Resenhas

De La Soul – Smell the D.A.I.S.Y.

Mixtape é um convite para conhecer melhor a lenda do Hip Hop e um dos maiores produtores do gênero, J Dilla

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Ano: 2014
Selo: Independente
# Faixas: 11
Estilos: Hip Hop
Duração: 29:00
Nota: 3.5
Produção: J Dilla

O De La Soul é inevitavelmente uma das lendas do Hip Hop. Além disso, diante de tantos nomes que já nos deixaram (seja por que morreram ou simplesmente acabaram suas atividades), o grupo está vivo e em atividade há 25 anos. Parceiros de longa data de nomes como o Gorillaz de Damon Albarn, firmaram também uma intensa sociedade com um dos maiores beatmakers de todos os tempos, J Dilla. Este, dono de uma capacidade ímpar em criar batidas e samples, participou de alguns dos grandes momentos do trio, como Stakes is High de 1996, obra-prima do gênero e um paradoxo no meio ao fugir do estilo que estava no auge com sons vindos da Costa Oeste gangsta e niilista. O falecimento abrupto do produtor geraria uma período em que o grupo se veria longe de suas maiores inspirações e composições, algo que começa a mudar aos poucos.

Após anos longe das gravações como De La Soul (existem alguns projetos paralelos por ai), o trio promete um retorno triunfal em 2014, uma década depois de The Grind Date, com primeiramente esta mixtape feita especialmente com algumas “sobras” de James Yancey, o grande J Dilla. São batidas que não foram completas devido a sua morte e que agora recebem um tratamento em formato de homenagem: além de suas onze faixas que contém alguns versos antigos do trio sendo pseudo-remixados, temos um documentário sobre o produtor e alguns wallpapers, todos disponibilizados de graça via Bit-Torrent. Para um viajante de primeira viagem, será uma incrível descoberta em sua vida, adicionando um dos nomes mais importantes do Hip Hop alternativo à sua coleção de inspirações enquanto para um fã de longa data, como este que voz escreve, é mais um bom momento do trio de Long Island com toques quase retrô.

Smell The D.A.I.S.Y (DA Inner Soul of Yancey) é um belo retrato pessoal de De La Soul ao seu grande amigo e produtor. “Dilla não só produzia pra nós, ele era uma inspiração e muitas vezes nos deu os primeiros impulsos e direções aos nossos álbuns” é escutado no documentário adjunto, Still Shinning. E logo podemos escutar traços de seu talento na abertura Let The King Ascend com seus usuais shots de batidas enquanto o início do Jazz Rap começa a surgir. Who tem alguns versos antigos que um fã logo reconhecerá como Ooh de Art Official Intelligence de 2000. Músicas vem e vão e escutamos algumas linhas já conhecidas, como as de Oodles of O’s, Potholes in My Lawn ou Fanatic of the B World, por isso que afirmamos que aos acostumados ao trabalho do trio, o gosto de tributo soa ainda mais adequado.

Mas ficamos de boca aberta com a capacidade de Dilla, imaginando caso ainda estive entre nós. Dilla Pluged In é emocionante com sua atmosfera jazzística acrescentada pelo flow de rimas do trio (Plug Tunin, do clássico de estreia 3 feet High and Rising, é sentida aqui) em uma ótima reimaginação, um remix inusitado e interessante. Goes With The World mostra que ainda não existe ninguém no mundo do Hip Hop atual que se equipare a Posdnuos, Dave e Maseo em uma viagem no tempo ao melhor que o gênero teve a chance de escutar e ver. O vibrante baixo e uma guitarra abafada dão um dar tenso a Vocabulary Spills, uma atmosfera totalmente distinta às good vibes de sua inspiração, The Bizness do já citado Stakes is High. The Pitch e Taking The Train são ótimas portas de entrada para o trabalho do trio e de seu grande produtor, enquanto o final da sexual Leave Your Cares Behind com um sample da abertura do desenho Bob Esponja quebra totalmente o ritmo e surpreende de forma positiva.

Como, de certa forma, o ineditismo consiste especialmente sobre as batidas não utilizadas/perdidas de Dilla, dado que várias histórias já foram contadas, seu impacto inicial perde-se um pouco para mim, mas não deixa de me encantar em nenhum momento. Como os trechos de The Magic Number em No More No Less ou o ótimo “cover” de Marvin Gaye e seu clássico Sexual Healing em Marvin Jaye. No entanto, como grande parte dos leitores ainda não teve chance de conhecer os “homenageados” nesta mixtape, o convite está feito e será muito bem aproveitado com um único porém: inevitavelmente você se verá retornando à discografia do trio, “perdendo tempo” e se tornando um pouco mais ranzinza com o fato de que estes bons tempos ficaram para trás. Mas ficaram para trás mesmo? 2014 surge como um dos anos mais esperados do Hip Hop com o retorno triunfal de um nome vivo e tão necessário à música, De La Soul, com um EP e um disco, You’re Welcome, neste ano. Que venham os próximos lançamentos.

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BOM PARA QUEM OUVE: A Tribe Called Quest, Joey Bada$$, Nas
ARTISTA: De La Soul
MARCADORES: Hip Hop, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.