Resenhas

The Vines – Wicked Nature

Longo demais, novo disco do trio parece diluir o poder de sua receita em muitas faixas

Loading

Ano: 2014
Selo: Wicked Nature Music
# Faixas: 22
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo, Garage Rock
Duração: 54:22
Nota: 2.5
Produção: Craig Nicholls e Paul McKercher

Fazer um bom e longo disco de Garage Rock não é pra qualquer um. Se os (pouco mais de) 55 minutos de Manipulator, mais recente álbum de Ty Segall, instigam o ouvinte a pedir ainda mais ao fim da audição, com Wicked Nature, mais novo lançamento do trio australiano The Vines, a história é bem diferente. Formado por 22 faixas (muitas delas bem semelhantes entre si), a obra se torna cansativa e insípida, e o principal motivo disso é sua longa duração e certo exagero na hora elencar quantas músicas iriam para o recorte final do álbum.

É possível entender que Craig Nicholls, vocalista, guitarrista e, agora, único membro da formação original da banda, tenha muito material sobrando, visto que Future Primitive foi lançado há três anos, e que queira mostrá-lo, mas aqui parece ter excedido os limites. Outro ponto que colabora para o fraco resultado da obra é Nicholls assumir o papel de co-produtor, sendo que assume por completo a responsabilidade de produção na segunda parte. Não diria que há problemas na mixagem ou no processo de finalização do álbum – quanto a isso o músico fez sua lição de casa e o disco soa muito bem aos ouvidos -, o problema é, mais uma vez, o grande número de músicas (semelhantes) e essa ambição de criar um disco duplo ainda em seu primeiro passo como produtor.

Ecoando muito do que já feito anteriormente pela banda, Wicked Nature soa quase como um repeteco do que já ouvimos em Highly Evolved, de 2002 (ou memso de seus sucessores). Porém, o poder daquelas doze músicas parecem ter sido diluidas em quase o dobro de faixas – como se espalhasse pouca manteiga em um pedaço muito grande pão, apesar dela estar lá, você ainda sente que está faltando alguma coisa. Claro que o tempo também é um fator importante aqui. Nicholls já não é mais tão jovem quanto era em 2002. Agora, com seus 37 anos, ele mantém pouco daquele pique errático de começo de carreira – ainda que alguns daqueles gritos apareçam por aqui.

Ainda que o senso melódico de Nicholls esteja em dia, sua capacidade de produzir faixas distintas nunca foi das melhores. Com basicamente dois tipos de composições – as abrasivas, com riffs agressivos e com um ritmo acelerado, e as lentas, músicas mais pausadas e harmônicas -, o disco se apega muito a essa dinâmica “agridoce”, que basicamente sempre foi a marca registrada da banda. Se por um lado essa dinâmica (ou a falta dela) agrada parte dos fãs antigos por se assemelhar ao que a banda já fez no passado, se torna cansativa a tantos outros exatamente por este motivo.

Músicas como Metal Zone (e seu quê Grunge), Green Utopia (que pode remeter a Nirvana), Psychomatic (com algo que pode lembrar um Weezer com muita distorção) e Out On The Loop, fazem parte dessa vertente mais agressiva do álbum; enquanto Ladybug (buscando inspiração no Rock Alternativo dos anos 90), Killin The Planet e Anything You Say (com seus riffs à la The Beatles), Venus Fly Trap e Into The Fire mostram o lado mais calminho da produção do trio. Com caracteristicas não muito marcantes, as faixas deixam a impressão de se estar ouvindo a mesma coisa repetidas vezes – e isso por longos 55 minutos.

Wicked Nature não é disco ruim, mas poderia ser muito melhor. Com um pouco mais de dinânimica e uma melhor escolha das faixas (bem como uma diminuição no número delas), este poderia ser um dos grandes lançamentos do grupo nos últimos seis anos. Porém, esse, diferente dos demais, é um daqueles para se ouvir músicas pontuais e não o álbum como um todo.

Loading

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts