Música em plano cartesiano? Se até hoje nunca tinha me ocorrido correlacionar esses dois mundos divergentes (e acredito que com vocês isso também não tenha acontecido), ao ouvir o som do quarteto Descartes isso começou a fazer mais sentido. Não somente por seus membros batizarem a banda com o nome do filósofo e matemático francês criador do tal sistema, mas por somarem uma parte de muita racionalidade (e basta prestar a mínima atenção em suas letras para notar isso) a uma outra parte, segundo o baixista Maurício Rossini, lúdica.
Se de alguma forma isso soou pretensioso, basta ouvir as faixas do grupo de Caxias do Sul (RS), para ter certeza que não é disso que se trata sua música. A mensagem por trás das faixas é sim importante, mas de forma alguma ela se torna reclusa ou cabeçuda demais. O tal método filosófico que a banda toma como mote serve para organizar as ideias e facilitar a fluência delas nas letras, nada mais que isso. E, como diria René Descartes, “Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir”.
”Acho que as letras refletem a nossa vivência. Escrevemos e cantamos da maneira mais sincera possível e levamos a mensagem não só pela música, mas a cada ideia trocada. Acho que essa é a chave, o som não passa nada além do que nós somos e sentimos e por isso soa verdadeiro”
Musicalmente, o grupo se apresenta também bem aberto às mais variadas ideias. “Na verdade, nós não definimos muito bem as influências, pois elas variam conforme a fase que nos encontramos”, nos contou Rossini, que ainda continua “o lance mesmo é não nos proibir de testar, se der vontade nós colocamos no som e, se ficar bom ali, permanece”.
A fase atual do grupo transita entre referências diversas, que vão do Hardcore à Psicodelia, pelo menos esses são os ingredientes primordiais do primeiro EP da banda, Steve Julio e de seu futuro primeiro álbum, Ensaio, esperado para breve, pelo selo Honeybomb. “A ideia é experimentar sem medo, criar uma sonoridade mais livre. Acho que isso nos define: liberdade”
O grupo se formou a partir das cinzas de um outro, no qual Maurício, Léo Lucena (também membro do grupo Catavento, que já foi dica no Ouça: Bandas) e Diogo Dall’Agno faziam parte. Francisco Maffei, produtor de algumas bandas do selo Honeybomb, completou o time e assumiu a segunda guitarra. A partir dali a banda começaria a convergir suas influências e gravá-las, o que resultou em seu primeiro registro, lançado em 2012.
Dois anos se passaram desde então e o grupo prepara o lançamento de seu primeiro álbum. Ensaio ainda não tem data de lançamento firmada, mas você pode ouvi-lo na íntegra em uma sessão ao vivo. Se sem maquiagens de pós-produção o conteúdo soa muito bem, imagino que quando estiver completamente produzido ouviremos um dos grandes álbuns do ano.