“O Ocidente dorme, deixe a Inglaterra tremer, pesada com mortos silenciosos”. É com esses versos que PJ Harvey abre o seu Let England Shake, um dos discos de maior destaque em 2011. Como o choro de alguém que ama sua terra e não se conforma com sua atual condição, a cantora reúne suas diversas referências para criar uma obra sem fronteiras.
Entre as influências, ela cita bandas como The Velvet Underground e The Doors, que conferiram a pegada de Rock Experimental ao trabalho, e pintores como Dalí e Goya. Enquanto o primeiro monta cenários com diferentes elementos, e aparentemente desconexos, em espaços abertos, o segundo soube lidar com temas sombrios e violentos em suas telas – e essas duas características estão presentes no álbum.
As feridas das recentes guerras, como no Afeganistão e no Iraque, ainda estão abertas no canto de PJ, que lamenta o ponto em que a humanidade chegou. “Eu vi soldados caírem como pedaços de carne, com explosões e tiros além da crença, seus braços e pernas estavam nas árvores”, canta ela em The Words that Maketh Murder, enquanto o refrão de On Battleship Hill narra que “A natureza cruel venceu novamente”, uma visão crítica e existencial da raça humana.
Para embalar os versos com tanta carga agressiva, as melodias são, no geral, doces – ainda que tenham uma certa força dinâmica muito própria, como na faixa-título. A interpretação chorosa da cantora ecoa ao longo das canções, em uma emoção que reverbera na mesma frequência até a última música, passando pelo hino England, uma declaração de amor melancólica à sua pátria (“A você, Inglaterra, eu me apego; Amor intrépido e infalível”).
Mas se engana quem ouvir Let England Shake com apenas a Grã-Bretanha em mente. O disco faz uma metonímia ao pegar a terra da Rainha para ilustrar a nossa época, seja no Oriente Médio ou em qualquer parte do mundo ocidental. O lamento é global, tanto é que o som de PJ Harvey consegue ser único e plural ao mesmo tempo.