Resenhas

Steve Aoki – Neon Future I

Disco foge de banalidades, mas não esquece seu viés comercial em uma das obras de EDM mais viciantes do ano

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Ano: 2014
Selo: Ultra Records, Dim Mak
# Faixas: 10
Estilos: EDM, Electro House
Duração: 40:53
Nota: 3.5
Produção: Steve Aoki, Chris Lake, Tujamo, Afrojack

Você pode contestar o papel messiânico que Steve Aoki tem na EDM atual. Suas batidas e principalmente a sua performance ao vivo o fazem um verdadeiro Rockstar na música Eletrônica. No entanto, seus recentes trabalhos o afastaram de suas origens no Dubstep e o colocaram nos holofotes comerciais, os mesmos amados por David Guetta, mas que o fizeram ficar previsível e banal. No entanto, após algumas apresentações pelo Brasil neste ano, passando pelo Green Valley, o produtor norte-americano parece ter encontrando novamente o caminho do sucesso em Neon Future I, disco que bebe do melhor da Electro House e que deve arrebentar em rádios.

Tirando a ideologia futurista que permeia o disco, introduzida na faixa Transcendence, que parece mais um aúdio de auto-ajuda à la Filtro Solar, todo o trabalho é muito coeso, abusando de mixagens com compressores para elevar o volume de cada faixa. Passando por diversas influências e ótimas participações especiais, o álbum funciona tanto para ser escutado em um clube como para fazer exercícios – se você nunca escutou EDM para correr, não sabe o que está perdendo em produtividade.

A faixa título, com participação de Luke Steele do Empire of the Sun abusa de progressões no segundo compasso e traz o vocalista sob uma forma psicodélica eficaz e pegajosa. Ela segue a mesma estrutura que irá acompanhar todo o trabalho de Aoki, uma ótima produção feita para o Pop. No entanto, não trata o gênero de forma usual e mostra no fim que se existe uma hecatombe da música Eletrônica atual pelo excesso de produtores, Steve está aqui para transformá-la, finalmente, em algo inteligente e acessível. O nível de detalhes de Neon Future assusta. Músicas como Back to Earth (com Fall Out Boy) parecem banais no começo, com os mesmos clichés de crescendos seguidos de vocais bem feitos, mas suas transições o trazem para o inesperado, para um bass drop que acompanha todo um trabalho sintético por trás.

Traz um pouco de Deep House nas batidas de fundo de Born to Get Wild com will.i.am, mas sempre com o Dubstep antigo na cabeça – o trabalho de voz nesta faixa, assim como na ótima Rage the Night Away brinca com este estilo, assim como o Hip Hop, trabalhos compartilhados recentemente por Rustie, por exemplo. A levada desta, com Waka Flocka Flame, é acessível e lembra faixas antigas de Florida ou a famosa Get Low de Lill Jon, eternizada no filme Velozes e Furiosos. Entretanto, o bass drop traz tudo para os tempos atuais e nos fazem lembrar que a explosão de Aoki em suas apresentações ao vivo deve se consolidar ainda mais com as músicas de Neon Future I.

Cada faixa parece ser certeira para um single radiofônico ou hit de balada, mostrando que este trabalho deve ser um dos mais escutados no nosso verão na maioria das festas que tiverem a EDM como carro chefe. A versão de Boneless aqui, com a participação dos vocais de Kid Ink, se transforma em Delirious – se o acréscimo do rapper deveria torná-la mais “cantável”, a batida da sua versão anterior já contribui para isso, sendo dificil não ficar com a sua quebra na cabeça, como se fosse uma voz grudando nos seus ouvidos.

As sequências encaixam, e a sensação de uma mixtape contínua dá mais valor ao trabalho, que ainda tem MGK na cheia de suíngue Free the Madness, com ecos de Usher, e Afrojack, no dueto Afroki com os vocais de Bonnie McKee. Um dos símbolos do Dubstep contemporâneo não fica de fora, e a parceria com Flux Pavilion funciona bem em um encerramento digno de balada explosiva – faixa que pode ser imaginada entrando no momento certo e todo aquele cliché de pessoas curtindo a música até o limite sendo criado na mente. Aliás, tal sensação passa o tempo inteiro pela cabeça de quem ouve Neon Future I, um disco que parece banal ou previsível, mas que se mostra muito bem feito, mixado e produzido. Mais do que isso, sua concepção vinda toda de Steve Aoki, atrelando grande parte das músicas à sua performance, fazem deste álbum um dos grandes candidatos a disco de festival do ano, goste você ou não do Pop ou deste tipo de EDM. Escute-o e tente não resistir à sua série de faixas grudentas, e você poderá entender o seu poder de acessibilidade e o mercado criado por trás. Neste reino, Aoki parece dominar, sendo populista sem ser banal.

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BOM PARA QUEM OUVE: hardwell, Rustie, Hudson Mohawke
ARTISTA: Steve Aoki
MARCADORES: EDM, Electro House, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.