Resenhas

Philip Selway – Weatherhouse

Segundo álbum solo de integrante da banda Radiohead chega mais Eletrônico e soturno

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Ano: 2014
Selo: Bella Union
# Faixas: 10
Estilos: Eletrônica, Rock Alternativo
Duração: 37:07min
Nota: 3.5
Produção: Aden Ilhan

Thom Yorke deveria tomar algumas lições com Phil Selway sobre como fazer um disco solo. Enquanto as investidas solitárias do vocalista de Radiohead permanecem confusas e imersas em abordagem Eletrônica preponderante, mas esvaziada, o segundo trabalho de Selway esbanja elegância, senso melódico e inventividade, além de apontar para um caminho bem distinto em relação ao grupo. É mais um baterista que se aventura em terreno solo e se sai bem, a história do Rock está cheia de exemplos, indo de Don Henley (Eagles), passando por Keith Moon (The Who) e caindo no mais óbvio, Dave Grohl.

O uso que Selway promove dos recursos eletrônicos em estúdio é econômico e orgânico na medida em que os sons sintetizados emprestam revestimento para suas canções. Ele certamente visou os climas mais gélidos e não abriu mão de uma forma mais convencional de composição, uma vez que suas canções exibem os três, quatro minutos protocolares da música Pop. Além disso, um destaque merecido aqui é a bela voz de Selway, ainda que devidamente tratada no estúdio, cumprindo seu papel com desenvoltura. Outro mérito: se sua estreia, Familial (2010) era um álbum mais próximo do formato acústico, em Weatherhouse o panorama muda significativamente, mostrando que ele não tem qualquer problema em ousar e evitar algum tipo de repetição.

Boa parte da excelência na gravação do álbum se deve às presenças de dois sujeitos importantes e multiintrumentistas, Adem Ilhan (que também produz as faixas) e Quinta, que, além de Selway e músicos convidados, direcionam as canções para seu caminho. É bom lembrar que as cordas que permeiam Weatherhouse foram gravadas de instrumentos reais, cortesia do Elysian Quartet e não sintetizadas em algum computador. Philip analisa a interação do trio como algo bem próximo do espírito de banda, de criação coletiva e essa noção se transfere totalmente para as canções, que ganharam uma aura “eletroacústica” sincera. Este é o caso da faixa de abertura, Coming Up For Air, que é espectral, misteriosa, mântrica e soturna, sem abrir mão de batidas contemplativas e a voz que Selway, que paira no ar cheia de efeitos. Outros bons exemplos dessa abordagem estão em Let It Go e seu jeitão de cântico para uma manhã nublada que se inicia; Ghosts, que parece um mergulho num lago gelado (e a mais parecida com a lógica radioheadeana); Don’t Go Now, que tem violão dedilhado e letra falando sobre partidas a serem evitadas e a lânguida Waiting For A Sign*, que chega quase no fim do disco.

Tendo a fragmentação promovida pela pós-modernidade em conceitos como família, planos, esperança, futuro e como eles de desconectaram discretamente em nosso cotidiano, o segundo álbum de Philip Selway prova que é possível aliar originalidade, inteligência, elegância e urgência num feixe de dez belas e tristes canções. Bravo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Mojave 3, Eels, Elbow
ARTISTA: Phil Selway

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.