Resenhas

Open Mike Eagle – Dark Comedy

Melhor obra de sua discografia traz um Hip Hop carregado de ironia e batidas interessantes

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Ano: 2014
Selo: Mello Music Group
# Faixas: 13
Estilos: Hip Hop
Duração: 44:15
Nota: 3.5
Produção: Toy Light, Taco Neck, Illingsworth, Cohen Beats, Ultra Combo

Dentro do Hip Hop Alternativo independente, rappers disputam a atenção do público através de batidas e versos, sendo que a falta de um destes elementos possibilita o seu rápido esquecimento. Open Mike Eagle é um daqueles artistas que já tem uma audiência cativa e que havia demonstrado as suas capacidades em seus três discos anteriores, no entanto, Dark Comedy, sua mais nova obra, é o grande chamariz para que que este possa chegar mais longe em um álbum diverso, interessante e irônico.

A começar pelo nome, nada gratuíto, e que realmente tem a ver de certa forma com um ato de comédia: suas faixas fluem como um stand-up do gênero e o rapper, com sua prosa melódica, menos colérica e mais precisa nas tiradas de sarro, acaba tomando conta do disco como um verdadeiro comediante. Temas que passam desde super-heróis, concertos no espaço, mídias sociais e criações artísticas nos tempos atuais são confrontados com batidas bem estruturadas, um pouco sujas e talvez até Lo-Fi, mas que se encaixam muito bem com sua proposta. Não estranhe que as piadas aqui não sejam tão facilmente captadas, pois o música utiliza da ironia na maioria de suas letras – “Dark comedy cold as the ocean/And a LOL cause nobody seems to know when I’m joking” é abertura de Dark Comedy Morning Show, faixa inicial que flui muito bem com sua guitarra crescente e texturas analógicas semelhantes aos ruídos de uma televisão velha.

Em termos de Hip Hop, temos basicamente tudo que vemos no estilo atualmente, como o peso minimalista que vem de Odd Future na ótima Doug Stamper, uma das melhores batidas do disco, ou A History of Modern Dance, violenta canção que passa tensão em cada acorde agudo que a percorre. No entanto, os momentos mais divertidos passam por sua prosa auxiliada por construções mais suaves, como em Deathmate Black, ou na divertida Thirsty Ego Raps, que obviamente tem sua letra concentrada na cena de artistas do estilo que se deliciam a cada verso bem aceito, algo que influencia seu ego e comportamento.

Essa, aliás, junto a Golden Age Raps lembram bastante o estilo de um dos melhores discos de Hip Hop do ano, feito por Freddie Gibs e Madlib, Piñata. Suas batidas pegam bastante do Gangsta Rap e são construidos a partir de samples que exploram os anos 1990 e exalam auto-confiança. Do começo ao fim, Dark Comedy se mistura entre letras interessantes e batidas variadas, pouco restritas a um subgênero e tentam, na verdade, mostrar toda a multifacetada capacidade de Mike Eagle. Qualifiers, por exemplo, foge um pouco da ironia tangente ao disco para se tornar o antídoto grooveado, Pop e direto de toda obra, sendo provavelmente a melhor faixa de todo o disco.

Apesar de em alguns momentos termos a sensação de que a cena do Hip Hop está ficando restrita a alguns nomes somente ou estilos, Mike Eagle e seu coletivo da Costa Oeste, Hellfyre Club – seus membros são os produtores da obra-, tentam criar um álbum divertido e que finalmente mostra uma nova cena dentro do lado alternativo do gênero, o chamado Art Rap, devido ao seu caráter “intelectual”. Não tão nova assim, na verdade, pois foi somente em seu quarto disco que temos o melhor trabalho do músico, mas podemos com certeza esperar boa música saindo do projeto e seus integrantes. Se você está em busca de um versos que explorem o melhor de seus anos dourados e que ao mesmo tempo estejam conectados a música contemporânea, Dark Comedy é certamente a sua solução de seus problemas.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.