Resenhas

Roddy Frame – Seven Dials

Novo disco do músico se mantém fiel ao que ele sempre produziu

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Ano: 2014
Selo: AED
# Faixas: 10
Estilos: Pop, Rock, Alternativo
Duração: 37:12
Nota: 4.0
Produção: Edwyn Collins

É impressionante que um sujeito com 50 anos de idade possa bater no peito e dizer que tem mais de 30 anos de carreira. Este é o caso de Roddy Frame, que já se aventurava nas searas musicais aos quinze anos, em sua Escócia natal. Após algum tempo buscando uma chance, Roddy e sua banda, Aztec Camera, conseguiram contrato e gravaram um álbum que foi saudado como obra-prima em 1983: High Land, Hard Rain, cujos singles We Could Send Letters e Oblivious . A mistura de Rock e levadas de Soul fez com que o grupo (no qual Roddy era o cérebro pensante, guitarrista e cantor) se tornasse uma espécie de alter ego ele. Vieram outros belos trabalhos como Knife (1985), Love (1987) e Dreamland (1993) e Roddy assumiu uma carreira solo a partir de 1998, quando lançou The North Star.

Sua música sempre foi suave, melódica e lírica, e isso não mudou desde sua mais tenra idade. Hoje, ao lançar seu quarto álbum solo, Roddy mantém-se fiel ao que sempre fez. São grandes os intervalos entre as passagens de Frame no estúdio. Ele deixa sua produção seguir um ritmo próprio, lento, mas que gera sempre belos resultados. O trabalho anterior, Western Skies, foi lançado em 2006, e trazia uma temática levemente mais sombria. Após associar-se ao amigo e compatriota Edwyn Collins, Roddy empreendeu turnês em conjunto com ele, que se recuperava de uma grave enfermidade. Agora, sob a égide da gravadora do colega e com sua produção, Frame serve aos fãs um pequeno banquete musical.

A primeira canção, White Pony, é uma balada clássica e bastante característica da produção de Frame, com acenos a alguma pitada de Elton John ou mesmo Paul McCartney, com uma melodia em crescendo, arranjo de cordas e levada épica. A voz de Roddy permanece intocada pelo tempo, sua guitarra tem a capacidade de planar sobre a melodia enquanto a conduz. Coisa muito fina. Postcard, com letra sobre a Golden Gate Bridge, em San Franscisco, é um pequeno raio de sol em forma de canção. Uma levada típica aerodinâmica e que chega a lembrar alguma coisa da versão americana do Fleetwood Mac (com coro que traz reminiscências dos Eagles) emoldura a canção, tornado-a um passeio pela Pacific Coast Highway. Into The Sun é acústica, conduzida pelo violão de Roddy e deságua em um pequeno milagre de ritmo e precisão, com Roddy absoluto em plena forma vocal. Rear View Mirror une alguma fragrância de New Bossa e mostra-se muito próxima da produção do Aztec Camera inicial, lá por 1983, 1984. In Orbit, a canção seguinte, também vai por esse caminho, mas traz levada Soft Rock e arranjo com órgão, o que faz toda a diferença.

Uma inequívoca harmônica pontua Forty Days Of Rain, uma dessas melodias que são atemporais, mas que acenam com possibilidades de passeios felizes pela chuva que o título sugere. English Garden é lenta e melancólica, uma outra visão de dia nublado e chuvoso, daqueles que passamos olhando a janela em direção à rua, enquanto o telefone/celular/whatsapp não chama. On The Waves é puro anos 1980, mas não o que você conhece, mas o que era habitado por songwriters como Lloyd Cole, Paul Heaton e o próprio Frame, capazes de compor pequenas maravilhas de três minutos capazes de encapsular vários momentos musicais dos anos 1970. The Other Side é mais uma balada “mccartneyana” em toda a sua opulência, arranjo, vocais e melodia, abrindo o caminho para o encerramento com mais um número acústico, From A Train, pontuada por violões e os vocais de Frame em letra contemplativa sobre a efeméride da vida quem vem e vai. O crescente da melodia e do arranjo é particularmente belo.

Roddy Frame tem séquito fiel de fãs no Reino Unido, que o acompanhou por três shows em comemoração aos 30 anos do primeiro álbum de sua Aztec Camera, High Land, Hard Rain, que foi integralmente tocado. Todos estavam ansiosos pela excursão que Frame faria logo após. Há uma semana ele deu a partida em uma de suas raras e concorridas turnês. É sonhar muito alto pensar numa vinda dele para nossas bandas. Enquanto isso não acontece, procure conhecer o trabalho do homem, você não vai se arrepender.

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ARTISTA: Roddy Frame
MARCADORES: Alternativo, Ouça, Pop, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.