Resenhas

Paolo Nutini – Caustic Love

Em uma nova abordagem dos anos Soul, disco do escocês vale a pena ser escutado por fãs do gênero

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Ano: 2014
Selo: Atlantic
# Faixas: 13
Estilos: Neo Soul, Rock, Pop
Duração: 51:39
Nota: 3.5
Produção: Dani Castelar

Apesar do nome, Paolo Nutini não é um novo superstar italiano, descolado, fã de Soul Music e outras sonoridades vintage. Se você não foi apresentado/a ao trabalho deste jovem cantor escocês, saiba que não achará nenhum arranjo ou visão musical moderna ou atual em sua obra, pelo contrário. Paolo oferece, na medida do possível, várias opções de viagens no tempo, principalmente para quem ainda não se iniciou totalmente na arqueologia musical. Vindo de uma apresentação na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres e do fim de relacionamento com sua namorada, Paolo parece, finalmente, ter encontrado a quilometragem de experiências necessária para poder ser chamado de “cantor de Soul Music”. Senão, vejamos: Caustic Love é seu terceiro trabalho em 8 anos. Nutini mostrou desenvolvimento considerável desde a estreia com These Streets, quando tinha pouco mais de 20 anos de idade e foi considerado como mais um desses jovens prodígios musicais, que surgem de tempos em tempos. Hoje ele canta melhor e compõe com mais foco e noção. Após cinco anos sem material inédito e com a presença do engenheiro de som e agora produtor, Dan Castelar, a capacidade criativa de Nutini parece ter atingido seu ápice.

O primeiro single e faixa de abertura do disco, Scream (Funk My Life Up) é uma pequena beleza de canção naquele equilíbrio de arranjo entre o referencial Rock (no sentido Faces do termo) que flerta e se arrisca na fronteira de ritmos mais negros. Let Me Down Easy, logo em seguida, é mais afeita à noite e à danação que surge no fim da noite, no fundo da garrafa, antes de recorrer à chegada do dia seguinte. A participação da veterana cantora Bettye Lavette obriga Nutini a evocar referências mais profundas. Após a vinheta engraçadinha Bus Talk, a melhor canção de Caustic Love, One Day, tem lugar. Andamento clássico, clima de balada padrão James Brown, com cordas por todo o arranjo e melancolia tomando conta. Numpty já passeia por uma das ruas menos conhecidas de Memphis, terra do selo Stax/Volt, com certa elegância e coqueteria. Superfly, vinheta de um minuto com título de clássico da Soul Music (cortesia de Mr. Curtis Mayfield) traz andamento com malandragem de bateria no arranjo e serve de aperitivo para outra bela canção, Better Man, que se inicia com canto/lamento sobre insinuações de piano elétrico, para embarcar numa beleza de levada decalcada das melhores invenções de Van Morrison.

Iron Sky, logo em seguida, é triste e psicodélica ao mesmo tempo, com um bom desempenho vocal de Paolo, que se repete na próxima canção, Diana, com pontuação de piano elétrico e bateria de aro, que servem de invólucro musical para as intervenções doloridas de voz, entre o registro baixo e agudos/falsetes bastante interessantes. Fashion, outra homônima de clássico do Rock’n’Soul (neste caso, de David Bowie e John Lennon) tem andamento mais funky com direito a participação de Janelle Monáe no refrão, mandando bala num simpático rap. Looking For Something lembra algo da encruzilhada mais noventista da música negra, no sentido Terence Trent D’Arby/D’Angelo do termo, enquanto Cherry Blossom é uma inesperada concessão ao Rock dos anos 80, como se fosse possível criar um rótulo chamado Pós Punk Soul. O fecho com Someone Like You é doçura total, que pode lembrar algo belo do Pop sentista até que vocais drifterianos/beachboyanos surgem do nada, dando esta inesperada face praiana à canção.

Ainda que os climas revisionistas às vezes soem excessivos ao longo de Caustic Love, o resultado é bastante satisfatório, livrando Paolo Nutini de qualquer acusação de artificialidade em relação à sua música. Interessante, criativo e cheio de boas intenções, seu novo disco é uma belezinha.

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BOM PARA QUEM OUVE: Amos Lee, James Morrison, Joss Stone
ARTISTA: Paolo Nutini
MARCADORES: Neo Soul, Pop, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.