catártica que as emoldura, o grupo assume uma condição feminista naturalmente, não deixando que a fruição do show ou das canções, ouvidas em casa, em outros contextos, seja prejudicada por alguma mensagem política desmedida. Tudo se mescla naturalmente, como se não pudesse ser de outro jeito. E isso é bom.

Em termos de comparativos, How Big, How Blue… é mais bem acabado que os trabalhos anteriores e deve fornecer grande parte do material para a apresentação da banda no Lollapalooza. Canções belas e fortes como Delilah, What Kind Of Man e a faixa-título, certamente farão as pessoas perderem o controle e aclamar a presença ruiva de Florence. É um álbum que bebe tanto desta fonte de certo Rock oitentista já mencionada acima, como de um Folk elemental setentista, bonito à beça, que parece ignorado pela maioria dos artistas e bandas em atividade. Mesmo que o grupo seja o mesmo desde o início da carreira, a prevalência da vocalista foi natural com o passar do tempo, conferindo um ar de maior personalidade ao trabalho musical da banda, algo que pode ter vindo da presença do produtor Markus Dravs, que tem em sua ficha cadastral a pilotagem de estúdio para bandas como Arcade Fire e Coldplay.

Já conhecemos as canções de Florence, sabemos bem que teremos aquela agradável alternância entre momentos contemplativos e intensos, com a plateia indo e vindo na direção que a banda indicar. Claro que os sucessos primordiais, como Dog Days Are Over, Shake It Out, What The Water Gave Me, Kiss With A Fist, entre outros, estarão presentes na apresentação, que, apesar de se inserir na turnê de divulgação do último disco, certamente terá pinta de maiores sucessos desfilados ao vivo.

Se me perguntassem uma barbada para esta edição 2016 do Lollapalooza, Florence + The Machine seria, provavelmente, minha escolha para grande show do festival. Podem cobrar depois.

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.