Resenhas

The 2 Bears – The Night Is Young

Segundo álbum do duo inglês é noventista sem ser datado

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Ano: 2014
Selo: Southern Fried Music
# Faixas: 12
Estilos: Alternative Dance, Dance, Eletronica
Duração: 67:01min
Nota: 3.5
Produção: The 2 Bears

The 2 Bears são, na verdade, o produtor Raf Rundell e Joe Goddard, da banda inglesa Hot Chip. Assim como a maioria das formações que transitam no equilíbrio entre música dançante e o Rock, o grupo londrino teve que se virar para sobressair-se em meio à maré de formações que buscavam algum traço de originalidade nesta mistureba em especial. A saída para eles foi pensar em sua música, sobretudo ao vivo, como se fossem uma banda de Rock, do jeito mais clássico possível, com excelentes resultados. Em estúdio, com a tecnologia disponível e o mesmo espírito “ao vivo”, Hot Chip sempre mandou bem e tornou-se uma das mais confiáveis fontes de boas canções dançantes do século 21. Com The 2 Bears não é diferente, principalmente neste segundo álbum, The Night Is Young.

Se em sua estreia, Be Strong, de 2012, o duo apostava suas fichas na diversão de clubes e boates londrinas, empreendendo um revival espontâneo e arejado de timbres House, tanto de Chicago, quanto de sua reinterpretação do fim dos anos 1980 em Manchester, agora a mentalidade expandiu-se de maneira incontestável. Há a noção de conceder permissão à música dançante para não ser, necessariamente, moderna e atual. As influências de timbres eletrônicos noventistas é gritante e muito bem vinda, principalmente porque é usada a favor dos arranjos, sem que atrapalhe a percepção das melodias altamente Pop engendradas pela dupla. Como bônus conceitual, o flerte com sonoridades africanas, fruto de uma visita à África do Sul, que serviu para turbinar as influências sem que o álbum fosse tomado completamente por experimentos étnico-musicais que poderiam desandar o caldo. Mesmo assim, a noção de anos 1990 é tão forte que temos a impressão que estamos diante de um daqueles discos que tentavam refletir a tal globalização do início daquela década.

Dá para apreciar The Night Is Young sem qualquer bode arqueológico, o trabalho é moderníssimo. A primeira canção, Get Out é demolidora, tem clima de crescendo cheio de suspense por toda a faixa, cheia de programações sutis e, ao mesmo tempo, funcionando como preparação para o restante do álbum, que tem em Angel (Touch Me), brincando com efeitos de eco vintage para engrenar em pianos House elegantíssimos a partir dos trinta segundos de duração. Money Man surpreende os ouvintes com uma inegável pegada dançante de Reggae, que não compromete o andamento dos trabalhos, com direito a viradas sintetizadas de bateria e vocais harmoniosos. Not This Time tem parentesco com gravações de George Michael no início da década, sem a produção empastelada. See You tem apelo caribenho sintetizado, que alterna estilos e ritmos.

Son Of The Sun é bem mais climática e conta com os vocais dos sulafricanos Sbusiso e Senyaka, quase saindo do segmento dançante, pelo menos no sentido mais convencional do termo. Unbuild It é outra canção sensacional, com bateria sessentista sintetizada e vocais que lembram o jovem Seal, quando surgiu cantando Killer, de Adamski. Modern Family pega emprestado alguns decalques percussivos exóticos e os coloca como pano de fundo/batida e confrontando-os com teclados setentistas e esperançosos. Mary, Mary tem uma inesperada introdução com violão acústico, que é engolfada aos poucos pelo bumbo sintético, vozes e teclados em ritmo controlado. Run, Run, Run é pontuada por bumbo e discretas intervenções de teclados liquefeitos e percussão, preparando o encerramento com o bate-estaca de My Queen, cheio de intervenções de vocais desconexos e teclados cheios de efeitos, chegando na faixa título, mais convencional e noventista, com clima de final feliz.

O grande barato dos discos de The 2 Bears é que eles não parecem trabalhos paralelos ou menores, mas sim ocasiões em que seus autores se divertem a valer. Música dançante, urbana, eletrônica e com olhar além do alcance. Maravilha a ser conferida sem qualquer restrição.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.