Resenhas

Thurston Moore – The Best Day

Novo álbum traz barulho e melodia em doses certas

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Ano: 2014
Selo: Matador
# Faixas: 8
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Punk
Duração: 50:13min
Nota: 3.5
Produção: Thurston Moore

Reza a lenda que Thurston Moore passava por algum lugar de Manhattan quando ouviu My, My, Hey, Hey, de Neil Young, saindo do alto-falante de uma loja de discos. Ficou fascinado pela canção, comprou o disco e, pouco tempo depois, formou seu mitológico e influente grupo, conhecido como Sonic Youth. Mesmo que tal evento seja produto da mente fértil de alguém, ele faz todo o sentido. Ao longo dos 30 anos (!) de carreira na banda e ao lado da esposa, a baixista Kim Gordon, Thurston jamais deixou de exercitar suas duas personas musicais: o punk barulhento experimental e o trovador folk eletrificado urbano. Em algumas vezes (as melhores), Moore conseguiu juntar elementos destas duas facetas.

Sua banda também exibiu essa característica dual. Alternou momentos de caos sonoro e experimentação com momentos introspectivos. As mais clássicas canções de Sonic Youth são as que equilibram estas forças, sendo Teen Age Riot, do sensacional álbum Daydream Nation (1988), o maior exemplo dessa estética. Talvez não por acaso, Moore tenha investido no apuro disso nos últimos tempos, sobretudo em seus discos solo mais recentes, Demolished Toughts (2011) e Trees Outside The Academy (2007), além deste belo The Best Day. Com participações de Steve Shelley, companheiro de Sonic Youth, na bateria, James Sedwards (Chrome Hoof) na guitarra e Debbie Googe (My Bloody Valentine) no baixo, Thurston consegue provar maturidade e uma capacidade rara de manter-se relevante, soar familiar e novo, tudo ao mesmo tempo.

A abertura não poderia ser melhor, com a viciante Speak To The Wild, gloriosa em seus melodiosos oito minutos e meio, cheia de solos que não parecem solos, harmonias curvas, repetições e o melhor que a música americana obteve nos anos 1970, via bandas como Television, gente como o próprio Neil Young e, por que não, Sonic Youth, tudo amalgamado em doses certas aqui. A sensação se perpetua na canção seguinte, Forevermore, com início mais barulhento e incongruente, mas que deságua feliz numa progressão de acordes harmoniosos e levada em midtempo, tudo sob medida para, após dois minutos e meio, a voz outsider de Thurston venha participar da coisa. Tape também surfa nessa onda, com direito a início mântrico e andamento climático, beirando a experimentação. The Best Day tem formato mais radiofônico, guitarras punk e vocais que lembram o iniciante Lou Reed.

A adorável microfonia abre Detonation, mas dura poucos instantes. Logo entra a levada “velvet undergroundiana” e, novamente, a influência total de Lou Reed nos vocais, mas tudo sai da normalidade quando a canção vai em alta velocidade, toda turbinada e com interlúdios levemente enlouquecidos até seu fim. Vocabularies investiga também a alquimia de guitarras e melodia, documentando as possibilidades de andamentos e repetições em quatro minutos e meio de duração. Os vocais surgem de repente, vindos do subterrâneo. Grace Lake é um passeio numa paisagem gelada ao cair da tarde, só que em forma de canção. Totalmente instrumental, ela traz Thurston extremamente à vontade para esgotar possibilidades guitarrísticas e insinuar acordes e caminhos falsos por toda a canção. Germs Burn é a oitava e última música do disco, graciosa, Punk e melodiosa ao mesmo tempo.

Thurston Moore fez mais um disco solo extremamente legal, totalmente vinculado às tradições barulhentas e melodiosas, seus yin e yang pessoal. Eternamente jovem, ele segue ativo e mandando bem.

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BOM PARA QUEM OUVE: J. Mascis, Neil Young, Sonic Youth
MARCADORES: Punk, Rock, Rock Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.