Eminem Retorna ao Passado em Encorpado Show de Hip Hop

Concerto recheado de hits deixa fãs satisfeitos e sedentos por artistas do estilo

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É inevitável que o Lollapalooza Brasil quir se comunicar com o máximo fãs de música possível, sendo essa uma de suas principais identidades desde o começo. Ao olhar as últimas edições do evento, pode-se perceber que existe cada vez mais um direcionamento para que alguém que goste, por exemplo, de EDM ou Indie Rock possa ver artistas do seu gênero favorito durante todo o festival. No entanto, se o Hip Hop apareceu eventualmente ao longo dos anos – Nas, Racionais MCs, Planet Hemp e Criolo são alguns exemplos – houve em 2016 uma vontade clara de dar mais espaço ao estilo.

Se Snoop Dog não tivesse cancelado a sua apresentação, Eminem teria um companheiro para dividir o papel de headliner no festival – seguido de outros nomes, como Emicida, Karol Conká e Die Antwoord. No entanto, coube ao famoso rapper de Detroit mostrar que o Hip Hop pode ser encarado de outra forma no evento e que possivelmente veremos cade vez mais artistas do gênero encabeçando o Lollapalooza. Ao longo do sábado, era possível ver fãs espalhados pelo Autódromo de Interlagos usando camisetas com os nomes do rapper estampados ou com o famoso corte de cabelo curto e descolorido identificado com o início de sua carreira. Logo, podia-se esperar que o palco Skol estivesse lotado no encerramento do primeiro dia do evento. O que pode se perceber foi um mar imenso de pessoas esperando ouvir os diversos hits de sua discografia.

Acompanhado do MC Mr Porter e de uma ótima banda de apoio que tinha, além de uma “cozinha tradicional”, backing vocals, percussionista, tecladistas e guitarrista, Eminem fez um show para nenhum fã colocar defeitos (mesmo com um som estranhamente baixo da metade para trás da pista). Tocou a maioria dos seus sucessos e fugiu de seu último e contestável trabalho, The Marshall Matters LP2, ao cantar apenas três dos seus melhores momentos – dentre eles, Rap God. Soube abraçar seu passado sem medo de ser julgado pelas notórias letras pesadas, sempre atreladas à sua história de vida, como o clássico Stan, Kill You ou Criminal, todos de The Marshall Matters. Tocou diversas músicas de The Eminem Show, talvez o disco mais importante para a maioria dos presentes que ostentavam uma média de idade de 25 anos e que viveram o auge de estrelato na MTV – White America, Without Me e o hino Sing for the Moment levaram todos ao delírio.

Curiosamente, se a banda e Eminem pareciam muito à vontade relembrando o passado, foi somente nas recentes baladas que a sintonia entre os presentes pareceu convergir. Todo o peso e agressividade de sua apresentação se perdia, positivamente, quando vozes diferentes surgiam: Rihanna em Love The Way You Lie, The Weeknd no cover de The Hills, B.o.B em Airplanes Part II e Drake no cover de Forever. O coro uníssone só pôde ser seguido quando My Name Is ou Lose Yourself foram executadas.

A resposta e o entusiasmo do público fizeram o rapper, conhecido pelo seu temperamento particular, lamentar os seis anos de sua última apresentação no Brasil. Aos 43 anos, ele continua em total atividade e, entre trechos e músicas inteiras, executou 33 atos diferentes. Mesmo com a sensação nostálgica de hits do passado, assistir a um show de Hip Hop com uma ótima banda de apoio mostra que a realização acertou ao investir no estilo e ao fugir da clássica e muitas vezes incompleta combinação de MC e DJ em festivais. A presença de palco de Eminem é invejável e demonstra que ele está longe de sua aposentaria (mesmo com uma recente discografia desalinhada com o atual momento que vivemos). Por fim, a recepção calorosa do público é o sinal de que temos uma demanda por grandes artistas do gênero e que, ao abranger com mais afinco o Hip Hop, o evento chegará cada vez mais perto de sua proposta inicial: manter todos os estilos bem representados em quantidade e qualidade.

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ARTISTA: Eminem
MARCADORES: Cobertura

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.