Resenhas

Lurdez da Luz – Gana pelo Bang

Primeiro disco da MC paulistana mistura Funk e Hip Hop sem nunca fugir do Pop

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Ano: 2014
Selo: YB Music
# Faixas: 10
Estilos: Hip Hop, Funk
Duração: 36:00
Nota: 3.0
Produção: Leo Justi, Nave, Leo Grijó

Chega a ser criminoso considerar Gana pelo Bang como a verdadeira estreia de Lurdez da Luz, no entanto, após um EP lançado em 2010 que leva o nome da cantora e algumas parcerias com nomes como Black Alien, Nação Zumbi, Garotas Suecas e Hurtmold, a paulistana recebe a alcunha de debutante no mundo dos discos, mas não a de estreante na música. Sua carreira, com mais de quinze anos de estrada, se iniciou no coletivo de Hip Hop Mamelo Sound System, quando fez algumas participações como vocal principal.

Agora, com Gana pelo Bang a cantora quer abraçar a limítrofe fronteira entre o Hip Hop e o Funk, cada vez menos distinta em algumas vertentes dos estilos e muito bem sentida no territorio brasileiro. Para isso, uma parceria produtiva com um dos nomes mais quentes do momento quando se fala de Funk, quase intitulado importação, de Leo Justi, a influência das rimas de Nave, mas sem antes colar tudo isso com Leo Grijó, da dupla Stereodubs. Com um time tão amplo, não poderíamos imaginar um resultado senão o de uma mistura boa e eficiente.

Lurdez tem uma ótima capacidade de grudar versos na sua cabeça sempre exaltando sua feminilidade. A trinca de entrada, Mama Drama, Ping Pong e Beijinho, entra na cabeça e dificilmente sai, cada uma com sua influência: a primeira tem suas bases oriundas do Jazz de um trompete, enquanto a segunda utiliza-se da percussão da capoeira – berimbau e tambores-, para depois cair no R&B usual de Beijinho. Cada momento evidencia a preocupação com as texturas de uma boa produção, mas acaba funcionando de maneira adversa em alguns momentos – a excessiva compressão sonora deixa o som um pouco chapado, não dando ênfase à explosão quando esta se mostra necessária.

Mente Ae contesta esta opinião ao beber de um pouco do Trap e criar um Funk delicioso, dançante e empolgante. Poder é possivelmente o melhor momento do trabalho, com as partipações de Rael Primeiro, Russo PassaPusso e Fael Clássico. A batida repetida flui perfeitamente com os versos dos rappers e Lurdez mostra porque é um dos nomes mais interessantes do Pop também. Sua voz é assimilável, divertida e macia, a trazendo mais perto de nomes recentes, como Karol Conká – esta, com certeza mais nova na música, mas que já se mostrou buscando sonoridades mais acessíveis logo de cara.

O grande valor do disco é a sua transição entre o Funk e o Hip Hop sem nunca perder a consistência de seu trabalho, pois o apelo popular e suas letras ficam meio que presas ao inconsciente do ouvinte, como pode ser percebido em Gana ou Fervo. Acaba aguçando o ouvinte a querer escutar estas músicas em um clube ou, melhor ainda, vê-la ao vivo, pois, longe das amarras de sua produção (que a deixam um pouco estática em alguns momentos), poderemos sentir a sua energia no improviso e em um soundsystem que seja ainda mais fiel à sua presença de palco. No entanto, como “estreia”, Lurdez da Luz mostra que se a busca por sua participação em outros trabalhos era constante, agora se tornará ainda mais normal e evidencia a cena de MCs mulheres. Mostra ao final que esta tende a se tornar cada vez mais forte e espaçosa.

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BOM PARA QUEM OUVE: Rio Shock, Flora Matos, Karol Conká
ARTISTA: Lurdez da Luz
MARCADORES: Funk, Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.