SXSW 2015: Os Preferidos

Após quase quarenta apresentações, algumas ficarão por mais tempo na memória

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Alvvays

Ao mesmo tempo em que Alvvays tornou-se uma de minhas bandas novas favoritas desde que descobri o single Adult Diversion para nossa sessão Ouça: Bandas, não era um show que estava no topo da minha lista para este festival. Imaginei que fosse divertido, mas não passou pela minha cabeça que ficaria hipnotizado com a voz perfeita de Molly Rankin a ponto de abrir mão de algumas outras apresentações para ver seu show mais duas vezes.

O show inteiro é semelhante à experiência deliciosa de assistir a Real Estate ao vivo. É relaxante e tem um elemento hipnótico que nos força a apenas curtir o momento, sem pensar na complexidade extrema que procuramos na música a todo momento. Mas, como já disse, a banda tem um elemento extra, a potência vocal de Molly, que chega em seu momento máximo nas faixas Archie, Marry Me e Party Police, agora minhas favoritas e normalmente deixadas para o final das apresentações. Definitivamente uma banda que subiu muitas posições no meu radar para os próximos anos.

James Vincent Mcmorrow

Um banda ou projeto musical são sempre formados por vários elementos trabalhando em conjunto, mas confesso que a voz acaba sempre ganhando um peso extra na minha balança pessoal. Não é necessária – minhas bandas preferidas não tem bons vocalistas -, mas quando está lá, faz toda a diferença.

É por isso que fica impossível esquecer da apresentação de James Vincent Mcmorrow, sozinho, revezando no piano e no violão, na igreja presbiteriana de Austin. Um daqueles shows que parecem ter poder de cura pra qualquer preocupação e que conseguem deixar qualquer plateia boquiaberta. Quem nos acompanhou pelo Snapchat conseguiu sentir o gostinho – mesmo que em baixíssima qualidade – da experiência marcante que é ver o irlandês ao vivo.

Courtney Barnett

Pelos mesmos motivos já citados no texto de destaques do festival, não tem como ignorar a simpatia e a sinceridade que a australiana de 26 anos transmite em suas músicas e no palco.

Courtney se apresenta acompanhada de um baixista e de um baterista – ótimos também – e é impressionante como entra e sai do palco como se nada demais tivesse acontecido e aquilo fizesse parte de sua rotina. Mas não leve isso para o lado negativo, é uma rotina que ela escolheu, de conseguir levar a música dela até as pessoas e a australiana parece se sentir privilegiada de termos escolhido sua arte para apreciar.

Viagens à parte, a apresentação de Courtney é crua, empolgante, consegue manter a energia das versões de estúdio, mas acrescenta elementos marcantes e toques diferentes na maneira de cantar um ou outro verso que ficam conosco por algum tempo. Corro o risco de me tornar repetitivo, mas acho que essa é só a etapa de decolagem do vôo de Courtney Barnett.

Tobias Jesso Jr.

Na minha lista pessoal de ansiedade e curiosidade, o show de Tobias ocupava o topo junto com Courtney Barnett. Só que, diferente dela – e por isso ele não ter entrado na lista de artistas que “ganharam” o festival -, ele só fez um show “oficial” durante o evento, na mesma igreja em que vi Sun Kil Moon no ano anterior e James Vincent Mcmorrow neste, portanto era o único show intocável de minha programação.

O canadense tocou músicas de seu álbum recém lançado, Goon, de forma belíssima, com um piano no chão da igreja, na frente do palco, não sendo possível vê-lo, apenas ouvi-lo, experiência que me desagradou em um primeiro momento, mas que depois me fez mudar de opinião. Não precisando me concentrar na parte visual, a introspecção trazida pela melodia crua no piano Rhodes e por sua voz foi uma experiência inesquecível e que me ajudou a perceber e entender diversos detalhes que não me chamaram atenção antes em sua música, como as angustiantes pausas e a simplicidade juvenil das letras – a beleza delas eu já havia notado.

Uma curiosidade é que, segundo o próprio em sua conta do Instagram após o show, esta foi a apresentação mais difícil de sua carreira. O músico esqueceu a letra de True Love três vezes e só conseguiu tocá-la quando um integrante da plateia lhe emprestou um celular com a letra. Tudo isso, provavelmente, por causa do clima íntimo e tenso que se formou na igreja, com todos sentados e extremamente atentos a cada acorde. Mas a noite fechada com How Could You Baby não poderia ser melhor – tá bom, poderia se ele não tivesse deixado Can’t Stop Thinking About You de fora.

Steve Gunn

Way Out Weather, quinto disco de Steve Gunn, saiu no fim do ano passado e, após a resenha positiva aqui do Monkeybuzz, estava desde então em minha lista de espera. Não consegui ouvir antes do festival, mas acho que foi bom, tamanha a minha surpresa com a qualidade de seu show.

Seu som é uma mistura de Rock, Country, Folk e Blues, mas tudo com uma atitude que me lembrou bandas de Post Rock, com trechos instrumentais longos e contemplativos, muitos solos e canções de longa duração. Como um músico experiente, que tocou com Kurt Vile e outros durante quase toda a última década, era inevitável que seu show fosse seguro e memorável como o que presenciei.

Will Butler

Talvez por ingenuidade minha e falta de informação, ironicamente, Will Butler foi uma de minhas maiores surpresas no festival. Não havia achado ruim seu trabalho solo, pelo contrário, tudo é muito bem executado, mas não havia me comunicado nada. Provavelmente, se não fosse o show, o disco Policy teria se perdido em meus arquivos ao longo do ano.

No entanto, é de tirar o chapéu a paixão com que Will e sua banda entraram no palco, a preocupação dele com os detalhes e um pequeno nervosismo aparente, elementos que quase nos fizeram esquecer que aquele era um dos membros de uma das maiores bandas do mundo. Um show sem rebarbas, de qualidade técnica indiscutível e com muita vontade. Tudo isso com direito a plateia formada por seu irmão Win, que faria seu DJ Set na parte interna da casa de shows mais tarde.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.