Resenhas

David Gray – Mutineers

Cantor inglês retorna com álbum elegante e otimista

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Ano: 2014
Selo: IHT Records
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Indie Folk, Folk Eletrônico
Duração: 48:24min
Nota: 3.5
Produção: Andy Barlow

David Gray poderia ser um destes personagens adoráveis em filmes como Simplesmente Amor, Quatro Casamentos e Um Funeral ou Questão de Tempo. Do alto de seus 46 anos, nascido em Manchester, Gray é um inglês de meia idade, levando adiante suas histórias de enfrentamento do cotidiano. Ele é sensível o bastante para manter suas canções próximas de uma tradição Pop, no sentido de canção composta e cantada ao piano, mas também é capaz de revestir seus álbuns com arranjos que podem exigir alguma sombra eletrônica retrô – como ele fez em seu maior sucesso até hoje, White Ladder (1999) – ou o uso muito sutil deste aparato tecnológico, como é o caso deste novo trabalho.

Para manter essa aliança entre momentos acústicos e outros nem tanto, Gray resolveu chamar Andy Barlow para a produção. Ele foi um dos integrantes do grupo Lamb, de moderado sucesso nos anos 1990 e também é um dos responsáveis pela saudável mistura de passado e presente encontrada na obra de bandas como Elbow, por exemplo. Desta forma, Gray assegurou a contemporaneidade de seu trabalho sem abrir mão se sua receita habitual. As canções presentes em Mutineers são emocionais, belas, simples e sempre com um toque sutil da produção de Barlow, que joga a favor de cada composição, sem fazer com que elas se prendam a um conceito, pelo contrário, possibilitando que cada uma exista com vida própria. Todas são singles em potencial e orbitam um universo próprio. No entanto, a grande mudança que acontece neste décimo álbum está nas letras: David Gray, outrora um orgulhoso compositor de melodias singelas e palavras reflexivas, está de bem com a vida e povoa o disco com mensagens de fé e otimismo sem que isso pareça fora de lugar.

O melhor exemplo disso vem logo no início do caminho de canções, com a bela abertura com pinta de trilha sonora de primeiro dia da primavera levando a tristeza do inverno que é Back In The World. Pianos e programações eletrônicas discretíssimas povoam a faixa, logo seguida pela interessante As The Crow Flies e a faixa título, todas evocando paisagens de triunfo do sol sobre o frio, do arco íris sobre a chuva, do dia sobre a noite, do alpinista sobre o Everest, metáforas talvez batidas mas ainda eficazes neste contexto. Há espaço até para uma típica folk song solar, que é Last Summer, embebida por pianos e com vocal triunfante de Gray. A grande faixa do disco é, sem dúvida, Girl Like You, que tem sua introdução tristonha encampada por uma levada cadenciada em meio a efeitos de guitarra e teclado, evocando um Van Morrison ressurgido na urbanidade de 2014. Bonito.

Lançado lá fora com uma versão de luxo, Mutineers traz outros dois CD’s com gravações ao vivo, sob a forma de um mini-álbum duplo, chamado Cascades. Tudo bem feito, sensível e bem recomendado.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.