Resenhas

Royal Blood – Royal Blood

Estreia da dupla britânica deve agradar a fãs de Black Keys

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Ano: 2014
Selo: Warner
# Faixas: 10
Estilos: Blues Rock, Rock Alternativo, Rock
Duração: 32:42min
Nota: 3.0
Produção: Tom Dagelty

Você gosta das duplas que fazem som pesado, agressivo, com guitarras rascantes, produção meticulosamente suja e visual nerdificado? Se gosta, aqui está mais um integrante deste nicho musical, fortalecido a partir dos anos 2000, com a existência de The White Stripes e The Black Keys. Royal Blood tem um diferencial interessante e decisivo que contribui bastante para alguma distinção dentro desta fórmula: é uma dupla inglesa, mais precisamente da cidade litorânea de Brighton, uma espécie de Cabo Frio inglesa. Se o som bluesificado, a princípio, não combina tanto com uma vida de frente pro mar, Mike Kerr (baixo e vocais) e Ben Thatcher (bateria) encontraram uma maneira convincente de misturar pitadas de Rock Alternativo (com acenos a grupos como Muse ou Arctic Monkeys à sua argamassa sonora. E funciona.

O sucesso veio em pouco mais de um ano, com a dupla se reunido primeiramente no início de 2013. Em pouquíssimo tempo já tinham fãs famosos, como o baterista de Arctic Monkeys, Matt Helder, que usou camiseta com a logomarca do duo na performance principal da edição 2013 do Glastonbury Festival. Logo depois, Royal Blood era convidado para abrir a apresentação dos Monkeys em Finsbury Park. O burburinho nas redes sociais só ampliou o fascínio exercido pela dupla em seus shows, nos quais ostenta poder de fogo absurdo, com Kerr encontrando sonoridades inesperadas e distorcidas para seu baixo e Thatcher com bom domínio nas baquetas. A configuração de amplificadores e pedais é guardada pela dupla como se fosse a fórmula original da Coca Cola.

O primeiro álbum, homônimo, prova que os dois rapazes tem bons ases no bolso do colete. A produção, a cargo da dupla e de Tom Dagelty (Killing Joke, Arctic Monkeys) confere a sujeira plástica necessária para corroborar a proposta de emular canções cruas e de ascendência Blues, no sentido “bandas inglesas sessentistas tocando Blues”. Os próprios rapazes admitem que sua principal influência é Led Zeppelin, mais que as outras duplas contemporâneas. Mesmo assim, o resultado é muito mais próximo do que ouvimos recentemente do que o som mágico que Jimmy Page obtinha no início dos anos 1970. A abertura razoavelmente furiosa com Out Of The Black é angustiada e com vocais soterrados na suposta guitarrama que Kerr extrai de seus baixos envenenados. Come On Over tem introdução que lembra as canções que Muse gravou em álbuns como Absolution, mas devidamente submetidas a um processo de encolhimento e depuração de influências grandiloquentes. Figure It Out tem um timbre de bateria muito mais oitentista, enquanto You Can Be So Cruel esconde suingue e simpatia em sua levada curvilínea.

Blood Hands é mais torturada e com vocais mais agudos, abrindo caminho para a pancadaria calculada e intercalada com silêncios que é Little Monster. O timbre oco de bateria em Loose Change, o andamento popíssimo em Careless, o peso calculado de Ten Tone Skeleton, numa mistura “Muse inicial encontra Queens Of The Stone Age” e o encerramento com a lânguida Better Stranger.

Esta estreia de Royal Blood aponta para um futuro promissor. A banda abrirá os shows que Pixies fará em sua turnê de outuno no Reino Unido. Agora é esperar para ver o próximo passo da dupla. Você vai gostar.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.