Nicolas Jaar e Suas Ambiguidades Encerraram o Dekmantel 2017

Músico incorporou faixas de toda a sua carreira no “live set” mais marcante do festival

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Fotos: Ariel Martini

Ao esbarrar com um amigo ao final da tarde de domingo, ele elogiou a escolha de Nicolas Jaar para encerrar o fim de semana, pois segundo ele, daria uma acalmada em todo mundo. Ao mesmo tempo em que é fácil entender a intenção por trás da afirmação e até concordar com ela, o estado da cabeça dos milhares de presentes após a apresentação não poderia ser mais diferente.

Talvez seja esta ambiguidade a única constante do trabalho do produtor chileno, tanto em seus lançamentos quanto em suas apresentações. Poucos na música Eletrônica hoje tem um domínio tão profundo de referências dançantes quanto ele, que conviveu com sons latinos e africanos durante sua formação musical. Mas, para mim, os momentos de melhor absorção de toda aquela experiência foram aqueles em que fiquei estático, apenas observando o controle que Nico tinha sobre seu som e a reação física quase que ritualística que vinha de seu público.

A outra ambiguidade muito presente em sua performance é entre a sujeira e a elegância. Nicolas Jaar já revelou em diversas entrevistas que há alguns anos, trabalha todos os dias, praticamente sem pausas, em novas faixas, o que obviamente deve tê-lo ajudado a aprimorar sua técnica e a dominar suas ferramentas. No entanto, é o ruído, o barulho, o acidente que parece atraí-lo e roubar a cena nos momentos mais marcantes de suas faixas. Mesmo assim, tudo é apresentado para nós no tempo certo, com uma roupagem elegante, que estimula a reflexão e a contemplação de forma única na música Eletrônica.

Como numa raspadinha de loteria – referência usada na capa de Sirens, seu mais recente álbum -, o caos sonoro de seu set vai tomando forma e faixas importantes ao longo de sua ainda breve carreira podem ser reconhecidas como Killing Time e No – cantada em espanhol e escrita inspirada pelos horrores da ditadura do general chileno Pinochet -, um dos destaques da apresentação, além de Space Is Only Noise If You Can See, destaque de seu elogiado disco de estreia e Mi Mujer, faixa de 2010 e outro ponto alto da noite.

Nicolas Jaar apresentou um live set emocionante e que justificou sua posição de destaque entre os nomes do Dekmantel. Seu som nos guiou numa jornada marcante para quem estava por lá – evidente nas expressões confusas de quem saía do Main Stage ao fim da apresentação – e que funcionou perfeitamente como encerramento da programação de um festival tão especial, pois de alguma maneira, nos deixou, naquele momento, plenamente conscientes em relação ao presente e ao que estávamos vivendo.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.