Ouça: Ava Rocha

Cantora, já na atividade há algum tempo, chega ao seu voo solo carregado de muita psicodelia

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Ava Rocha não é necessariamente uma novidade no mundo artístico. Filha dos cineastas Glauber Rocha e Paula Gaítan, a cantora tem o envolvimento com outras artes desde da adolescência quando ainda fazia filmes e clipes, influência natural de sua família audiovisual. No entanto, ela revelou sua alma para a música quando o seu primeiro projeto, AVA, uma banda formada pelos também músicos Emiliano 7, Daniel Castanheira e Nana Carneiro, lançou Diurno em 2011. O ótimo disco também seria o último com essa formação e alguns anos se passariam até que a cantora tomasse forma em um projeto solo com as suas iniciais.

A MPB engloba tudo o que pode ser considerado de popular na música brasileira e Ava Rocha sabe muito bem abraçar esses elementos com uma gigantesca originalidade. Em alguns momentos, ela se aproxima do Folk, em outros do Rock, até figurar entre os estrelados estilos, Samba e Bossa Nova, mas todos parecem ser colocados fora de contexto em sua carreira: desfigurados e psicoativos. A ruputura de sua carreira marcada pelo único disco surgiu recentemente em Ava Patrya Yndia Yracema, trabalho que bebe naturalmente das nossas origens aborígenes com outra roupagem. A ruptura é tão grande que podemos considerar Ava, agora com seu sobrenome Rocha, um artista em nova fase artística, agora sozinha e ditando o seu rumo.

Parcerias e composições em conjunto existem e este é segundo disco da carreira de Ava, mas o primeiro que transpira controle e vontade próprias, além do adjetivo “solo”. Os toques psicodélicos inerentes à sua carreira estão mais exarcebados e a mistura que surge com elementos diversos da MPB, como o groove de Jards Macalé ou o poder e a loucura dos primóridos de Gal Costa, fazem de Ava Patrya Yndia Yracema um disco imperdível. Lançado em 2015, o trabalho tem momentos que revelam o melhor da história música brasileira aplicados aos tempos modernos – como a linda Hermética, com variações em seu meio que nos levam às tribos ameríndias datadas do descobrimento, ou a ótima Boca do Céu, marcada por uma letra aliterada e sonora típica do nosso país.

Toques regionais, como flautas amazônicas, se fundem ao samba de raiz e do cortejo do noturno em Beijo no Asfalto, no entanto, nunca conseguimos nos concentrar em um gênero nas criações de Ava: suas músicas se fundem, misturam e criar rotas surpreendentes e nunca lineares. A complexidade e a inventividade de seus arranjos trazem o sabor da psicodelia nada óbvia, trazendo momentos que parecem compostos como obras audiovisuais – é facil imaginar um acompanhamento visual para diversas faixas, como a romântica Mar ao Fundo ou a folclórica Uma.

A fumaça que percorre a capa de Ava Patrya Yndia Yracema já revelaria o seu teor toxicológico, porém a sinestesia proporcionada em toda a sua duração nos faz imaginar que, como dona de sua própria obra, Ava tem ideias muito claras do quer alcançar na música: retomar as raízes psicodélicas eternizadas na música brasileira. Obviamente, esse trabalho pode ser considerado o primeiro de Ava Rocha sem uma banda formada, mas nunca sem parcerias certeiras. No disco, estão presentes os nomes de Negro Léo (marido da cantora), Jonas Sá e Luis Augusto, entre outros. Logo, não perca o seu tempo e não deixe de ouvir a nova fase da cantora em um dos álbuns mais impressionantes no Brasil neste ano, com a grande chance de você se apaixonar e se desconectar da vida por muito tempo.

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ARTISTA: Ava Rocha
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.