A Doce Solidão De Andy Shauf

Cantor e multiinstrumentisa canadense chama a atenção por seu talento

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Dentre os muitos álbuns resenhados por este que vos escreve para o doce e sincero Monkeybuzz em 2016, estava o quarto disco da carreira do canadense Andy Shauf, The Party. Gostei tanto do que ouvi que o inseri entre meus favoritos de 2016 por vários motivos. Talvez o mais importante foi a percepção imediata que tive ao ouvir as canções de Andy, a de que ele era um exímio artesão de melodias, característica em falta na música atual. Mais que isso: Andy soou como um músico capaz de valorizar o próprio formato do disco, este ramalhete de dez, doze faixas, explorando a possibilidade de contar uma história maior. No caso de The Party, Shaufman se deixou levar por vários personagens que encontramos em festas. Do solitário ao popular, do pegador ao nerd. Não só isso, uma das melhores canções do disco, Early To Party, fala justamente do que sentimos quando somos os primeiros a chegar numa festa. Algo que quase todo mundo tenta evitar.Por conta do conjunto de detalhes contidos num só álbum, como não se aventurar a contar mais da vida do sujeito?

Shauf nasceu em Regina, na província canadense de Saskatchewan, situada no centro-oeste do país. Não precisamos dizer que há boas chances de se tratar de um cafundó deserto, gelado e inóspito na maioria do ano, o que justificaria plenamente o gosto/opção de Andy pela solidão. Enfurnado no porão da casa dos pais, donos de uma loja de eletrônica, o menino cresceu se familiarizando com instrumentos musicais e geringonças em geral. Ao longo da adolescência viu a viabilidade de exorcizar frustrações e demônios pessoais através da música, uma vez que o sujeito aprendeu vários instrumentos…sozinho, especialmente piano e guitarra/violão. Em 2009 já tinha várias composições prontas e gravou uma fita chamada Darker Days, um título bastante sintomático para o que tinha em mente como fonte inspiradora como artista. O curioso é que não há um só sinal de depressão/tristeza na música que Andy produz.

Comparado com frequência a Elliott Smith, muito por conta do apreço pelo Folk como ponto de partida estético, Andy Shauf tem certo senso de humor para lidar com as intempéries emocionais. Mais que isso: exibe uma fluência como músico que, com o perdão dos fãs de Smith, deixa o finado trovador de Portland no chinelo. Andy passeia com elegância por influências de ontem e hoje, fazendo um tipo peculiar de música Pop inteligente e instigante, com cara de algo que sempre esteve presente em nossas vidas, ou seja, canções com instrumental bem tocado, vocais cuidados, letras legais e vontade de cantar junto. Os dois primeiros registros de Andy, Darker Days e Waiting For The Sun To Leave (2010) são mais folksters, trazendo uma maioria esmagadora de canções com arranjo para voz e violão, todos muito criativos, abusando de vocais interessantes, além da fluência no instrumento, mostrando que Andy entende do assunto e pode fazer mais com menos. Ecos de Simon & Garfunkel, Neil Young e Wilco estão por toda parte.

A partir de 2015, o sujeito passou a ser integrante do selo Tender Loving Empire, marcando o relançamento de um terceiro álbum, o belo e pungente The Bearer Of Bad News, originalmente gravado e lançado regionalmente em 2012. Neste trabalho é possível ver o quanto de abertura Andy deu à sua paleta musical. Vieram canções com arranjos de cordas, metais e um apreço inédito pelo piano, o que fez com que muitos momentos soassem como primos tardios de composições de John Lennon em seu clássico álbum Imagine, de 1971. Belezas como Drink My Rivers e I’m Not Falling Asleep dão a pista do que o homem passou a fazer em termos voz/melodia, mostrando um salto qualitativo impressionante. Entre o fim de 2014 e o início de 2016 viria o sensacional The Party, aclamado aqui na redação e mundialmente, entrando na lista de várias publicações legais por aí.

Uma olhadinha no site de Andy mostra que ele esteve excursionando por Europa e Estados Unidos por todo o segundo semestre de 2016, turbinado pelo sucesso do último álbum. Com poucas férias, o cara segue na estrada, estando, precisamente, na Costa Oeste americana por estes dias. A partir de fevereiro ele retorna para a Europa, tocando em lugares como Noruega, Inglaterra, Holanda, França, Suiça, Alemanha e Itália, comprovando o sucesso mundial que já é uma realidade. Talentoso, introspectivo, refinado, Andy Shauf é aposta garantida para os próximos anos. Fique de olho e ouça tudo do cara.

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ARTISTA: Andy Shauf
MARCADORES: Artigo, Conheça

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.