Ouça: Raça

Quarteto paulistano faz Hardcore lisérgico concentrado em atitude DIY

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O Hardcore foi provavelmente um estilo que moldou toda uma geração no Brasil durante os anos 1990 e 2000. São inúmeros exemplos de bandas que bebem de diferentes variáveis do estilo, todas sempre com um elemento comum e indissociável: a cólera. Dentro deste nosso histórico com o gênero, o Brasil continua firme e forte em sua expansão e, a cada nova geração de músicos, encontramos novos grupos que podem nos trazer frescor a popular forma de expressão musical.

Raça é um exemplo vivo de que o espírito DIY pode continuar a nos trazer boa música. O quarteto paulistano (formado por Popoto Martins, Lucas Tamashiro, Novato Calmon e Thiago Barros) parece querer fazer tudo sozinho: desde a arte de seus discos com ilustrações bastante características até o som criado com sonoridade própria. Obviamente, um estilo tão disseminado como o Hardcore não permite inventar criar a roda, mas saber conduzi-la muito bem – e isso o grupo faz com maestria.

Lembro-me de ouvir um mixagem sem masterização de seu primeiro disco, Deu Branco, após recebê-lo de presente de um amigo em comum. Impressionado com a crueza tanto de suas letras que abordam relacionamentos infundados, sonhos lisérgicos ou simplesmente a superação, quanto no instrumental encaixado e distorcido, tive certeza que existia um bom material ali. Uma busca mais concentrada me fez deparar com trabalhos anteriores em sua página do Soundcloud e uma faixa em particular me empolgou excessivamente: Hoplias de seu primeiro EP, NINHO.

Raça – Hoplias

A mistura entre distorção e lentidão de versos e guitarras, característica marcante do grupo que faz uma espécie de Post-Hardcore misturado ao Post-Rock, chama atenção na faixa. Sua letra trata do ciúme e dos extremos que chegamos em uma relação – a combinação entre música e melodia acaba entregando uma faixa sufocante e viciante. Obviamente, eles sabem fazer música rápida como o Hardcore pede, no entanto é nos momentos de calma dissonante combinados a vocais nada trabalhados e somente sinceros, rasgados e crus que os olhos e ouvidos se atentam.

A vontade do grupo em não se rebuscar vocais ou timbres, trazendo muito Lo-Fi na sua mistura distorcida, trouxe trabalhos extremamente interessante em sua curta discografia. No entanto,Deu Branco acabou recebendo um tratamento de remasterização impressionante. Feito por Miu, ex-integrante do grupo Jennifer Lo-Fi, o disco ganhou graves, texturas e profundidade e se tornou ainda mais marcante. Pode ter perdido um pouco do DIY em benefício próprio. As onzes faixas do álbum devem ser ouvidas por qualquer fã do gênero e mostram que o território brasileiro é certamente extremamente fértil para surgirem bandas como Raça.

Raça – Pipa

Provavelmente, seus versos ficaram presos na cabeça sem você perceber e trechos de CV, Camila , Azul ou Pipa serão cantados nos seus momentos mais pessoais. Sem nunca se esquecer da coléra, Raça parece coincidi-la com a vontade irrestível de beber da lisergia para entregar um som extremamente cru e denso, viajado e agressivo na medida certa para agradar até quem tem muitas vezes medo do Hardcore. Ouça sem nenhuma hesitação.

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ARTISTA: Raça
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.