Ouça: BIKE

Projeto bebe de muita psicodelia e nos promete um dos grandes discos do estilo no ano

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Sabe aquela sensação de leveza e desprendimento que na maioria das vezes só conseguimos sentir a partir da indução de outras substâncias ou atividades? Ela existe de diversas formas na música e ganha ares ainda mais alucinógenos em BIKE. Feito e idealizado por Julito Cavalcante, baixista da extinta banda The Vain e atual quatro cordas em Macaco Bong e sua Macumba Afrocinética, o trabalho transpira psicodelia do começo ao fim e nos coloca em outro momento do Rock em que tudo parecia convergir para o famoso “Verão do Amor”.

A viagem sonora ganhou as suas primeiras formas quando o primeiro single do projeto composto pelo guitarrista tomou forma. Enigma do Dente Falso tem guitarras espirituais que poderiam nos colocar facilmente na década de 1960, enquanto sua base é feita por um orgão que reverbera de forma líquida por toda a faixa. Ela nos passa a hipersensibilidade lisérgica do LSD – fonte inspiradora para o primeiro disco 1943, a ser lançado em julho – não só em seus acordes e no seu excesso de texturas, mas também nas letras: “A terra treme e os céus chacoalham/resolvemos os problemas do mundo e eles se repetem” dão a melodia certa na música e revelam divagações e pensamentos induzidos que saem do quarto típico do ouvinte.

O escapismo proporcionado se segue ao longo de todo o disco e nos revela inspirações distintas, que passam desde Syd Barret e os primeiros momentos de Pink Floyd e seu Piper Gates at the Dawn até Jards Macalé e os novos filhos da psicodelia brasileira, Boogarins, Supercordas e Bonifrate. Se somente essa faixa já nos deixa aguçados com o que pode se seguir e quais os universos de possibilidades que Julito pode transcender no ácido, uma audição prévia do trabalho nos revela que podemos sentir outras coisas. Não é só o Rock que está sendo o seu fio condutor, mas também uma espécie de alucinação proporcionada por acordes expansivos que permitem o ouvinte se autodescobrir enquanto este enxerga o ambiente ao seu redor de forma leve e desprendida.

Com uma banda ao vivo composta por Gustavo Athayde na bateria, Diego Xavier na guitarra e Hafa Bulleto no baixo, BIKE ganha rodagem para poder extrapolar as criações de Julito e nos fazer chegar a lugares ainda mais distantes de nosso subconsciente. Recentemente se apresentaram no Bananada colocando todos para seguir numa onda boa e neste fim de semana tocam juntos com o Macaco Bong na Casa do Mancha em uma mini-turnê que antecede 1943.

O título, aliás, é uma menção ao ano da invenção da droga feita por Dr. Albert Hoffman e seu famoso passeio expansivo de bicicleta. Podemos dizer que apenas com seu primeiro single já poderíamos sentir os seus efeitos alucinógenos, no entanto, o disco nos revela ainda mais possibilidades de uma viagem leve e reveladora. Mixado e gravado no estúdio MonoMono por Taian Cavalcante do Cabana Café, ele foi masterizado por Rob Grant – produtor a frente das masters de Tame Impala, Pond e Melody’s Echo Chamber -, por motivos óbvios: sua lisergia nos transporta no tempo e espaço e nos conecta com elementos mundanos muitas vezes inesperados. Não deixe de ouvir seu único single enquanto aguarda um dos álbuns que prometem agradar a todos que estão sedentos por Psicodelia brasileira.

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ARTISTA: BIKE
MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.