Ouça: Jovem Palerosi

Produtor paulistano aborda diferentes estilos musicais em seu mosaico Eletrônico

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Existe uma certa tendência no racional humano de se aproximar de fênomenos místicos e tal comportamento é explicado pela própria história de nossa evolução como seres pensantes. O que existe além da vida? Qual é o seu significado? Como explicar o desconhecido? Estas são algumas das questões mais fundamentais que podemos nos deparar e podem ser respondidas através de elementos subjetivos: fé, arte e criatividade são soluções particulares para nos trazer respostas emotivas ao inesperado. É neste caminho que Jovem Palerosi exprime a sua música: a partir de retalhos sonoros que se comunicam misticamente com o ouvinte.

Talvez seja mero acaso, mas o produtor e DJ nascido em São Paulo, que viveu grande parte de sua vida na cidade São Carlos, tem em seu primeiro disco uma série de elementos curiosos que o fazem criar formas próprias. A começar pelo título, Mouseen, origem etimológica para as palavras “música” e “mosaico”, ouvir o curto, fragmentado e onírico disco nos faz nos deparar com a inesperada fronteira entre samples dos mais variados estilos sendo erguidos por uma base eletrônica robusta – o cimento do processo. Invariavelmente, como um mosaico de vidro, existe a estética e o seu comportamento com o ambiente que o recebe: a iluminação pode transformá-lo e o lado atravessado ser reinterpretado por essa interação.

Mouseen não é um trabalho solo e mostra como os talentos de Palerosi como produtor são distintos. Passam por aqui nomes consagrados como M.Takara, Axial e Constantina, entre outros que tornam cada uma das setes faixas do disco fundamentais experiências transcentais. Sou Toda Nanuk é a trilha-sonora para um anime viajado e apegado às tradições milenares dos japoneses (não é à toa que o trabalho foi lançado pelo selo nipònico Bump Foot), Deuses Mutados é o Trip Hop misterioso e escondido nos baús dos anos 1990, enquanto Leste é tribal, orgânica e se comunica imensamente com a cultura brasileira. Ao longo de sete faixas bem dispostas e pouco mais de 24 minutos, o ouvinte se joga por um caminho espirituoso recompensador e viciante.

Incansável, o produtor está à frente de outro trabalho, a banda Meneio, que tange a música instrumental de formas que Palerosi não poderia tocar sozinho e ao vivo. Suas perfomances seguem o formato “live P.A.”, no qual suas composições ganham contornos de instrumentação ao vivo justamente pelo seu cuidado na exposição e construção de ideias sonoras (mesmo que através de samples). Dentro de sua discografia também consta Trilha Sonora de Delírios de um Cinemaníaco, riquíssimo e imersivo trabalho baseado na vida e obra de José de Oliveira, que mostra como o produtor se comunica muito bem de forma audiovisual.

A necessidade de transformar essa colcha de retalhos em imagens ganha, em suas apresentações o acompanhamento visual ideal através de projeções conduzidas pelo próprio Jovem. Como pode ser visto no set abaixo, o mosaico de samples e batidas é infinito e cada novo encontro pode ser inédito. Se você muitas vezes se depara e admira a produção estrangeira Eletrônica através de seus festivais e “boiler rooms” da vida, saiba que o espectro brasileiro caminha com forças próprias (como já falamos em um artigo) e só depende de sua vontade de ir atrás do inesperado. Jovem Palerosi está nesse grupo e é daqueles artistas para se ouvir como trilha-sonora para as suas aventuras diárias.

Jovem Palerosi – Live at Comuna

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.