Resenhas

The Rentals – Lost In Alphaville

Banda do ex-Weezer Matt Sharp lança seu melhor trabalho

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Ano: 2014
Selo: Polyvinyl Records
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, New Wave, Rock
Duração: 40:23min
Nota: 4.0
Produção: Matt Sharp

Talvez vocês não estejam ligando o nome à pessoa, mas Matt Sharp, cérebro por trás de The Rentals, é o baixista fundador daquela adorável banda chamada Weezer, de tantas glórias e tradições. Ele foi o grande responsável pela concepção sonora do grupo, talvez mais até que o vocalista Rivers Cuomo, que entrava na divisão do bolo criativo com as letras nerds/torturadas de adolescente tardio, sofrendo na mão da modernidade, das meninas e de todo mundo que se apresentasse. Sendo assim, se você estava lá em 1994 e se impressionou pelo ataque retrô-moderníssimo que Buddy Holly exibia, agradeça a Sharp, que ele merece.

Este Lost In Alphaville já é o terceiro álbum da esparsa carreira do grupo, formado por Matt logo após a estreia de Weezer, ainda em 1994, lançando seu primeiro álbum no ano seguinte, The Return Of The Rentals. Ele deixaria Weezer em 1998, após divergências musicais com Cuomo e uma profusão de barracos judiciais bem feios, sobre controle criativo e demais questões adjacentes. Mudou-se para Nashville e chegou a acenar com a possibilidade de não mais produzir nada. Felizmente, aos poucos, Sharp foi emergindo de seu exílio e, em 2004, ele e Cuomo retomaram a cordialidade ao tocarem juntos em um show acústico de sua turnê de retorno. De lá pra cá, ele colaborou com a dupla canadense Tegan And Sara, enquanto manteve The Rentals ativo e funcionando. Após uma série de EP’s lançados de 2009 para cá, Sharp finalmente lança o novo álbum da banda, certamente, o melhor grupo de canções que ele produziu e gravou desde os tempos de Weezer. Ele convocou o baterista Patrick Carney (The Black Keys), as vocalistas Jessica Wolfe e Holly Lessig (Lucius), o guitarrista Ryen Slegr (Ozma), a violinista Lauren Chipman (Section Quartet), além de Joey Santiago (Pixies) e West Los Angeles Children’s Choir e saiu-se com um álbum impressionante.

Para quem se liga em “discos de produtor”, Lost In Alphaville é uma grata surpresa. É evidente a ideia central de Sharp em burilar dez canções em torno da mesma concepção sonora, calcada nas linhas de baixo e, principalmente, no uso do sintetizador, bem ao jeito que preenchia os silêncios nos dois primeiros trabalhos de Weezer. Além disso, a influência de bandas americanas de New Wave, como The Cars, é também evidente para a obtenção dessa liga sonora cremosa por dentro e crocante por fora, com flocos e chocolate por cima. Senão, vejamos. A abertura com It’s Time To Come Home serve como câmara de descompressão para o ouvinte, logo surgem amálgamas de vocais femininos, guitarras em forma de muralha, teclados esparsos e um clima soturno, oitentista, mas original, com a voz de Sharp sussurrando a letra. A festa começa com a canção seguinte, Traces Of Our Tears, agridoce como o melhor da produção de Sharp, cheia de guitarras se confundindo com os sintetizadores, vocais celestiais e a bateria de Carney, intencionalmente soterrada na mixagem. Stardust é quase uma balada não-oficial de bandas como The Cars, abrindo caminho para 1000 Seasons, tipicamente weezeriana, com o relato de memórias escritas num diário secreto, enquanto Damaris resplandece no seu canto triste por mulheres impossíveis na vida real.

A arremetida para o fim do disco tem início com o piano fora de lugar na introdução de Irrational Things, irrompendo em cascatas de sintetizadores e guitarras em pulsação, mostrando que Sharp é capaz de fazer uma falsa balada emocional, teste final de ourivesaria Pop. Tought Of Sound é mais pesadinha, no sentido figurado do termo, permitindo que Song Of Remembering, a melhor canção do disco, surja brilhante e pimpona, com seu refrão em crescendo, andamento de pista de dança no “Túnel do Tempo” e presença feminina nos vocais, como deve ser, além de guitarras em looping e cheias de efeito. Uma ancestral levada de Rock mais clássico conduz Seven Years e leva o ouvinte ao número final, The Future, com ruídos esparsos e estáticos, que vão desaguar numa canção psicodélica, lenta, borbulhante e com pinta de sonho etílico.

Lost In Alphaville é um discaço, recuperando uma discreta (mas marcante) veia experimental e novidadeira que deu as caras lá em 1994 e que foi abandonada por conta das idas e vindas do cotidiano. Só de pensar numa hipotética reunião de Weezer atual com Matt Sharp e seu espírito de produtor e criatura de estúdio, dá pra ter um pouco mais de fé na humanidade e que tudo terminará bem no final. Enquanto esse momento não chega, ele nos forneceu uma trilha sonora e tanto para ouvirmos até lá.

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BOM PARA QUEM OUVE: Eels, Air, Weezer
ARTISTA: The Rentals

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.