Quando você consome muito material de alguma vertente da indústria cultural (por exemplo filmes, séries de tv, livros ou, no caso, música), é normal adquirir uma certa admiração ou empatia por alguns bons “fazedores” de obras que te interessam, mesmo que eles não sejam conhecidos por uma maioria. Tenho uma relação dessas há alguns anos com Phil Moore, do duo Bowerbirds. Tem a ver com suas composições (e os temas que ele costuma tratar) e – algo que não é muito comum para mim – com seu timbre de voz em interpretações que conseguem sempre ou me acalmar, ou me colocar no humor certo para o dia (recomendo cafés da manhã ao som de algum disco da banda). Estranho, eu sei, mas é o tipo de coisa que acontece quando a gente consome muita música.
Pois bem, ele divulgou há alguns anos um novo projeto solo, que se chamaria Island Dweller. O tempo passou, ele virou pai e, enquanto trabalhava com Bowerbirds no que será seu quarto álbum, a ideia tomou outra forma e foi batizada como Tuskha, que chegou já com um belo clipe para o single The Program e uma turnê com Made of Oak. Veja você que belezinha.
Ao meu ver, Tuskha está para Bowerbirds como Age of Adz está para uma fase anterior (ou à recente) de Sufjan Stevens. São experimentos certeiros com a música Eletrônica de uma maneira que conserve a identidade de seu autor – no caso, são os mesmos temas trabalhados antes e o vocal de Phil, aquele que mencionei, é trabalhado de forma mais orgânica, mantendo suas melhores qualidades (se quiser entender melhor isso, um garimpo no YouTube mostra vídeos lindíssimos dele ao vivo com o grupo).
E isso, ao meu ver, acabou sendo o maior mérito de Tuskha, apresentar algo novo dentro do que esperávamos do músico sem que isso seja uma persona que pouco faz sentido dentro de sua carreira. Os beats e samples são novos. Uma letra construída por reflexões (“do you know how deep the ocean is?”) em uma interpretação emocionada, não.
Por enquanto, o clipe de The Program no YouTube é tudo o que temos do projeto – nem mesmo faixas no SoundCloud foram divulgadas, mas ele já revelou que escreveu mais de 50 músicas antes de escolher uma parcela dessas para o disco. Logo, vale certamente ficarmos de olho. E se você chegou até este texto sem conhecer Bowerbirds, parabéns, acaba de ganhar duas novas bandas favoritas.
