Por que o SXSW só poderia acontecer em Austin?

Em quase trinta anos, festival e cidade criaram interdependência difícil de ser igualada

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Não adianta, sai festival, entra festival e o South by Southwest continua sendo uma experiência difícil de comparar (positiva e negativamente) com qualquer outro evento musical do mundo. Isso principalmente por seu formato, em que durante quase uma semana, milhares de bandas tocam em dezenas de bares, casas de show, restaurantes e palcos improvisados por toda a cidade. É claro que muitos já tentaram transportar o clima do festival para outros lugares, mas, infelizmente, o SXSW pertence a Austin.

A cidade é a casa da Universidade do Texas, o que a torna um respiro jovem entre o famoso conservadorismo texano. Isto fez dela uma espécie de resposta rebelde ao estado, tornando-se a capital da música ao vivo e uma cidade infestada por um clima positivo e amigável. Keep Austin Weird é o lema da cidade onde hipsters, caubóis, geeks, esportistas e turistas ajudam a construir, proposta que fica ainda mais evidente em março, durante o evento.

Diferente da maioria dos festivais que reúnem diversas bandas em um único local, no SXSW, 5 ou 6 bandas tocam sets curtos de meia hora a quarenta e cinco minutos (com algumas exceções no caso de artistas maiores) em cada casa de show cadastrada, totalizando algo entre duas e três mil bandas por ano. Em paralelo a isso, o restante dos bares que não fazem parte do line-up oficial do evento, se aproveitam do movimento e preenchem sua programação com muita música ao vivo e cerveja barata.

Dois grandes e inseparáveis diferenciais de Austin são a concentração de todos os eventos em um miolo central da cidade – bares, casas de show, restaurantes, baladas, hoteis, cafés etc -, o que facilita a experiência de ver um pouquinho de uma banda e partir para outro show em seguida e a estrutura que, ao longo dos anos, a cidade foi construindo para abrigar este e outros eventos. Pude ver isto de perto neste ano, me hospedando em um hotel recém-construído para o evento, que conta com uma estrutura impressionante de boa Internet, salas de conferência, estacionamento, restaurantes, cafés, salas de convivência e sede dos correios, tudo dentro do próprio hotel.

Esses dois aspectos, somados ao clima que sempre foi positivo na cidade e à fama jovem e descontraída conquistada pela presença da universidade, tornam muito difícil a reprodução de um festival neste formato em qualquer outro lugar. Uma cidade pequena teria a mesma facilidade de locomoção, mas talvez não tenha o clima ou a estrutura, enquanto uma cidade grande teria o problema do transporte e, obviamente, não pararia todas as suas atividades para se concentrar no festival – como percebemos claramente em Austin. Por isso, a cada ano, o festival vai criando mais raízes na cidade e a cidade dependendo cada vez mais dele.

É claro que nem tudo é uma maravilha. As casas de show improvisadas, o tempo curto dos shows e a quantidade enorme de apresentações a que os artistas são submetidos – ganhando cachês irrelevantes e ainda tendo que arcar com todas as suas despesas de transporte, alimentação e hospedagem – fazem com que o evento tenha criado uma má fama entre alguns nomes da música. Do ponto de vista do público, também percebemos que alguns frequentadores mais assíduos de festivais tem evitado o SXSW, já que estarão acompanhados de um público mais ligado na festa do que na música, assistirão às apresentações em locais nada ideais e ainda aproveitarão pouco dos curtos sets de suas bandas preferidas.

Mas, mesmo assim, em meu terceiro ano em Austin, estou longe de cansar da experiência e acredito que para qualquer fã de música, é algo que vale muito a pena experimentar pelo menos uma vez. E não se esqueça de recusar imitações pelo mundo, porque South by Southwest, só em Austin.

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MARCADORES: SXSW 2015

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.