Spoon: “Talvez sejamos maduros, talvez sejamos sem noção”

Banda do Lollapalooza Brasil 2018 comenta um pouco de sua história

Loading

Ao lado de David Byrne, Pearl Jam e Red Hot Chili Peppers, Spoon vem como um dos “veteranos” da vez, como sempre costumamos encontrar no Lollapalooza Brasil. Com mais de duas décadas de experiência e uma discografia de peso, não tem como categorizar a banda de outra forma. Sua inquietude criativa, porém, faz com que cada lançamento seu pareça feito com um pique sempre novo, ou renovado, sem medo de correr riscos ou mesmo de desagradar os velhos fãs. “Talvez sejamos maduros, talvez sejamos sem noção”, revelou Jim Eno ao Monkeybuzz.

Já no Brasil para os shows (um no festival, outro com The National no Rio de Janeiro), Spoon recebeu a reportagem sem esconder sua felicidade de voltar ao país para sua terceira turnê por aqui (“é incrível poder voltar”). Em um papo descontraído, ainda que rodeando assuntos que remetam a seu (ainda) recente Hot Thoughts, os músicos não deixaram também de olhar para o passado e relembrar um pouco de sua história.

“Quando começamos a tocar, há 25 anos, não achava que fôssemos fazer isso por tanto tempo. Era algo legal de se fazer, então continuamos tocando”, revela Eno, “é interessante olhar para trás e perceber como fizemos algumas coisas porque não fazíamos ideia de como fazer algo melhor. Tem uma música, Chicago at Night, que tínhamos duas mixagens e não sabíamos qual usar, porque gostávamos do lado esquerdo de uma e do lado direito de outra, então somamos as duas. Quando eu lembro disso hoje, eu penso “cara, que burros” (risos), mas era ótimo se sentir à vontade para fazer algo assim. Lembro do cara que foi masterizar, ele abriu a música e “wow, que merda é essa?” (risos), tinha phasers de guitarra que não tinham nem a mesma duração nas duas versões. Poder ser “sem noção” assim faz muito bem para a sua música”.

“Naquela época, estávamos na estrada e precisávamos parar em postos de gasolina para dar entrevistas pelos telefones públicos. Agora é muito mais fácil”, explica ele, “acho que era muito mais ‘misterioso’ ter uma banda. Você ouvia Sonic Youth, mas não sabia o que Thurston Moore comia no jantar (risos). Agora, com redes sociais, você mantém uma presença forte. Por sorte temos jovens na banda que nos ajudam (risos), estamos cada vez melhores nisso. Sim, você precisa se ajustar, mas, no fim das contas, a questão é que música que você faz”.

Não é difícil notar uma certa naturalidade no som que Spoon trabalha, que parece ter uma relevância sempre atual para o público do Rock Alternativo e do Indie Rock – isso para além da qualidade de suas composições e produções. Quando perguntados sobre os rumos que seus discos tomam, Alex Fischel logo respondeu: “Você muda enquanto pessoa, você evolui como ser humano, tendo novas experiências que te ensinam muito – por exemplo, vir ao Brasil e fazer shows. Todo dia é uma nova experiência que você adiciona à sua vida. Então, isso influencia 100% a arte que você faz. As coisas mudam, elas mudam você, daí a maneira como você vê sua música também muda. Pode ser algo novo que você nunca tenha ouvido antes, ou mesmo um livro que leu, tudo te muda. Da mesma forma, você não quer se repetir, você cobra de você mesmo que faça algo novo”.

“Acho que, conscientemente, nunca temos que decidir fazer algo que tenha nossa cara”, completa Eno, “nós sabemos o que gostamos, sabemos o que já fizemos, tentamos não nos repetir e estamos sempre de olho no que pode ser feito. Eu gosto de um som novo e vejo se ele combina com nossa música. Às vezes, rola até uma insegurança, você pensa ‘será que eu tenho que fazer assim mesmo?’, e isso é muito bom, é a hora que sabemos que podemos arriscar mais”.

Parte do ânimo para experimentar e estar sempre atento ao que acontece na música de hoje vem justamente de participar de festivais como o Lollapalooza, ou mesmo de excursionar com outras bandas mais jovens: “Fazer uma turnê com White Reaper, que abria todos os nossos shows, nos deixava com vontade de tocar em seguida”, diz Fischel. “Mas também já teve outras bandas com quem tocamos que nos deixavam bravos sempre que subiam no palco (risos)”, brinca Eno.

É com esse espírito, com essa força criativa, que Spoon mantém o pique para tanto trabalho, mesmo aos 25 anos de atividade. “Olhamos sempre para o futuro”, explica Eno, “eu consigo ouvir nossos discos velhos hoje. Eu não ouço, mas eu consigo (risos)”.

Loading

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.