Resenhas

Echo & The Bunnymen – Meteorites

Lindo trabalho da banda mostra que ela mantém viva e em forma

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# Faixas: 10
Estilos: Psicodelia, Pós-Punk, Alternativo
Duração: 47:43
Nota: 4.0

Não é exagero dizer que existem dois Echo & The Bunnymen. O primeiro, surgido em 1979, foi um dos mais importantes grupos dos anos 1980, com sua maneira peculiar de fundir a vertente menos alegre da psicodelia americana sessentista (via The Doors ou The Velvet Underground) com a aura de novidade que se insinuava no som das bandas que surgiam. Ao lado de The Cure, Joy Division/New Order, com um U2 ainda incipiente, podemos dizer que Echo era uma das mais promissoras formações da época. A segunda versão da banda surgiu em 1997, com o lançamento do disco Evergreen, após um hiato de dez anos. O vocalista Ian McCulloch, o guitarrista Will Seargent e o baixista Les Pattinson constituíam o trio remanescente após o acidente automobilístico que vitimou o baterista Pete De Freitas em 1989. O som era bem próximo dos anos 1980, mas com uma abertura estética maior, talvez influência do Rock britânico da época, bastante afetado pelo Britpop.

Esta encarnação da banda chega ao sexto disco, já sem a presença de Les Pattinson. Acusados de colocar a banda em processo de decadência desde o fim dos anos 1990, McCulloch e Seargent seguiram levando adiante seu som lúgubre e bem tocado/produzido, ora mais cru, como em The Fountain, disco anterior, de 2009 ou mais robusto e impregnado de efeitos e orquestras, caso de Siberia, álbum de 2006. Ambos os caminhos sempre estiveram presentes na paleta de cores do grupo, portanto, nada errado ou decadente na orientação mais ou menos complexa para seus trabalhos, o que nos leva ao novíssimo álbum do grupo/dupla. Meteorites tem um grande diferencial em relação aos trabalhos anteriores e ele está sentado na cadeira do produtor. Lá está Youth, lendário integrante do Killing Joke (seminal banda contemporânea dos anos 1980), responsável por trabalhos tão distintos como artista solo como colaborações com Paul McCartney (no duo Firemen), álbuns orquestrais não-babas para Led Zeppelin ou remixes de gente grauda, do calibre de New Order, Depeche Mode e U2. A verdade é que Youth oxigenou as ideias de McCulloch/Seargent e conferiu a Meteorites uma aura, digamos, que remonta ao glorioso passado oitentista.

Se você é um/a admirador/a da psicodelia atual na música Pop, precisa se deparar com a introdução climática e acachapante que antecede a faixa título, logo no início do disco. A voz de McCulloch segue não afetada pelo tempo e o instrumental oscila entre as cordas orientais, um andamento que poderia lembrar Mercury Rev (LINK) ou Mogwai (LINK), coisa muito linda. A faixa seguinte, Holly Moses, com pinta de single, traz guitarras indianas não-pentelhas e melodia totalmente psicodélica, mas que poderia ser lançada nos anos 1990 por, digamos, bandas como Suede ou a própria Oasis. Mais batas e incenso permeiam a belezura que é Is This A Breakdown, cheia de imagens de piquinique em algum lugar perto do Rio Mersey, na Liverpool natal da banda. Lovers On The Run é dramática e bela, Explosions é bela, a meio caminho entre tristeza e beleza, com destaque para a produção de Youth, amplificando (como se fosse preciso) o poder da voz. O encerramento com New Horizons é puro Echo 1983, parece uma faixa perdida do clássico Ocean Rain, talvez o melhor álbum gravado pela banda em todos os tempos.

Para quem ainda duvidava da atual encarnação da segunda banda mais famosa de Liverpool, Meteorites é, com o perdão do trocadalho do carilho, uma pedrada. Disco lindo, capaz de abrir mentes.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.