“Lendas são memórias, mas memórias de um passado glorificado, que se tornam lendárias somente em nossas mentes, não necessariamente na realidade”. Vem daí o mote para Legende, novo EP do produtor chileno Matias Aguayo. Parte dessa cisão com o passado parece vir pela sua escolha de seguir caminhos bem diferentes nesta sua nova obra, assim como, contraditoriamente, em voltar a lançar pelo selo alemão Kompakt.
Ao contrário do se esperava ouvir, ainda mais depois de obras tão festivas quanto The Visitor (2013) e Ay Ay Ay (2009), o músico parte para uma vibe completamente diferente, agora, mais austera, sombria, atmosférica, ainda que dançante. A obra é formada por quatro faixas que instantaneamente trazem à mente comparações com bandas como Liars e Beak>, principalmente, pelo seu uso, digamos, mais sinistro dos sintetizadores e pelas melodias cíclicas, intensas e hipnóticas.
Desta vez, Matias se afasta de suas idiossincráticas experimentações expansivas, para seguir um caminho mais contido, introvertido, de certa forma, e sisudo. O produtor se mantém calado em grande parte das canções (só há vocais em Run Away From The Sun) e parece com isso deixar sua músicas menos espontâneas, como a lúgubre Lola In The City pode mostrar com seus sintetizadores mórbidos, baixos carregados e sua aura macabra.
Esse mesmo clima obscuro continua na segunda metade do EP (com a faixa-título e Walty), apresentando variações leves desse humor carrancudo que Aguayo opta por seguir nesta obra, mas sempre mantendo sua verve dançante como peça chave de sua música. Por menos enérgica que se mostre, a obra ainda se mantém interessante e é um passo, no mínimo, curioso do DJ chileno. Só nos resta saber o que está por vir em suas próximas produções.