Resenhas

The Gaslight Anthem – Get Hurt

Novo disco do quarteto americano traz de volta pequenas mágicas do Rock

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Ano: 2014
Selo: Columbia
# Faixas: 12
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Punk
Duração: 41:09min
Nota: 4.5
Produção: Mike Crossey
SoundCloud: http://www.rdio.com/artist/The_Gaslight_Anthem/album/Get_Hurt_1/

Eu nunca estive em New Brunswick, New Jersey. Mesmo assim, intuo perfeitamente que tal lugar não seja um bom representante desta América que estamos acostumados a ver nos cinemas e no senso comum. Pelo contrário, parece mais um desses cafundós cheios de heróis da classe trabalhadora, de gente que não escolheu morar lá porque é legal ou quente no verão. Mesmo que, para nós, os locais menos favorecidos dos Estados Unidos possam significar, em muitos casos, patamar bem superior ao que temos, para os ianques, há grande distinção entre lugares como News Brunswick e Noba York, apenas para mencionar cidades próximas. Caso não saibam, New Jersey e a Big Apple guardam relação semelhante a que Niterói e Rio de Janeiro possuem.

Este preâmbulo geopolítico serve para que tenhamos a exata noção de que é pouco provável que uma banda de Rock formada em lugares assim seja afeita a experimentos, novidades questionáveis e truques de estúdio. Com The Gaslight Anthem há a compensação entre “falta de novidade” e integridade. A impressão que temos é que Brian Fallon e seus companheiros nunca vão deixar o ouvinte na mão, sempre oferecendo uma mistura eficaz de Rock, Punk americanizado e um toque alternativo fornecido pelo entendimento de que este tipo de música não é próprio para as paradas de sucesso ou o chamado Mainstream. E não é mesmo, ainda que seja extremamente bem produzido, variado, focado e cheio de referências legais. A presença de Mike Crossey (Artic Monkeys , The 1975) no estúdio confere um inegável toque anos 2000 à atual safra de canções da banda, atualizando esteticamente sua obra, posicionando-a não só como uma discípula da visão springsteeniana de Estados Unidos, mas trovejando em ataques de guitarra e vocais que podem ser tanto do Boss, mas também de um Eddie Vedder da vida. Não há erro nisso.

Sucedendo o lançamento de uma coletânea de lados B no primeiro semestre, a banda solta este quarto álbum de inéditas e segue firme na estrada. É impossível não estranhar o peso inicial da primeira faixa, Stay Vicious, com guitarras Heavy Metal anos 70 enfumaçadas, que servem de fio condutor para melodia e vocais surpreendentes. Ainda que o caminho apontado seja animador, o ataque normal da banda vem logo na segunda faixa, 1000 Years, com aquela mistura de Rock clássico, bateria nervosa e vocais épicos, típicos para estádios. A faixa título baixa a bola, com pinta de canção de Tunnel Of Love, álbum de 1987 de Bruce, antecedendo Stray Paper, linda, com guitarras que passeiam pela cidade e trazem outra performance vocal surpreendente de Fallon. Helter Skeleton é puro Replacements , Underneath The Ground tem bateria clássica setentista, toques sutis de guitarra e clima de noite de inverno. Rollin’ And Thumblin’ traz mais ataque, dessa vez lembrando demais Pearl Jam fase Vs, abrindo passagem para a melhor canção do disco (dentre tantas), que é Red Violins, com toques de Van Morrison setentista e mais Bruce, tudo junto e misturado.

A arremetida final do álbum começa com a balada climática que é Selected Poems, com letra e arrependimento e saudade. Ain’t That A Shame, homônima de clássico cinquentista de Fats Domino, é mais “Springsteen encontra Vedder”, veemente e épica. Guitarra dedilhada abre a reflexão de tarde sob o gelo que é Break Your Heart. Dark Places é praticamente uma canção feita para exorcizar demônios da vida cotidiana (ônibus lotado, chefe chato, amor não correspondido, saudade da infância) na celebração que pode ser ouvir uma canção Rock’n’roll no quarto, pensando que está num palco em frente a milhares que cantam junto com você.

Algumas pequenas mágicas, típicas do Rock-como-costumava-ser, ressurgem com pinta de novas, frescas, prontas para nós, neste novo álbum do quarteto americano. Sem mais palavras para indicar.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.