Resenhas

Scott Walker + Sunn O))) – Soused

Encontro de artistas experimentais se mostra contido

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Ano: 2014
Selo: 4AD
# Faixas: 5
Estilos: Black Metal, Experimental, Avant-Garde
Duração: 48
Nota: 2.0

Scott Walker foi um dos grandes ícones do Baroque Pop nos anos 60 e, desde a década de 80, tem se enveredado cada vez mais fundo na música Avant-Garde e Experimental, sendo o álbum Tilt, de 1995, um dos mais emblemáticos de sua carreira. Esse espectro experimentalista e cada vez mais incomum de Walker gerou o singular Bish Bosch, lançado em 2012, um álbum que leva as extravagâncias do músico ainda mais adiante e choca o ouvinte com sua lírica abusiva e parte instrumental ousada, bizarra e insólita. Em todos os aspectos, uma obra difícil de se ouvir e que requer do ouvinte total desprendimento de idéias preestabelecidas sobre música.

Por sua vez, Sunn O))) é um duo de Drone Metal formado em Seattle e que, desde 1998, tem se aventurado por terrenos do Doom Metal, Black Metal, Ambient Music e Noise. Muitas nomenclaturas de estilos para dizer que a banda experimenta dentro dos mais diversificados ramos do Metal e da “música extrema”, se estabelecendo também como um dos maiores nomes dentro de seu(s) gênero(s). Mais uma vez, se trata de música que não é para todos e que pode causar mal-estar nos ouvintes tamanha a “horripilância” das faixas do grupo.

A notícia de um encontro entre esses dois pilares da música experimental, mesmo com backgrounds tão diferentes, foi surpreendente. Algo que gerou expectativas enormes e mesmo que você não goste da música feitos por ambos, tem que admitir que parte do que há de mais moderno na música moderna – ou pelo menos que há de mais arrojado ou fora dos moldes -, está sendo feito por esses nomes. O resultado dessa união inesperada é o não menos chocante Soused, disco de apenas cinco faixas, porém, que se alongam por quase 50 minutos de muitos drones e do vocal barítono de Walker entoando suas letras perturbadoras.

Seria quase impossível dizer que a obra gera uma audição prazerosa – diria, até, que está bem longe disso. Sintoma diagnosticado também em Bish Bosch. Ainda assim, este se apresenta muito mais insosso no que tange a parte instrumental, mesmo com o acompanhamento dos drones de Stephen O’Malley e Greg Anderson. As guitarras do duo parecem ter sido domadas, elas parecem ter sido colocadas simplesmente como plano de fundo para enaltecer o trabalho de Scott. Visto o que a banda já fez anteriormente, esse poderia ser um álbum que levaria ainda mais a frente o potencial de seu experimentalismo, porém não é o que ocorre.

Na parte de Scott, esse parece ser um prolongamento do freak show visto em seu álbum anterior, porém com menos elementos que o tornem tão apelativo ou interessante. Parte da vanguarda de sua música está nos arranjos fora do comum, nos efeitos sonoros excêntricos, assim como nas misturas obscuras que o músico faz. Aqui, só se mantém intactos a parte lírica e sua forma performática de cantar (dois elementos singulares, é claro), mas parece que falta algo. E essa é a questão. Em um disco em que dois artistas se juntam para agregar um a obra do outro, esse sentimento de perda ou ausência não deveria existir, ainda mais em um nível como é sentido aqui.

No geral, cada artista não tem muito a adicionar à música do outro. A mistura de seus sons se torna estéril, estagnada, carente de momentos interessantes (por mais que faixas como Fetish e Lullaby possam até certo ponto prender a atenção do ouvinte). O que já não era de qualquer forma apelativo a maior parte dos ouvintes continuará desinteressante e os elementos que chamavam a atenção de fãs de cada um dos pólos envolvidos parecem aqui terem sido de alguma forma atenuados. A impressão que fica após algumas audições de Soused, em comparação a Bish Bosch, é que Scott Walker poderia tê-lo feito sozinho, possivelmente o resultado seria de alguma forma mais significativo.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts