Resenhas

Fujiya & Miyagi – Artifical Sweeteners

Novo disco do grupo inglês reúne influências de várias décadas

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Ano: 2014
Selo: Yep Rock
# Faixas: 9
Estilos: Alternative Dance, Post Punk Revival, Eletronica
Duração: 38:05
Nota: 3.0
Produção: Stephen Lewis

Ao contrário do que muitos poderiam supor, Fujiya & Miyagi não são dois japoneses enlouquecidos, mas quatro ingleses: Steve Lewis (teclados, vocais e parafernálias eletrônicas diversas), David Best (vocais e guitarra), Matt Hainsby (baixo e vocais) e Lee Adams, integrado em 2008 à banda, na bateria e vocais de apoio. Se o álbum anterior, Ventriloquizzing (2008), era mais voltado para uma abordagem Rock convencional da música mais urbana e moderna, Artificial Sweeteners marca o abraço definitivo do grupo aos ritmos eletrônicos que eles revisitam desde 2003, quando só Lewis e Best integravam o conceito de Fujiya (uma marca de equipamentos de som) e Miyagi (o mentor do chatíssimo Daniel-San em Karate Kid).

As nove faixas do disco compreendem um percurso que, segundo a banda, se iniciaria no Krautrock dos anos 1970, algo que não aparece em nenhum momento do álbum, mantendo o foco nas duas décadas seguintes. A abertura com o single Flaws parece uma canção dos Pet Shop Boys sem os flertes, o desejo de grandeza e a extravagância de Tennant e Lowe. Fica a meio caminho entre um refrão que nunca vem e um instrumental que poderia ser de alguma sobra de sequência de persiguição em Tron. Acid To My Alkalyne eleva o nível consideravelmente, uma fusão de beats que sobraram dos discos mais recentes do New Order com guitarrinhas funkeadas e fanfarronas do INXS, com vocais sussurrados de David Best emulando nuances de Michael Hutchence com maestria. Rayleigh Scattering é instrumental e o máximo que o disco chega de alguma influência Kraut, lembrando alguma coisa do Can, mas subvertida por batidas que soam meio indigentes diante do potencial. A faixa título vem em seguida e traz baterias quebradas, vocais intencionalmente repetitivos e robóticos, resvalando mais para a recente fornada de bandas de Indie Disco ou algo assim. Little Stabs Of Happiness tem levada funky sintetizada, mostra-se bem mais classuda, elegante, emulando o clima das produções Electropop dos anos 1980 sem qualquer cerimônia.

Tetrahydrofolic Acid é uma pequena peça instrumental bem didática e versada em beats rápidos, teclados que oscilam entre a dança e a contemplação, desembocando em Daggers, com guitarras e baixo de verdade, em meio ao revestimento estroboscópico da pista de dança. Vagaries Of Fashion também lembra Pet Shop Boys, novamente sem o mesmo desejo de grandeza em forma de música, mas sem deixar a desejar, abrindo passagem para a beleza que é A Sea Ringed With Visions, com mais vocais sussurrantes e clima que vai em crescendo, sobre batidas incongruentes e iminente explosão que nunca chega.

Apesar de interessante e divertido, para público e, provavelmente, para os músicos enquanto gravavam as canções, Artifical Sweeteners passa uma incômoda sensação de análise de conteúdo, no caso, da produção de música eletrônica com ênfase nos anos 1980 e 1990, com pouca emoção, grande erudição e o cuidado de não deixar de fora nenhuma influência que possa soar cool ou descolada.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.