Resenhas

Willis Earl Beal – Curious Cool

Lançamento surpresa do músico continua demonstrando os seus talentos, mas o mostra estável e repetitivo

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Ano: 2014
Selo: Independente
# Faixas: 8
Estilos: Blues, Gospel
Duração: 34:09
Nota: 2.5
Produção: Willis Earl Beal

Já falamos bastante sobre a alma rústica do cantor Willis Earl Beal na época de seu segundo lançamento, Nobody Knows, um disco repleto de tomadas sentimentais enraizadas no Blues. Sem usar muitos instrumentos além de sua própria voz, este músico, verdadeiramente das ruas, nunca gosta de esconder o que sente ou pensa e podemos perceber que nenhuma de suas virtudes mudou em Curious Cool. No entanto, a sua estabilidade musical pode ser tanto boa como ruim.

Jogando limpo, Curious Cool é o terceiro lançamento do cantor em menos de um ano, o segundo em 2014 após o EP A Place That Doesn’t Exist. Disponibilizado gratuitamente através de sua conta do Soundcloud, é uma resposta do músico à sua gravadora XL Recordings e sua visão “quer fazer as coisas a sua maneira, mas ele (Willis) é um músico de rua e pensa completamente diferente”. Pensando sob este conflito, é fácil entender os dois pontos: seu selo, dono de um direito de cinco discos a serem gravados, quer preservar o seu artista, sobretudo diante de uma clara exposição, enquanto Earl quer somente mostrar as suas criações, mesmo que sejam tão semelhantes entre si. Pelo menos esta é a sensação que temos ao ouvir sua nova obra.

Nos emocionamos e continuamos valorizando sua voz, elemento que sobrepõe quase todas as suas canções por serem Lo-Fi – logo, a baixa qualidade não permite que instrumentos possam ser explorados -, ou por simplesmente não fazerem parte da atual fase do músico. Lust abre o pequeno disco de oito músicas com uma voz cortante que pede que a luxúria vá embora e o deixe em paz – sentimento verdadeiro de um cantor que se vê em meio a fogueira de vaidades do universo musical. Aqui temos o exemplo verdadeiro do que é Willis: sincero e com toques Gospel que tornam o seu Blues bastante experimental, ou simplesmente rústico e seco. Why, no entanto, traz um toque obscuro e denso muito bem-vindo, sendo um contraponto à faixa anterior: enquanto Lust parece ser a confissão, Why é a voz da consicência que o aterroriza.

Seguimos nessa levada bastante calma, quase introspectiva em quase todas as músicas: By the Lake e Say the Words são praticamente irmãs com a utilização de um orgão para conduzi-las, além de se mostrarem os momentos mais melancólicos de toda obra. No entanto, algumas faixas conseguem se diferenciar, algo muito bem-vindo dado que apesar de sua bela voz, Willis se torna um pouco repetitivo para quem já ouviu seus trabalhos anteriores. É em Stay, R&B confessional extremamente sensual com toques eletrônicos, e no agitado Blues de Like a Box II que podemos nos divertir de outras formas, fugindo do esperado.

Ao fim, Curious Cool continua sendo um exemplo da fase Lo-Fi do músico, sendo que este álbum possui uma fidelidade sonora ainda mais baixa: percebemos os graves de sua voz estourando em qualquer aparelho sonoro e a sensação de uma gravação em um take só. Talvez por isso que sua gravadora queira preservá-lo de tantos lançamentos – seus executivos sabem muito bem o talento que tem nas mãos e preferem lapidá-lo à sua maneira, mas, como Willis disse, ele é um músico de rua e tem outras coisas na cabeça. No entanto, o cantor que sempre se mostrou dono de uma personalidade única precisa ponderar se disponibilizar tantas faixas semelhantes o ajuda de alguma maneira pois a repetição, no final das contas, cansa mesmo que você tenha um talento tão distinto como Earl e sua voz.

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BOM PARA QUEM OUVE: Daughn Gibson, Keaton Henson, Nick Cave
MARCADORES: Blues, Gospel

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.