Declarar-se homossexual em qualquer local de trabalho ainda é um tabu que felizmente vem sendo modificado aos poucos. No esporte e sobretudo no futebol, vemos alguns casos surgindo como forma de rebelião. E o que dizer do Hip Hop? O gênero, que tem de certa forma enraizado um certo machismo pelas suas letras que abordam mulheres das mais variadas formas e jeitos, não pode ser considerado dos mais abertos para que seus músicos possam assumir sua opção sexual. Lembra-se do polêmico caso entre Tyler The Creator e Frank Ocean, uma suposta briga após a declaração de bissexualismo do cantor de R&B? Desmentida posteriormente, é somente uma exemplificação da feriada aberta que temos por ai. Le1f parece não se importar muito com estas polêmicas e é um dos poucos rappers que demonstra abertamente como ele é em sua essência.
Em seu segundo EP, o músico de Nova York, que ficou famoso pela sua produção de um dos maiores hits do grupo Das Racist, Combination Pizza Hut and Talco Bell, cria um experiência densa e feita para as pistas de dança em clubes mais alternativos e obscuros. Aliás, esse marginalismo que Le1f exerce com seu Hip Hop ao abordá-lo de uma forma mais heterodoxa e compromissada foge um pouco do escopo de Hey. Suas batidas estão mais comuns e conseguimos ver a inspiração em outros artistas mais mainstream. Como, Sup, faixa que tem um clima de Lil Wayne, ironicamente um dos artistas que mais fala de mulheres em suas letras. Lembra da analogia presente em Lollipop, por exemplo? Então, esta atmosfera sexy e meio jogada de versar aparece aqui.
No entanto, a personalidade de Le1f é mais latente que suas inspirações e as origens africanas do músico aparecem para contribuir com a qualidade do EP. Como na tensa Boom com percussões interessantes antes de se transformar em um grande minimalismo ou o Trap presente em Wut. Ambos relevam o seu talento para batidas expansivas e acessíveis, um formato de Rap que parece encontrar o seu caminho cada vez mais simples na música. A faixa título, um pouco genérica, e Buzz são momentos que mostram um rapper rápido e preciso que está usando o seu talento para ganhar espaço diante de qualquer Macklemore & Ryan Lewis da vida, algo que o Grammy deste ano mostrou que é a tendência mais aceita pelo grande público.
No curto EP, Le1f chama atenção mas sem deixar grandes memórias daqueles que escutam o Hip Hop procurando sempre algo a mais, uma inovação que é intrínseca ao gênero. No entanto, a grande popularidade atual do estilo não impede que artistas procurem abordá-lo de outras formas e maneiras, tentando deixá-lo mais acessível, algo que é sempre bem-vindo. O rapper se aproxima mais deste escalão e mostra que sua opção sexual é irrelevante diante de seu som, fazendo-o de forma intensa e pesada, sem os preconceitos que vemos por ai. Um homofóbico de plantão ficaria surpreso se fizesse um teste cego com Hey, um curto disco que mesmo genérico alcançará alguns bons vôos não por polemicas mas pela sua sonoridade.
